Ídolo do São Paulo, Hernanes diz que melhor ano da carreira foi 2017, revela desespero no 7 a 1 e afirma: “Merecia mais convocações da seleção brasileira“
Dida, Cafu, Kaká e Ronaldinho no Milan; Julio Cesar, Maicon, Lúcio e Adriano na Inter de Milão. Somente nas décadas mais recentes dos dois times, não faltam exemplos de brasileiros que jogaram por grandes clubes brasileiros como São Paulo, Cruzeiro, Grêmio e Flamengo e ainda brilharam na liga da Itália.
Por isso, é surpreendente que o Derby della Madonnina da semifinal da última Champions League tenha contado com apenas um representante do Brasil, o atacante Junior Messias. Para o ex-jogador Hernanes, que atuou na Itália entre 2010 e 2017 em Lazio, Inter e Juventus, a ausência de brasileiros no futebol do país tem a ver com “menos exportação de grandes jogadores brasileiros”.
O ídolo do São Paulo, no entanto, cravou um nome do atual elenco tricolor que cairia como uma luva na Serie A italiana. “Já falei isso para ele, ventilei o nome dele em alguns clubes“, acrescentou.
A revelação foi feita numa entrevista exclusiva que Hernanes concedeu diretamente da sua casa, em Turim, à PL Brasil. No mesmo papo, o ex-jogador também apontou:
- O momento mais especial nas três passagens pelo São Paulo;
- O jogador do atual elenco são-paulino que mais se parece com ele;
- As injustiças por não ter sido convocado para a seleção brasileira;
- Quais foram os maiores erros que levaram ao 7 a 1;
- Quem seria o treinador ideal para o novo ciclo do Brasil.
Em outra parte da entrevista, Hernanes também falou mais sobre futebol italiano, Champions League, carreira e seleção brasileira.
Confira, abaixo, a segunda parte da conversa:
PL Brasil: Tivemos uma semifinal da Champions entre Inter e Milan com apenas um brasileiro em campo. O Napoli, campeão italiano, tem só o zagueiro Juan Jesus no elenco. Qual é o motivo da escassez de jogadores do país nos principais times da Itália?
Hernanes: Acho que a Serie A não tem investido tão pesado e o futebol brasileiro vive um período de menos exportação de grandes jogadores. Essas duas coisas fizeram a gente sentir essa ausência de brasileiros nas principais equipes italianas.
Tem algum jogador brasileiro que você acha que combinaria com o estilo do futebol italiano?
Hernanes: Um que se daria muito bem é o Luan do São Paulo. Tem a parte que o italiano gosta, da marcação, mas quando joguei com ele também admirava muito a capacidade de construir o jogo e achar os passes, dar o ritmo do jogo. Era um cara que daria certo. Já falei isso para ele, ventilei o nome dele em alguns clubes. Se encaixaria em qualquer clube aqui, depende somente do interesse deles. Tem chance de jogar em alto nível na Itália.
Apesar de ter passado boa parte da carreira na Itália, você teve três passagens pelo São Paulo: foi bicampeão brasileiro (2007 e 2008), depois salvou do rebaixamento (2017) e voltou para ser campeão paulista (2021). Qual é a mais especial?
Hernanes: O momento mais especial foi em 2017, mesmo sendo a única passagem que eu não ganhei títulos. Meu irmão me falou uma coisa interessante: título é só o reconhecimento de algo importante que você realizou. Ali eu vivi o melhor momento da minha carreira, fisicamente, tecnicamente e mentalmente, e coroado com a permanência na primeira divisão e a lembrança do torcedor até hoje. Isso para mim é um título.
Tem alguém do atual elenco do São Paulo que te lembra o início da sua carreira?
Hernanes: O Rodrigo Nestor não lembra muito, mas gosto muito dele, aposto bastante. Tem também o Pablo Maia, que faz uns golaços de fora da área. Os chutes dele me lembram meu começo de carreira. Não tenho acompanhado muito os jogos, não sei dizer se estariam prontos para a Europa. O Nestor eu conheço dos treinos e de vez em quando vejo ele fazendo uns gols bonitos, que respaldam o que eu via quando treinávamos juntos.
O que falta para o São Paulo voltar a brigar por títulos?
Hernanes: Precisa melhorar a estrutura. Em 2005, era o clube referência do Brasil e parou no tempo. A matéria-prima é boa, pode ser competitiva, mas não está sendo no nível que precisa ser para jogar no São Paulo. Falta essa parte também.
