A cerimônia de premiação da Bola de Ouro será no próximo dia 30 de outubro. Entra ano, sai ano e torcedores apontam jogadores “injustiçados” no prêmio entregue pela revista francesa France Football.
Alguns nomes que, na opinião popular, deveriam ter vencido – ou ao menos terem sido ficado no pódio – já têm sido debatidos há anos. Os casos de Wesley Sneijder e Thierry Henry são os mais populares entre os “injustiçados”.
Confira sete casos de jogadores que foram injustiçados na premiação da Bola de Ouro ao longo dos anos.
Jari Litmanen – 1995
Vencedor: George Weah
Uma espécie de “herói cult” entre os amantes dos meias dos anos 1990, o finlandês Jari Litmanen foi o terceiro na Bola de Ouro de 1995, mas seu desempenho e sucesso coletivo indicavam outro resultado.
Em 1994/95, o camisa 10 do Ajax foi campeão de cinco dos seis títulos que disputou: do campeonato holandês, a Supercopa da Holanda, Champions League, o Intercontinental de Clubes (o antigo Mundial) e a Supercopa da Uefa. Só não venceu a Copa da Holanda.
Foi campeão holandês e da Champions de forma invicta, foi o artilheiro da equipe no continental e o artilheiro geral do Ajax na temporada, com 27 gols. O vencedor da Bola de Ouro, George Weah, foi o artilheiro da Champions com oito tentos, apenas dois a mais.
Na ocasião, Weah jogava pelo PSG e foi o artilheiro do clube com 18 gols. Ainda que estatísticas não sejam a única coisa a ser levada em consideração – ainda mais naquela época – o finlandês teve números superiores.
O PSG foi campeão da Copa da França e da Copa da Liga Francesa. O auge de Weah produziu um desempenho em campo de altíssimo nível, mas Litmanen não ficou atrás – ainda mais considerando que o nível dos dois campeonatos não era tão diferente e o finlandês também se provou em cenário internacional. Merecia a Bola de Ouro.
Zinedine Zidane – 2000
Vencedor: Figo
Em sua última temporada pela Juventus, Zidane ficou a um ponto de ser campeão italiano e, possivelmente, garantir mais uma Bola de Ouro. Mesmo sem o título da Serie A, no entanto, ela deveria ter ido ao francês.
O meia nunca foi um jogador de números absurdos, mas ainda assim participou de três gols em cinco jogos para levar a França ao título da Eurocopa de 2000. Também participou de cinco gols em seis jogos pela seleção durante a temporada.
O vencedor daquele ano foi Luís Figo, que ainda estava no Barcelona. O português, no entanto, foi eliminado nas semifinais da Euro por Zizou e, de quebra, não venceu nenhum título na temporada 1999/00.
Talvez o fato da Juventus não ter participado da Champions League, enquanto o Barcelona foi semifinalista (e Figo ter participado de 13 gols em 13 jogos da competição) atrapalhou o francês a não ser eleito o melhor do mundo por seus compatriotas da France Football.
Figo teve 14 gols e 16 assistências em 51 jogos contra cinco gols e três assistências em 41 partidas de Zidane, levando em conta números dos clubes. No entanto, o sucesso continental e o desempenho padrão de alta qualidade do jogador da Juventus o credenciava ao prêmio.
Roberto Carlos – 2002
Vencedor: Ronaldo
O lateral brasileiro poderia ter sido o terceiro defensor a erguer uma Bola de Ouro na história, depois de Franz Beckenbauer e Matthias Sammer, mas viu seu compatriota Ronaldo ser eleito em 2002.
Roberto foi campeão da Champions League e da Supercopa da Espanha na temporada 2001/02, além de ter conquistado o penta com a seleção brasileira na Copa do Mundo. Foram oito participações em gols em LaLiga e sete na Champions League (em 13 jogos).
Além dos ótimos números para um lateral, o brasileiro teve uma de suas melhores temporadas na carreira em termos de desempenho e títulos. Ver Ronaldo levar a Bola de Ouro tendo jogado apenas 16 jogos na temporada pela Inter de Milão é ultrajante.
Anos de Copa do Mundo são naturalmente diferentes na votação, uma vez que o torneio é levado muito em consideração nos critérios, e Ronaldo foi o artilheiro da competição – mesmo que o debate sobre ter sido o melhor jogador em termos de desempenho também seja válido. Ainda assim, 23 jogos na temporada é pouco para um vencedor da Bola de Ouro.
Thierry Henry – 2003
Vencedor: Pavel Nedved
Thierry Henry viveu, entre 2002 e 2004, possivelmente os dois melhores anos em toda a sua carreira. Na temporada 2002/03, foram 10 participações em gols na Champions League em 12 jogos, além de ainda imbatíveis 24 gols e 20 assistências em 37 rodadas da Premier League.
O vice do Arsenal no Campeonato Inglês ficou por apenas cinco pontos de diferença para o Manchester United, mas o francês ainda conquistou a FA Cup e foi eleito o melhor jogador da Premier League.
O vencedor da Bola de Ouro, Pavel Nedved, também teve uma temporada positiva nos números, mesmo que incomparável com Henry: 14 gols e 11 assistências em 46 jogos. Os títulos pesaram ao seu favor: foi campeão italiano e da Supercopa da Itália, além de ter sido finalista da Champions League.
