Henderson só precisou ser ele mesmo para fazer história no Liverpool

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Imagine estar num elenco campeão inglês após 30 anos de jejum. Se isso já é especial, agora adicione outro fator: ser titular e protagonista deste time. Uma coisa que todo jogador sonha, sem dúvidas. Agora veja o pacote completo: fazer parte do 11 inicial como um dos pilares e, de quebra, ser o capitão de uma conquista mais do que especial. Este é Jordan Henderson, capitão e líder do Liverpool campeão da Premier League 2019/2020.

Em nove temporadas no Liverpool, Henderson quase deixou o clube, mas deu a volta por cima sob o comando de Jürgen Klopp e, com suas próprias características, liderou os Reds ao caminho dos títulos. Henderson não precisava ser o novo Steven Gerrard, porque isso não tinha como acontecer. No entanto, ao seu jeito, se tornou um dos maiores – e melhores – da história do clube inglês.

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Os percalços e a descabida comparação com Gerrard

Chegando do Sunderland, Henderson foi contratado em 2011, quando o técnico do Liverpool era Kenny Dalglish. Na época, custou 20 milhões e libras e, por conta de suas boas atuações no Black Cats, chegou com grande expectativa nos Reds. No entanto, com o passar das temporadas, não vinha correspondendo à altura e, com o clube já sendo comandado por Brendan Rodgers, foi colocado na lista de transferências pelo técnico.

Mas desistir não é uma palavra presente na vida de Jordan Henderson. O meio-campista inglês recusou a ida para o Fulham e queria mostrar que tinha espaço. Na temporada na qual o Liverpool foi vice da Premier League, ele já era um dos xodós da torcida. Mas foi nesse período que Henderson recebeu uma das piores notícias de sua vida.

Em 2013, Brian Henderson, pai do capitão do Liverpool, foi diagnosticado com câncer na garganta. Por conta disso, o contato entre os dois diminuiu bastante durante o tratamento. “Eu não via meu pai muitas vezes. Ele não deixava. Chegou a um ponto que ele não queria que o visse pelo jeito que ele estava”, disse o capitão dos Reds em entrevista à ESPN em 2018.

E com a saída de Steven Gerrard ao fim da época 2014/2015, Henderson ganhou outra missão: a de ser capitão do Liverpool. Além disso, jogaram no colo dele o rótulo de ‘novo Gerrard', o que acabou sendo prejudicial em muitos momentos, já que era – e é – impossível substituir um dos maiores dos Reds.

Gerrard Henderson Liverpool
Michael Regan/Getty Images

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Chegada de Klopp e a transformação num pilar do Liverpool

Na primeira temporada de Jürgen Klopp no Liverpool, Henderson, que já era o capitão do time, fez apenas 16 jogos como titular. O meio-campista foi alvo de algumas críticas, pois com o estilo intenso e rápido do técnico alemão, ele não se adaptou no início. Além disso, sofria com lesões, o que impedia uma sequência e uma adaptação mais rápida.

Na temporada 2016/2017, Henderson melhorou, mas uma grave lesão no pé tirou o capitão do Liverpool dos gramados por 129 dias, segundo o site transfermarkt. No entanto, na época seguinte, veio a tão esperada sequência e, consequentemente, a consolidação como titular.

Atuando como primeiro volante, Henderson foi peça chave para o Liverpool chegar à final da Champions League da temporada 2017/2018, dividindo o setor de meio-campo com James Milner e Ox Chamberlain (Giorginio Wijnaldum). Para 2018/2019, o capitão dos Reds começou no mesmo setor, mas as boas atuações de Fabinho transformaram – para melhor – a vida de Henderson.

Com Fabinho se destacando, Henderson foi reserva do Liverpool em algumas ocasiões. No entanto, antes da partida contra o Porto, válida pelo jogo de ida das quartas de final da Champions League, o capitão procurou Klopp para sugerir ao treinador que ele poderia jogar mais avançado, como um meio-campista pela direita.

Klopp atendeu ao pedido do capitão e Henderson justificou a sugestão. Depois que se firmou como um camisa ‘8', não saiu mais da posição – apenas quando não estava disponível, claro. Se tornou um meio-campista completo, que cumpre à risca o que é pedido por Klopp em todas as fases do jogo.

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Patricia de Melo Moreira/AFP via Getty Images-min

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Liderança elogiada

Além de se destacar tecnicamente, Henderson também é um grande líder dentro de campo. Liderança que é reconhecida pelos companheiros de equipe. Em entrevista à ESPN, o zagueiro van Dijk valorizou o carisma do meio-campista dos Reds com os outros e também se disse muito feliz em tê-lo como capitão.

“Como pessoa, Henderson é uma das mais fantásticas que você pode conhecer. Ele tem colocado o time antes de si há anos. Gosto que ele usa tudo o que passou para ajudar os outros a passar por situações parecidas. Qualquer jogador jovem que quiser um exemplo para seguir tem que ser ele. Ele é um líder fantástico, e estou muito feliz que ele seja meu capitão”, disse van Dijk.

Henderson van Dijk Liverpool
Paul Ellis/AFP via Getty Images

Seja atuando como primeiro volante – onde teve que jogar durante o período de lesão de Fabinho ou mais à frente, Henderson consegue ser um dos pilares deste Liverpool. Tem a energia necessária de um capitão, a intensidade de um meio-campista comandado por Klopp e também tem qualidade com a bola no pé. Por isso, mesmo não tendo números tão expressivos em gols e assistências, é um sério candidato ao prêmio de melhor jogador da temporada.

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Capitão para a eternidade

Ao levantar a taça de campeão da Champions League no ano passado, Henderson entrou para um seleto grupo de atletas do Liverpool. Além disso, entrou no hall da fama dos capitães que ergueram o troféu mais importante da Europa, ao lado do versátil Emlyn Hughes, do defensor Phil Thompson e dos meio-campistas Graeme Souness e Steven Gerrard.

No entanto, Henderson vai poder contar aos filhos, netos e bisnetos que foi o capitão do Liverpool na conquista inédita do clube na Premier League – e que tirou os Reds de um jejum de mais de 30 anos. O camisa 14 estará em livros, será temas em debates de crianças na escola e também dos mais idosos, que lembrarão a forma como Henderson honrou o Liverpool.

Henderson não precisou ser o novo Gerrard para fazer história. Ele foi apenas ele mesmo durante todos esses anos. A faixa de capitão que antes pesava uma tonelada, agora é motivo de orgulho e de símbolo. E essa relação entre Liverpool e Henderson ainda sugere que ótimos capítulos ainda estão por vir.

  • LIVERPOOL CAMPEÃO DA PREMIER LEAGUE 2019/2020

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Lucas Holanda
Lucas Holanda

Jornalista em formação, olindense e apaixonado por futebol.