Hernanes: Definitivamente Eternizado na História do São Paulo.#MomentoProfético 🔄#HernanesEternizado 🇾🇪 pic.twitter.com/64IC0h4vaZ
— São Paulo FC (@SaoPauloFC) July 17, 2021
Que tipo de reforço o clube precisa?
Hernanes: Como falei, a matéria-prima é muito boa. Mas acho que falta um cara mais cascudo. O time do São Paulo é muito jovem. Tem Calleri e Luciano, mas falta gente que já tenha ganhado. Quem ganha é quem sabe ganhar. Mais um cara do perfil do Rafinha, por exemplo. Quando fomos campeões paulistas, tinha o Miranda, gente que traz peso. Quando tem essa mescla, você consegue conquistar os títulos sonhados.
Seleção brasileira e 7 a 1: “Eu merecia mais convocações”
Foram 27 jogos em seis anos de seleção brasileira, com uma Copa do Mundo no currículo e dois gols marcados. Você acha que merecia ter ido para mais uma Copa?
Hernanes: Em 2010, poderia pelo menos ter sido convocado nos últimos jogos para ter um teste. Em 2018, pelo menos uma convocação eu merecia, porque estava no meu auge. Em seis meses ganhei vários prêmios individuais. Como o melhor jogador do Brasil para a mídia não teve uma convocação? (Hernanes foi eleito Craque da Galera pela CBF, e levou prêmios de melhor da posição no Brasileirão da CBF, Bola de Prata e Troféu Mesa Redonda). Mas o Tite não chegou nem a conversar comigo.
Você entrou em campo durante três jogos do Mundial de 2014, mas ficou no banco durante o 7 a 1. Como enxerga esse jogo quase 10 anos depois?
Hernanes: Não tem nenhuma explicação lógica. Tem os fatos como a ausência do Neymar e Thiago Silva, que eram peças fundamentais. Mesmo assim, isso não é motivo para desandar. São dias em que tudo dá errado. Ficamos na expectativa de que seria um grande jogo, tomamos um gol muito cedo e ficamos emocionalmente abalados. Foi um estado de paralisia. No estado de alerta, ou você foge, ou luta ou paralisa. Ficamos paralisados com o choque inicial. Mas também não teria feito nada de diferente (se estivesse em campo). Fiquei em estado de choque no banco, em campo seria a mesma coisa. O ambiente estava condicionado.
Você trabalhou como comentarista do SporTV na Copa do Mundo de 2022. O que deu errado com o Brasil?
Hernanes: Para mim, o time estava desequilibrado, iria cair mais cedo ou mais tarde. O Tite foi traído pelo bom momento dos jogadores do Brasil. Não tinha como deixar fora o Vinicius Junior e o Neymar, mas não dava para jogar os dois com o Lucas Paquetá. Casemiro ficou sozinho no meio-campo. Foi isso: o desequilíbrio criado pelo bom momento dos jogadores ofensivos. Uma autossabotagem.
Para você, quem deveria ser o treinador da Seleção no novo ciclo?
Hernanes: Continuo com a opinião de que o melhor treinador seria o Fernando Diniz. Por ser um cara jovem, inovador e bom em todos os sentidos, de entender o futebol e se comunicar. Sabe tratar os jogadores e é educado. Também colocaria o Dorival Júnior, que chegou fazendo um grande início no São Paulo. Mas para iniciar um novo ciclo, escolheria o Diniz.
Mas na época que você jogou com o Diniz no São Paulo, chegou a dizer que não concordava com ele dentro de campo. Diniz melhorou desde então?
Hernanes: Apesar de eu ser um jogador técnico, não gosto do estilo de jogo do Guardiola, do Diniz, do Maurizio Sarri aqui na Itália. É muito toque de bola. Porque eu sou um cara mais vertical e objetivo. Mas é uma questão particular minha. Quando estávamos no São Paulo, chegou um momento em que eu disse para ele: ‘Diniz, não quero nem saber o que eu penso sobre futebol. Vou me transformar num garoto, como se não tivesse feito nada até agora, e vou fazer tudo que você me disser para fazer’. E depois que eu tomei essa postura, foi o período que eu me dei melhor com ele. Por isso que falo que o estilo dele não combina comigo, devido à minha filosofia futebolística. Mas ele, com os jogadores certos, é um dos melhores que tem.