Já falamos aqui sobre a decadência dos treinadores ingleses, que nunca foram campeões da Premier League. Antes da era PL, um técnico inglês levantou o troféu em 1992, mas poucos se lembram dele. Este é Howard Wilkinson.
Raízes de Howard Wilkinson
Nascido em 13 de novembro de 1943 na cidade de Sheffield, foi jogador profissional e iniciou sua carreira no clube local, o Sheffield United. Em seguida, foi para o rival Sheffield Wednesday em 1962.
Quatro anos depois, o ponta de Netherthorpe – subúrbio de Sheffield – fora contratado pelo Brighton & Hove Albion, quando disputou aproximadamente 130 jogos. Encerrou sua carreira no Boston United, que hoje está na sexta divisão, em 1976.
No Boston, Howard foi técnico e jogador em 1975 e se formou em Educação pela Sheffield Hallam University. Mas foi na temporada 1982-83 que finalmente foi treinador de um clube de futebol em período integral.
Assumiu o Notts County e terminou na décima quinta posição na primeira temporada da First Division (ou Primeira Divisão, nome do campeonato antes de se tornar a Premier League).
Na temporada seguinte, voltou a sua cidade natal para dirigir o Sheffield Wednesday, que disputaria a segunda divisão. Conseguiu o acesso com uma segunda posição, somando os mesmos pontos do primeiro colocado, o Chelsea.
Ficaria no Wednesday até 1988, sempre terminando em posições intermediárias na tabela. No seu auge por lá, alcançou o 5º lugar da liga em 1986.
Era no Leeds United
Foi em outubro de 1988 que assumiu um desacreditado Leeds United. Com um projeto de 10 anos, Wilkinson colocou disciplina num elenco que era considerado relaxado e logo ficou conhecido, então, como “Sargento Wilko“.
O time subiu da segunda para a primeira divisão em 89/90 e foi 4º já em 90/91. A melhor colocação de um time promovido na temporada anterior até então.
Seu apogeu e do time que comandou ficou para a última temporada da velha liga. O título veio após uma disputa ferrenha com o Manchester United de Sir Alex Ferguson até a penúltima rodada.
O título fora garantido em vitória sobre o Sheffield United no Bramall Lane por 3 a 2, enquanto, momentos depois, o Manchester United era derrotado pelo Liverpool em Anfield por 2 a 0.
Aquele time utilizava o característico 4-4-2 inglês, com dois meias bem abertos, dois centrais e mais dois atacantes.
O time base era composto por: John Lukic; Mel Sterland, Chris Fairclough, Chris Whyte e Tony Dorigo; David Batty, Gary MacAllister, Gordon Strachan e Gary Speed; Rod Wallace e Lee Chapman.
O elenco ainda contava com bons nomes que costumavam vir do banco, como John McClelland, Steve Hodge e Eric Cantona. O francês foi contratado em janeiro para suprir a ausência de Chapman, lesionado.
Cantona chegou e participou de 16 partidas até o final do campeonato, anotando 5 gols. Um deles contra o Chelsea, na reta final da campanha.
Wilkinson não propunha um estilo dos mais agradáveis. A imprensa da época já questionava, mas os resultados eram incontestáveis. O Leeds chegou a vencer o Chelsea por 3 a 0 e o Liverpool por 1 a 0 em Elland Road.

“Você quer vencer?” era a frase usada pelo treinador a seus jogadores e acabou virando título do documentário sobre a campanha campeã. O pragmatismo inglês puro e prático finalizava a era pré-Premier League.
A equipe teve uma série invicta de 16 jogos durante o torneio e somou 82 pontos com 22 vitórias em 42 partidas. Empatou 16 e perdeu apenas 4. Ainda teve o melhor ataque, com 74 gols marcados.
Apesar das críticas ao seu estilo, Wilkinson sempre procurou envolver primeiramente o lado humano do jogador para depois desenvolvê-lo como atleta.
Como dizem no mundo da bola, o time se fechou e a união levou ao título, que não acontecia desde 1974.
Campanhas pós-título
Depois de vencer a liga, o Leeds levou a Charity Shield (Supercopa da Inglaterra) ao bater o Liverpool por 4 a 3 em Wembley, mas terminou na amarga 17ª posição no campeonato. Certamente, uma das piores campanhas na temporada posterior, de um time campeão.
O elenco sofreu a baixa de Cantona, que foi se tornar ídolo nos Red Devils, empilhando três de quatro Premier League disputadas.
Nos anos seguintes, com a hegemonia do Manchester United, o Leeds conquistou honrosos quintos lugares em 93/94 e 94/95.
Mas perdeu a final da FA Cup de 1996 e, após início ruim na liga, Wilkinson deixou o clube em 9 de setembro daquele ano.
Nos anos em que comandou os Whites, transformou um clube que era considerado “podre”, devido à casos de violência de torcida e hooliganismo nos anos 70-80, em uma equipe forte e conhecida no país. O plano de 10 anos tinha atingido seu objetivo maior em apenas 4.
Houve interesse em seu trabalho por parte do Arsenal em 1995 visto que a diretoria buscava um substituto para George Graham. O escolhido acabou sendo Arsene Wenger. Então, Wilkinson foi convidado a assumir uma posição na Federação Inglesa como diretor técnico.
Depois de iniciar seu projeto de desenvolvimento das categorias de base e comandar a seleção sub-21 do país, voltou a treinar clubes em 2002. Passou pelo Sunderland e depois foi à China, no Shangai Shenhua, em 2004.
Encerrou sua carreira de treinador, mas continuou no futebol trabalhando como conselheiro técnico em diversos times. Exerceu a função no Notts Couty, onde havia começado sua jornada, Leicester e Sheffield Wednesday.