O gramado sintético é permitido nos estádios da Premier League? Veja as regras na Inglaterra

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O uso de gramado sintético nos estádios de futebol do Brasil nos últimos anos. A CBF não restringe o uso desse recurso nos jogos de suas competições. Mas e a Premier League? Existe alguma regra sobre esse tipo de gramado nos estádios da Inglaterra?

Os times da Premier League podem usar grama sintética?

A grama sintética é proibida no futebol profissional inglês desde 1995, três anos depois da criação da Premier League.

Divisões profissionais da Inglaterra:

  1. Premier League
  2. Championship
  3. League One
  4. League Two

Dessa forma, as equipes da primeira à quarta divisão só podem utilizar grama natural em seus estádios. No manual de regras da EFL (English Football League, a responsável pela organização das divisões inferiores do Campeonato Inglês e da Copa da Liga) há, inclusive, um aviso:

Os times da quinta divisão que conseguirem o acesso para a quarta precisam, obrigatoriamente, providenciar a troca do gramado sintético para disputar o campeonato.

A Copa da Liga Inglesa, gerida pela mesma entidade que administra as três divisões abaixo da Premier League, também não aceita gramados desse modelo na competição.

A Federação de Futebol da Inglaterra (FA), por sua vez, permite que a grama artificial seja utilizada em suas competições, incluindo a Copa da Inglaterra, a FA Cup. Até 2014, a entidade proibia o uso após os jogos da primeira rodada. Desde então, ela é liberada em todas as fases do torneio.

Além da Copa da Inglaterra, estão liberadas para utilizar as equipes que participam da FA Trophy, FA Vase, FA Youth Cup, FA Sunday Cup e FA County Youth Cup — todas competições de times de divisões inferiores, semiprofissionais, amadores ou de base.

Todos os campeonatos femininos geridos pela FA também entram nessa conta, incluindo a Women’s Super League (WSL) (a “Premier League” das mulheres), a Women’s Championship, a Copa da Liga feminina e a Copa da Inglaterra feminina.

NívelGrama artificial
1 a 4ª divisãoProfissionalProibida
5 a 21ª divisãoSemiprofissional e amadorPermitida
EFL Cup (Copa da Liga)ProfissionalProibida
FA CupTodosPermitida
Competições de baseFutebol de basePermitida
FemininasTodosPermitida

Apesar da liberação da FA, não é qualquer tipo de grama sintética que pode ser utilizada

A entidade possui um guia com especificações sobre esse recurso, incluindo uma série de perguntas para orientar os gestores dos clubes a entenderem se esse é o tipo de grama ideal para o objetivo da equipe.

O guia também traz os requisitos obrigatórios para esse tipo de campo, que envolvem o tipo de material da grama e aprovação em testes de qualidade instituídos pela Fifa.

— Você é capaz de se comprometer com os requisitos de manutenção da superfície? A manutenção da superfície de grama artificial é de vital importância para que o campo mantenha um desempenho aceitável e seja duradouro. É, portanto, fundamental que este aspecto vital da gestão do campo não seja negligenciado.

Trecho da 3ª edição do “Guia FA para campos de grama artificial”

Por que a grama sintética foi proibida nas primeiras divisões inglesas masculinas?

A ascensão da Premier League como o melhor campeonato de futebol do mundo também passa pela qualidade dos gramados. Antes da modernização do torneio, os jogadores sofriam com campos que tinham muito mais lama do que grama, já que chove bastante na Inglaterra.

A grama sintética começou a ser utilizada no país como uma forma de amenizar essa situação. O primeiro clube a aderir ao campo artificial foi o Queens Park Rangers (atualmente na Championship), em 1981. Mesmo com uma superfície mais dura, o time começou a vencer e outros clubes entraram na “onda”.

Porém, a “festa” do gramado sintético durou pouco na Inglaterra. Pressionada sob alegações de que os campos artificiais davam uma vantagem injusta aos times da casa, a FA decidiu bani-los em 1995.

Os times ingleses que utilizaram grama sintética antes do banimento

  • QPR (1981-1988)
  • Luton (1985-1991)
  • Oldham (1986-1991)
  • Preston (1986-1994)

Há ainda a alegação de que a qualidade do jogo se torna inferior e que a grama sintética poderia potencializar o aumento de lesões — ainda que não haja consenso na comunidade médica sobre esse tópico. A Uefa, por exemplo, permite que os jogos da Liga dos Campeões sejam disputados em campos artificiais.

No início dos anos 2010, times da terceira e quarta divisão se mobilizaram para solicitar à EFL a liberação dos gramados sintéticos. Os representantes argumentavam que com o avanço da tecnologia, não havia mais os mesmos perigos para os jogadores como na grama de 30 anos antes.

Além disso, a economia com o corte de gastos da manutenção da grama natural seria significativa para as equipes.

A entidade chegou a realizar uma consulta pública sobre o caso, mas a proibição se manteve no regulamento.

grama artificial
Imagem de gramado artificial (Foto: Icon Sport)

A vida de quem joga em gramado sintético na Inglaterra

Em entrevista exclusiva à PL Brasil, o brasileiro Lucas Covolan, do Maidstone United, falou sobre a experiência de atuar em gramados sintéticos na Inglaterra. O goleiro, que atualmente joga na sexta divisão inglesa, se destacou na vitória contra o Ipswich Town, garantindo a classificação para as oitavas de final da FA Cup.

Ele contou que o gramado do Gallagher Stadium, casa do Maidstone, é sintético e que isso não é necessariamente ruim. A preferência do brasileiro é por um gramado de qualidade, independente de ser natural ou não.

— O gramado do nosso estádio é sintético. Tem o sintético bom e o sintético ruim. Eu não tenho tanta preferência como alguns jogadores. Entre jogar num gramado sintético em que você sabe que a bola vai rolar sempre sem buraco ou jogar num campo cheio de barro e buraco, eu prefiro o sintético. Num sintético bom, não como o de fut7.

O goleiro brasileiro também ressalta que o principal motivo para a liberação do gramado sintético é o aspecto financeiro, já que os clubes menores não conseguem custear a manutenção de um campo natural. E, na divisão que ele joga, isso faz diferença.

— O gramado sintético gera menos custo para o clube. Não são todos os clubes que têm condições de manter os cuidados com a grama. Aqui não tem tanto sol e os clubes mais ricos compram antenas grandes para jogar luz. Por isso, da quinta divisão para baixo, eles deixam utilizar a grama sintética.

Maria Tereza Santos
Maria Tereza Santos

Jornalista pela PUC-SP. Na PL Brasil, escrevo sobre futebol inglês masculino E feminino, filmes, saúde e outras aleatoriedades. Também gravo vídeos pras redes e escolhi o lado azul de Merseyside. Antes, fui editora na ESPN e repórter na Veja Saúde, Folha de S.Paulo e Superesportes.