Uma carreira irrepreensível. Heurelho da Silva Gomes passou por Cruzeiro, PSV, Tottenham, Hoffenheim e Watford. Ele é daqueles nomes que talvez muitos não tenham noção de seu tamanho e importância no esporte.
Gomes é gigante. O goleiro nascido no município de João Pinheiro, e que passou a infância em Três Marias, ambas cidades do interior do estado de Minas Gerais é um cara discreto, trabalhador, e acima de tudo, um vencedor.
Com 38 anos, Gomes concedeu entrevista exclusiva para a PL Brasil, o goleiro falou sobre o seu futuro, passado, momento positivos dos goleiros brasileiros na Inglaterra, e muito mais.
PL Brasil entrevista Gomes, ídolo do Watford
PL Brasil – Você está de férias após uma boa temporada. Já decidiu se vai mesmo se aposentar?
Gomes – Férias é um momento de pensar e repensar tudo o que foi feito na temporada passada, que foi muito boa para o clube a para mim. Não joguei tanto como em outras, mas fui titular nas copas, fomos até a final da Copa da Inglaterra, e com isso o Watford fez uma proposta para que eu renove por mais uma temporada, e em breve eu vou decidir se seguirei jogando ou não.
PL Brasil – Você jogou em países com escolas de futebol distintas, Brasil, Holanda, Alemanha e Inglaterra. Falando apenas no trabalho do goleiro, viu muitas diferenças entre elas? Em qual clube você encontrou uma melhor metodologia de trabalho para um goleiro?
Gomes – São realmente escolas diferentes, talvez os métodos mais similares são entre Brasil e Holanda, por isso digo que foi no PSV onde eu me identifiquei mais com o trabalho.
Destaco também o que é feito no Watford, onde tive um treinador de goleiros italiano, que eu gostei muito, que tem métodos parecidos com os que são aplicados no Brasil, e agora um espanhol, que também trabalhou em cima daquilo que eu já trago comigo, com minha técnica de ser goleiro brasileiro.
Claro que por mais que algumas coisas lembrem a escola brasileira, cada um tem sua maneira de trabalhar. Por exemplo, são poucos as atividades específicas, aquelas quem envolvem só os goleiros, como temos no Brasil.
Na Europa estamos muito mais inseridos nas atividades com o time todo. Esse foi um ponto que senti muita diferença em relação aquilo que eu já fazia nos clubes brasileiros.
PL Brasil – Qual estádio da Inglaterra você considera mais difícil de jogar como visitante?
Gomes – Pela atmosfera que encontramos em cada jogo, pela dificuldade que isso proporciona ao adversário, o mais difícil é Anfield, o estádio do Liverpool.
A torcida faz ‘uma fumaça’ danada, e isso faz, na minha opinião, ser o mais difícil e também o melhor para se jogar. Fica até um pouco contraditória essa afirmação, mas é isso, difícil e prazeroso de se jogar lá. Talvez o estádio novo do Tottehham possa ser assim, virar um caldeirão como Anfield é.
PL Brasil – Como você avalia a sua passagem pelo Tottenham?
Gomes – Eu creio que no final as coisas poderiam ter acontecido de uma forma melhor. Fiquei quase dois anos sem jogar, e posso dizer que foi um tempo bastante difícil, mas também de muito aprendizado e crescimento.
O Tottenham foi um clube muito importante na minha carreira, na minha vida. É um clube fantástico, com ambição, a prova disso foi ter chegado à final da Champions League. Tem um estádio novo, em 2012, inauguraram um centro de treinamento que custou 40 milhões de libras. Então o Tottenham é um clube de tradição e ambição.
Num aspecto geral creio que a minha passagem lá poderia ter sido um pouco melhor, mas eu estou satisfeito com o que vivi lá, com o que eu fiz enquanto pude estar jogando.
PL Brasil – Depois de quase 150 jogos com o Tottenham e uma curta passagem pelo futebol alemão, você foi para o Watford onde fez história. Como foi para você ir prum clube de menor expressão na Inglaterra, esperava tanta identificação e sucesso?
Gomes – Eu digo que minha ida pro Watford foi algo de Deus mesmo. Já estava com a minha passagem de volta para o Brasil marcada, praticamente todas as minhas coisas já tinham sido despachadas em contêineres, já tinha até entregado a casa que eu e minha família morávamos.
Mas exatamente um dia antes da data que seria minha volta, apareceu a oportunidade de ir para o Watford. Aí tudo foi se acertando, já que não precisei mudar muita coisa da minha rotina, pois Watford é na região metropolitana de Londres, então abracei um projeto que eu não estava acostumado, que foi tirar um clube da segunda divisão, e tudo aconteceu, já estamos há quatro anos na Premier League… foi coisa de Deus.
A identificação minha aqui foi devido ao nosso trabalho, meu com todos do clube, e isso fez a gente conquistar muitas coisas. O Watford é um clube consolidado na Premier League, e segue em constante crescimento.
O trabalho aqui é feito com muita seriedade, e isso é gratificante. Eu acreditei no clube independente de estar na segunda divisão, e a torcida reconhece isso. Sempre tentei dar o meu melhor, passar a minha experiência dentro e fora de campo.
PL Brasil – Hoje temos Alisson e Ederson fazendo muito sucesso na Premier League, em uma porta que foi aberta por você. O inglês de modo geral definitivamente confia em goleiros brasileiros?
Gomes – Agora mais do que nunca. Tenho certeza que o Alisson e o Ederson vieram para consolidar isso para o inglês. Apesar de eu estar há 11 anos já, apenas tivemos passagens rápidas de outros goleiros brasileiros por equipes da Premier League, como foi os caso do Doni e Diego Cavallieri no Liverpool, do Júlio César no Queens Park Rangers.
Mas a qualidade do Alisson e do Ederson fizeram com que o inglês não tivesse mais dúvidas quanto a capacidade dos goleiros brasileiros. Se antes a prioridade deles era por jogadores de linha, atacantes principalmente, agora tenho certeza que, se for o caso, vão contratar goleiros vindos do Brasil sem nenhum receio.
PL Brasil – A Premier League sempre teve atacantes muito bons, quais foram os 5 mais difíceis que você enfrentou?
Gomes – Cristiano Ronaldo, Agüero, Drogba, Henry e Hazard. Esse são os meus cinco, mas poderia citar outros nomes que tive o prazer de enfrentar na Premier League.
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PL Brasil – Qual foi o melhor técnico que você trabalhou, e aquele que você gostaria de ter trabalhado na Inglaterra?
Gomes – Posso citar dois treinadores que eu trabalhei, que são o Marco Silva, atualmente no Everton, que foi meu técnico no Watford, e também o Javi Gracia, que é o nosso atual.
Quanto ao que eu gostaria de ter trabalhado tenho que citar o Pep Guardiola, que é um cara extraclasse. Acredito que todo jogador gostaria de trabalhar com ele, pois é um cara que tem como filosofia não só vencer, mas vencer bem, jogando bem.