Inglaterra e Irlanda se enfrentam neste sábado (7), às 13h (horário de Brasília), no Aviva Stadium, em jogo válido pela primeira rodada da fase de grupos da Liga das Nações. Pelo menos dois jogadores ingleses podem esperar uma recepção pouco amigável em Dublin: Declan Rice e Jack Grealish.
Os craques de Arsenal e Manchester City chegaram a representar a Irlanda, mas abdicaram de vestir a camisa da seleção para defender a Inglaterra.
Depois de representar a Irlanda desde a categoria sub-17, Grealish estava prestes a ganhar sua primeira convocação para a seleção do país aos 19 anos para dois jogos no Aviva Stadium. O primeiro seria um amistoso contra a Inglaterra, seguido por uma eliminatória da Eurocopa contra a Escócia.
Porém, momentos antes do então técnico técnico da Irlanda, Martin O’Neill, anunciar a lista dos convocados, o treinador foi visto falando agitadamente no telefone. Pouco tempo depois, vazou a notícia de que outra convocação estava sendo impressa, sem Grealish.
— Tivemos que fazer tudo o que podíamos para impedir Jack de atuar naqueles jogos porque isso significaria perdê-lo para sempre. Ele era talentoso demais para desistirmos dele. Todos podem ver agora por que tivemos que agir — disse um ex-membro da seleção da Inglaterra ao “The Athletic”.
Quando ganhou o prêmio de jogador do ano da Irlanda sub-21 em 2016, Grealish tinha 19 anos e disse: “Espero que no ano que vem eu esteja de volta com a camisa verde“. Esse acabou sendo seu discurso de despedida da seleção irlandesa.
Declan Rice, assim como Grealish, também estava enraizado no elenco irlandês, com três convocações para a seleção principal, antes que a federação inglesa tentasse persuadi-lo a mudar de nacionalidade.
Há um imagem de Rice aos 19 anos se virando para os torcedores irlandeses no Tallaght Stadium, em Dublin, após um gol da seleção sub-21 da Irlanda, e beijando o escudo em sua camisa. Quando fez sua estreia no elenco principal contra a Turquia, ele falou sobre ter lágrimas nos olhos enquanto o hino nacional era tocado. O jogador disse ainda que era o momento de maior orgulho de sua vida.
Seis meses depois, Rice pediu para ser deixado de fora de uma partida da Liga das Nações no País de Gales, após a Inglaterra ter chegado às semifinais da Copa do Mundo de 2018, porque a Federação Inglesa (FA) começou a observá-lo.
O anúncio de Rice de que estava abandonando a Irlanda veio nove meses depois, aos 20 anos, descrevendo-se como um inglês orgulhoso, mas explicando que foi uma das decisões mais difíceis que já teve que tomar.
Origens irlandesas de Grealish e Rice
Grealish vem de Solihull, nos arredores de Birmingham, com pais nascidos na Inglaterra, Kevin e Karen, e um tataravô, William Garraty, que venceu a Copa da Inglaterra com o Aston Villa em 1905 e foi convocado pela Inglaterra. Uma de suas avós era de Dublin.
Rice foi criado em Richmond, sudoeste de Londres, mas se qualificou para a Irlanda porque seus avós, Margaret e Jack, eram dos arredores de Cork (cidade da costa sudoeste da Irlanda). Em 2017, o volante recebeu o prêmio de jogador do ano da seleção irlandesa sub-17.
Em duas de suas três convocações para a seleção principal, contra a Turquia e os EUA, ele foi o melhor em campo. Na terceira, ele se manteve firme contra uma seleção francesa que venceu a Copa do Mundo seis semanas depois.
Quando lhe perguntaram sobre a especulação de que ele poderia seguir para a seleção da Inglaterra, ele descreveu isso como um “monte de m****“.
Como Grealish e Rice foram parar na seleção da Inglaterra
Em ambos os casos, foi Dan Ashworth, então diretor da FA (hoje, diretor do Manchester United), que deu o pontapé inicial ao contatar os representantes de Grealish e Rice.
Gareth Southgate, então técnico da seleção inglesa sub-21, fez uma ligação confidencial para Grealish, enquanto seus assistentes conversavam com a família de ambos. Kenny Swain foi o assistente que teve papel fundamental na transação. Ele treinou o sub-16 da Inglaterra e era considerado um dos melhores caçadores de talentos do ramo.
— Nossa equipe de recrutamento de talentos na FA identificou Jack aos 15 anos, mas ele escolheu ir para a Irlanda porque eles continuaram dando a ele oportunidades em faixas etárias mais velhas. Isso sempre foi um obstáculo para nós, mas você tem que ser paciente. Era inevitável que eles (a FA) tentassem pegá-lo porque ele estava jogando muito no Villa — disse Swain ao “The Athletic”.
Uma reunião foi marcada entre Grealish e Roy Hodgson, então técnico da Inglaterra, no início da temporada de 2015/16 para falar sobre oportunidades na seleção. O treinador disse que não poderia garantir vaga a ele como a nenhum jogador, mas que os ingleses sempre quiseram tê-lo visando o futuro da equipe.
O atacante gostou do que ouviu e ficou um ano sem jogar por seleções para pensar na ideia. Ele foi buscar o conselho de Tim Sherwood, então treinador do Villa. Em 2015, ele decidiu migrar para a seleção inglesa.
Rice, assim como Grealish, teve que enfrentar acusações de que tenha trocado de seleção por razões comerciais, porque jogar pela Inglaterra poderia atrair mais patrocinadores. Mick McCarthy, que havia substituído O’Neill como técnico da Irlanda, queria o volante como futuro capitão da seleção irlandesa e construir todo o time em torno dele.
Mick McCarthy e seu assistente, Robbie Keane, foram ver Rice e seu pai, Sean, para tentar convencer o jogador a permanecer na Irlanda, porém era uma causa perdida. Pouco tempo depois, o volante ligou para o treinador para dar a notícia de que migraria para a Inglaterra.
Tensão para Irlanda x Inglaterra
Callum Robinson, do Cardiff City, da Championship (segunda divisão inglesa), foi companheiro de Grealish na base da Irlanda e no início da carreira de ambos no Aston Villa. Ele comentou sobre o reencontro com o atacante do Manchester City.
— Acredito que ele deva se preparar para um pouco de insultos (dos torcedores), mas isso faz parte do jogo. Ele já tem idade suficiente e sendo um jogador experiente agora, esse tipo de coisa vai acontecer. Acho que ele já é vaiado em qualquer lugar de qualquer maneira, até com a Inglaterra, eu ficaria surpreso se ele não fosse agora.