No entanto, em termos de desempenho, Henry esteve discutivelmente acima de Nedved, além de ter sua performance refletida em números (dada a diferença de posições, claro). Na prática, teve “apenas” um título a mais. O francês merecia a Bola de Ouro de 2003 e até entraria no debate para o ano seguinte.
Deco – 2004
Vencedor: Ronaldinho Gaúcho
Deco esteve a uma vitória da temporada perfeita em 2003/04. Foi campeão em Portugal tanto na liga quanto na copa, ergueu a taça da Champions League com o Porto e performou em alto nível, incluindo números incríveis de assistências, mesmo para um meio-campista.
O que provavelmente freou sua chance de receber a Bola de Ouro foi o vice na Eurocopa, em que Portugal perdeu de maneira surpreendente para a Grécia. Ainda assim, foi eleito o jogador do ano pela Uefa.
O vencedor da Bola de Ouro naquele ano, Andriy Shevchenko, foi o campeão e o artilheiro da Serie A com o Milan, com 24 gols. Mesmo assim, teve exatamente os mesmos números que o meia em participações em gols na temporada: os dois jogaram 45 jogos e participaram de 33 gols.
Deco deu 29 assistências e marcou quatro vezes, enquanto Shevchenko tem os números inversos. Dado o sucesso superior do luso-brasileiro em termos continentais, números literalmente idênticos e desempenho discutivelmente superior individualmente, pode-se dizer que Deco foi injustiçado em 2004.
Sneijder – 2010
Vencedor: Lionel Messi
Se anos de Copa do Mundo causam polêmicas por quem está no pódio ou quem venceu, 2010 agravou essa discussão. A France Football não deixou Sneijder nem entre os três melhores do mundo naquele ano.
O meia venceu a tríplice coroa com a Inter de Milão: campeão da Serie A, da Coppa Itália e da Champions League, além de ter sido vice-campeão da Copa do Mundo com a seleção holandesa, feito que pode ser considerado surpreendente na ocasião.
Apesar de não ter números tão expressivos na temporada, ainda assim são próximos, por exemplo, aos de Nedved, que venceu sete anos antes. Participou de 12 gols em 26 jogos na Serie A e de nove em 11 jogos na Champions League. Além disso, foram cinco gols e uma assistência nos sete jogos da Copa do Mundo.
O pódio foi composto pelo trio do Barcelona: Messi, Iniesta e Xavi. O Barça foi campeão espanhol, do Mundial de Clubes e de outros dois “títulos de um jogo só”: as Supercopas da Espanha e da Uefa.
Os três finalistas têm argumentos para o título: Messi teve uma temporada absurda em termos de desempenho e números (59 participações em gols em 53 jogos), enquanto Iniesta e Xavi levaram clube e seleção às glórias máximas. No entanto, Sneijder, que teve possivelmente tanto sucesso quanto os outros meias, não ter ao menos sido indicado ao pódio é, de fato, uma injustiça.
Ribéry – 2013
Vencedor: Cristiano Ronaldo
Franck Ribéry foi possivelmente o jogador mais próximo de quebrar a hegemonia de Messi e Cristiano Ronaldo na Bola de Ouro, que, na época, durava cinco anos. E ele deveria ter feito isso.
O francês teve sua melhor temporada da carreira e foi campeão de tudo com o Bayern de Munique – outro candidato com uma tríplice coroa que ficou para trás. Além disso, teve números expressivos.
Foram 25 participações em gols em 27 jogos no título da Bundesliga, além de seis em 12 partidas antes do sucesso na Champions League. Ao todo, foram 45 jogos e 34 participações em gols na temporada.
Os números do vencedor, Cristiano Ronaldo, são assustadores e superiores aos de Ribery: 55 gols e 13 assistências em 55 jogos, além da artilharia da Champions League. Mas até mesmo Messi, que ficou em segundo, teve mais gols (60) e assistências (17) que o português na temporada.
No entanto, o pouco sucesso com títulos poderia puxá-lo para baixo. Cristiano foi vice em LaLiga e na Copa do Rei, além de ter ficado nas semifinais do torneio continental – foi campeão apenas da Supercopa da Espanha. Mesmo sem conseguir competir com os números absurdos da dupla, Ribéry fez por merecer o prêmio em 2013.
Cristiano Ronaldo – 2018
Vencedor: Luka Modric
Mais um caso de ano de Copa do Mundo que rendeu uma Bola de Ouro polêmica. Em 2018, Cristiano Ronaldo e Luka Modric, ambos pelo Real Madrid, foram campeões da Supercopa da Espanha e da Uefa, da Champions League e do Mundial de Clubes.
O português, no entanto, foi artilheiro da Champions League, com 15 gols em 13 jogos (além de três assistências) e participou de 31 gols em 27 rodadas disputadas em LaLiga, perdendo a artilharia para Messi (34).
O que alavancou Modric ao prêmio foi, evidentemente, seu desempenho na Copa do Mundo. Em uma campanha “arrastada”, com três prorrogações seguidas até a final, o croata marcou dois gols na fase de grupos e deu uma assistência nas quartas, mas perdeu a decisão para a França.
Cristiano marcou um hat-trick contra a Espanha na primeira rodada, o único gol da vitória contra Marrocos, no jogo seguinte, e viu Portugal ser eliminado nas oitavas para o Uruguai.
Ainda assim, a contribuição de 52 gols em 44 jogos, além de ter sido o artilheiro e principal jogador do campeão da Champions League credenciavam o camisa 7 ao prêmio em 2018.