Wendeson Wanderley Santos de Melo, mais conhecido como Dell, é a mais nova joia do Grupo City. Natural de Estância, Sergipe, o atacante de apenas 15 anos, apelidado também de “Haaland do Sertão“, soma números impressionantes nas categorias de base do Bahia e desperta interesse europeu.
Como se o jovem currículo esportivo já não fosse pouco, Dell ainda carrega consigo o peso de representar o sonho do pai — uma figura que faleceu tragicamente no ano anterior ao seu nascimento.
A PL Brasil foi atrás da história de Dell e conversou com familiares, treinadores e o próprio aspirante a profissional.
Por que ‘Haaland do Sertão?’
Com voto popular, Dell venceu em 2023, pelo segundo ano seguido, o prêmio de Melhor Atacante do Ano na “Base do Esquadrão”.
Números de Dell na carreira:
- 2022: 17 gols e 5 assistências em 17 jogos
- 2023: 40 gols e 7 assistências em 34 jogos
- Artilheiro do Campeonato Baiano sub-17, da Copa 2 de Julho e da Copa Metropolitana Sub-15 em 2023
- Eleito Melhor jogador do Baianão sub-15 em 2022
Artilheiro em três competições no ano passado, Dell faz jus ao apelido de “Haaland do Sertão” não apenas pelos números, mas também por seu estilo de jogo.
— Dell é um jogador com indicadores de desempenho importantes para um centroavante. Atleta que se posiciona muito bem dentro da área e arremata muito bem seja com os pés quanto com a cabeça. Boa finalização também de média distância. Atleta inteligente dentro do campo — diz João Paulo Di Fabio, treinador da categoria sub-17 do Bahia.
O atacante conta que se espelha no astro do Manchester City e também em Cristiano Ronaldo. Além disso, o sergipano sonha alto e mira jogar por City, Barcelona e Bayern de Munique.
Jogar futebol para realizar o sonho do pai, que Dell nunca conheceu
A motivação para ter o esforço diário de se tornar jogador de futebol e mirar o estrelato vem da maior inspiração possível para Dell.
Desde pequeno, era o sonho do pai que o irmão mais velho virasse jogador profissional. Dessa forma, Dell, que desde criança acompanhou a luta da família, colocou a carreira de atleta como objetivo para realizar o sonho da família que o irmão não pôde.
A sua história como jogador começa antes mesmo de ele nascer. Seu pai trabalhava como eletricista e tinha o sonho de ver seu irmão mais velho, Wendell Wanderley, de 26 anos, se tornar jogador profissional.
Ele chegou a passar pelas categorias de base de Atlético-MG, Bahia, Asa de Arapiraca, Confiança e Sergipe, mas precisou interromper sua carreira por uma fatalidade: o falecimento do pai em 2008, num trágico acidente de moto.
— Desde que perdemos o nosso pai, nossa vida mudou. As coisas foram apertando e tive que mudar minha trajetória. Tive que começar a trabalhar para ajudar minha mãe e a vida foi seguindo, um dia após o outro. Aos 18 anos, tive que servir o quartel, foi a primeira oportunidade que tive de ganhar um salário e hoje sou entregador — conta Wendell, o irmão mais velho.
Dell nasceu em 2009 — portanto, não conheceu seu pai. Mas sempre teve o irmão mais velho como referência numa casa com mais cinco irmãs e a mãe, que é pensionista.
Ajuda essencial de ex-jogador
Os primeiros passos mais sérios no futebol foram aos 13 anos. Quando ele tinha essa idade, Rafael Fefo, ex-jogador do Corinthians, viu o menino jogando em Sergipe e tentou levá-lo ao Fluminense. Ele passou 10 dias em Xerém, no Rio de Janeiro, mas não foi aprovado. Depois de retornar à Estância, Fefo viu uma oportunidade de levar o adolescente para o Bahia.
— Gostaram dele lá no Bahia. Minha mãe deu um jeito de ele ficar na casa de uma amiga, porque não podia alojar devido à pouca idade. Quando completou 14 anos, o supervisor da base conseguiu alojar ele — relembra Fefo.
Clubes europeus estão de olho — e ascendência pode ajudar
A partir do alojamento, Dell cresceu e se tornou uma das referências dos times de base do Tricolor de Aço. Com pouca idade e muitos gols, a joia já desperta interesse de vários clubes da Europa.
Descendente de holandês, o staff do atleta tenta um pedido de cidadania para facilitar uma possível negociação ao Velho Continente. Ainda assim, o jogador pertence ao Grupo City e a prioridade é do conglomerado que conta com o Manchester City como time matriz.
João Paulo Di Fabio contou como o clube baiano faz para blindar a jovem promessa em meio ao interesse de clubes europeus para que ele foque no seu desempenho dentro de campo.
— Tudo isso passa pela conversa, confiança e empatia entre o atleta, a comissão técnica e a instituição, que no caso é o clube. A partir do momento em que o atleta sente-se acolhido dentro do clube, identifica que está se desenvolvendo como atleta e como indivíduo e percebe um plano de carreira onde ele pode realizar seu sonho tudo fica mais fácil de ser conduzido — relata Di Fabio.
Dell não participou da Copinha neste ano, pois o treinador optou por levar jogadores mais velhos para o torneio. O Bahia, inclusive, não teve um bom desempenho na competição — eliminado na fase de grupos com apenas dois pontos.
Ainda que seja cedo para pensar na Copa São Paulo de 2025, o atacante tem atributos para qualificar a equipe do Grupo City no Campeonato Brasileiro da categoria neste ano.
Grupo City e a transformação da base do Bahia
Com a chegada do Grupo City, a base do Bahia passa por um processo de transformação, sob a tutela de Marcelo Teixeira. Ele veio do Athletico-PR para assumir o cargo de diretor de futebol das categorias de base — antes, foi um dos responsáveis pela revolução da base do Fluminense.
O projeto dos novos donos do time visa aumentar e qualificar mais o staff de suporte para que todos os jogadores possam se desenvolver da melhor forma.
No Bahia, há um plano individualizado para Dell, assim como para cada atleta das categorias de base. É um trabalho de formação que engloba os aspectos mental, social, físico, tático e técnico.
— A nossa função aqui na base do Bahia é identificar características importantes no atleta, e investir tempo e trabalho em potencializar os indicadores positivos de desempenho e corrigir os menos desenvolvidos. Mas isso é com todos os atletas que estão conosco. Aqui no Bahia todos os jogadores recebem atenção especial de uma equipe multidisciplinar — conclui o treinador do Bahia sub-17.
“Jogando pelo sonho”
Sair de casa aos 13 anos e ir para outro estado em busca de um sonho é a realidade de muitos jovens que querem se tornar jogadores profissionais. No caso de Dell, crescer profissionalmente é mais que ganhar muito dinheiro e ser famoso, é um propósito de seu falecido pai e a transformação de vida de sua família, que vive a mais de 200 km de distância do jovem, no Sergipe.
Querer jogar nos melhores times do mundo, ganhar títulos e poder ajudar outras pessoas. Essa é a importância do futebol para o jovem, ouviu a PL Brasil.