O brilhante desempenho de Erling Haaland e Mohamed Salah no início da temporada ilustra como o problema com calendário é o maior erro do futebol de hoje. Nas três primeiras partidas da Premier League desta temporada, Haaland marcou sete vezes pelo Manchester City e Salah contribuiu com três gols e três assistências pelo Liverpool.
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Nenhum dos dois participou de grandes torneios de pós-temporada e ambos foram destacados como estudos de caso pelo presidente-executivo da Associação de Jogadores de Futebol Profissional (PFA), Maheta Molango.
— Há uma grande diferença entre jogadores que têm férias ou não. Haaland voltou a ser a máquina que era quando se juntou a nós na Inglaterra, semelhante a Mo Salah, essa é a melhor versão de Mo — disse Molango à “BBC”.
Exemplos no Manchester City
Diferente de Haaland, Savinho precisou disputar uma competição continental com sua seleção no final da temporada passada e teve um curto período de férias. Bastaram três partidas para ele se lesionar.
A preocupação aumenta ainda mais quando se vê o calendário do Manchester City. Haaland e companhia entrarão numa maratona insana de quatro jogos em 11 dias, com compromissos pela Premier League, Champions League e Copa da Liga Inglesa.
— Teremos apenas um dia de folga para o jogo da Copa da Liga Inglesa. Jogamos contra o Arsenal, descansamos um dia e depois temos o Watford. E se não formos eliminados de nenhuma competição, jogaremos a cada três dias por meses. Tem sido absolutamente absurdo. Na Champions League, se você não se classifica para as oitavas de final, ainda tem que jogar mais duas partidas — desabafou Bernardo Silva ao português “Record”.
Como garantir o bem-estar dos jogadores
A Fifpro (Federação Internacional de Profissionais do Futebol) elaborou a pesquisa mais recente sobre as preocupações com o calendário lotado. O relatório conta com 59 páginas e diz que nenhum jogador inglês jogou mais minutos aos 21 anos do que Jude Bellingham, do Real Madrid (mais de 19 mil minutos).
O estudo projeta que Bellingham jogue 1.224 partidas ao longo de sua carreira, superando as 1.002 partidas de Frank Lampard, as 895 de Wayne Rooney e as 839 de David Beckham.
Segundo Molango, a Fifpro definiu algumas diretrizes para garantir o bem-estar dos jogadores. São elas:
- No máximo entre 50 e 60 partidas por temporada, dependendo da idade do jogador.
- Um máximo de cinco ou seis semanas de partidas consecutivas, que são definidas como dois ou mais jogos em uma única semana.
- Um período mínimo obrigatório de descanso fora de temporada de três semanas.
— Precisamos proteger os jogadores deles mesmos. Eles amam jogar, porque estão comprometidos em jogar e não querem perder sua vaga de titular. Para nós é alarmante quando você ouve Ancelotti dizendo “talvez eu precise dar um tempo para os jogadores durante a temporada”. Eu, como torcedor, pago 100% do ingresso da temporada. Posso acabar em uma situação em que não vejo 100% do show, vejo uma fração dele — acrescentou Molango.
Preocupação para Manchester City e Real Madrid
Na temporada passada, Phil Foden, do Manchester City jogou 72 partidas e Federico Valverde, do Real Madrid, esteve em campo 71 vezes. Ambos contando clube e seleção.
A projeção é de que o número de partidas cresça para 77 no caso de Foden e 79 para Valverde nesta temporada, com Champions League e Mundial de Clubes em suas novas versões estendidas. Em 2025/26, eles podem chegar a 83 e 82 jogos, respectivamente, com uma Copa do Mundo maior em 2026.
O meio-campista do Bayer Leverkusen Florian Wirtz jogou 11.501 minutos até os 21 anos, em comparação com os 4.175 jogados pelo craque Michael Ballack até a mesma idade.
Vinicius Junior, do Real Madrid e do Brasil, jogou 369 partidas até os 24 anos, em comparação com 163 partidas disputadas por Ronaldinho Gaúcho na mesma idade.
10 jogadores com mais carga de jogos
- Julián Álvarez (Atlético de Madrid) – 83
- Phil Foden (Manchester City e Luis Díaz (Liverpool) – 77
- Rui Patrício (Atalanta) – 76
- Virgil van Dijk (Liverpool) Nikola Milenkovic (Nottingham Forest), Ollie Watkins (Aston Villa), António Silva (Benfica), Rúben Dias (Manchester City) – 74
- Darwin Nunez, Cody Gakpo (Liverpool), Saud Abdulhamid (Roma), Kyle Walker (Manchester City), Aaron Ramsdale (Arsenal) – 73
Enquanto isso, o zagueiro do Tottenham e da Argentina, Cristian Romero, lidera a lista de jogadores com mais viagens internacionais no futebol mundial, registrando 163 mil km em suas viagens na temporada passada. Nove dos 10 principais jogadores listados eram sul-americanos.
Jogadores de futebol não têm folga obrigatória
Na pesquisa, foi descoberto que, incluindo jogos, treinamentos, viagens e outras tarefas do clube, os jogadores estão tendo pelo menos um dia de folga, exigido internacionalmente.
Alguns jogadores passaram 88% dos dias no local de trabalho. No entanto, os dias dos atletas no campo de treino são mais curtos do que em outras profissões e muitos só estarão no elenco para os jogos, sem atuar de fato.
Os resultados adicionais do relatório dos 1.500 entrevistados foram:
- 54% dos jogadores têm uma “carga de trabalho alta ou excessiva” – jogando mais de 40 partidas pelo clube e pela seleção em uma única temporada.
- Um em cada seis (17%) fez mais de 55 jogos.
- Quase um terço dos jogadores (30%) suportou sequências de pelo menos seis semanas consecutivas de jogos consecutivos (dois jogos ou mais por semana).
- 85% dos jogadores acreditam que não devem jogar mais de seis partidas consecutivas, com mais da metade sugerindo que três partidas consecutivas deve ser o limite máximo.
- 88% dos treinadores de alto desempenho sugerem que 55 partidas deve ser o limite máximo de jogos disputados em uma única temporada.
- Quase metade dos jogadores entrevistados (54%) disseram que já jogaram lesionados.
- 82% dos treinadores entrevistados admitiram ter escalado atletas que sabiam que precisavam de descanso, devido à necessidade de alcançar um resultado.
Ações contra a Fifa
Há duas reivindicações contra a Fifa, incluindo a reivindicação conjunta dos sindicatos de jogadores ingleses, franceses e italianos contra problemas de carga de trabalho no calendário do futebol, principalmente após o surgimento de um novo formato do Mundial de Clubes, que valerá a partir de 2025.
No entanto, um relatório do Observatório de Futebol do CIES sobre o calendário de jogos e a carga horária do futebol constatou que apenas 5% de todos os clubes jogaram 60 ou mais partidas em uma temporada, sem incluir amistosos, nos últimos 12 anos.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, defendeu sua organização, dizendo que ela organiza “cerca de 1% dos jogos dos principais clubes do mundo” e gera receitas para desenvolver o futebol “em todo o mundo”.
A Fifa também acusou algumas ligas europeias de “hipocrisia” devido às suas partidas de pré-temporada. A organização não planeja mudar seus planos para a Mundial de Clubes e escreveu à Fifpro em maio deste ano dizendo que estava agindo no “melhor interesse do futebol mundial”.