Se engana quem acha que a história da seleção do Egito se resume a Mohamed Salah, estrela do Liverpool. Antes da soberania do faraó de Anfield se iniciar, os egípcios empilharam taças no maior campeonato de seleções do continente africano.
O Egito é o maior campeão da Copa Africana de Nações (CAN). O país é dono de sete taças do torneio continental e realizou uma campanha incrível e inédita de três títulos seguidos, de 2006 a 2010, batendo grandes seleções e jogadores do futebol europeu.
Conheça um pouco mais sobre a geração pré-Salah que levou o Egito ao tricampeonato da CAN.
2006: o pênalti de Drogba que não entrou
A CAN nasceu com o Egito campeão. O país levantou as taças das duas primeiras edições do torneio, em 1957 e 1959. Felizmente, novos países do continente-mãe foram, aos poucos, se tornando independentes, o que acabou impactando também o futebol e os levando a criar suas próprias seleções nacionais. Isso aumentou o nível da competição e tornou as coisas mais difíceis para os primeiros vencedores. Por isso, o Egito foi levantar taças novamente só em 1986 e em 1998. A partir dali, foram quase dez anos na seca.
Apesar de ter sido o primeiro campeão, o Egito nunca havia sediado a CAN. Isso aconteceu pela primeira vez em 2006. A equipe viu aí a oportunidade para enfim voltar a vencer, depois de bater na trave em edições anteriores.
Mas o desafio seria grande. Dos 23 convocados, apenas três jogavam fora do seu país natal: Mido (Tottenham), Ahmed Hassan (Besiktas) e Amr Zaki (Lokomotiv). Era uma seleção de desconhecidos que calhou de cair no grupo de Líbia, Marrocos e a Costa do Marfim de ninguém mais, ninguém menos que Didier Drogba e Yaya Touré.
Contra todas as expectativas, o Egito terminou a primeira fase na liderança do seu grupo e foi dominante nos jogos de mata-mata. Os egípcios chegaram invictos na final, com quatro vitórias e um empate.
A final, porém, foi recheada de capítulos dramáticos. Primeiramente porque o craque do time Mido discutiu com o técnico Hassan Shehata quando foi substituído no jogo da semifinal contra Senegal. Apesar de os dois terem feito as pazes no dia seguinte, o episódio levou o jogador dos Spurs a ser suspenso por seis meses pela federação do país. Por isso, ele ficou de fora da final, que foi justamente contra Costa do Marfim.
O jogo, disputado em 10 de fevereiro, terminou com o placar zerado para os dois lados no tempo normal de jogo e na prorrogação, levando a decisão para os pênaltis. O Egito passou pelos marfinenses por 4 a 2, com gols marcados por Ahmed Hassan, Mohamed Abdel Wahab, Amr Zaki e Mohamed Aboutriaka. O histórico goleiro Essam El Hadary foi o grande herói da partida, tendo defendido os pênaltis de Drogba e Bakari Kone (Nice).
2008: mais um título dos azarões
Na edição seguinte, a CAN foi disputada em Gana. O campeão Egito teria outra pedreira pela frente. Sem sua estrela Mido, que não pôde ser convocado por lesão, os faraós caíram no grupo de Sudão, Zâmbia e Camarões, a seleção de Samuel Eto’o, Alex Song e Geremi.
Apesar de ainda não ter um time formado por estrelas, 12 dos convocados estavam presentes na equipe que venceu o torneio em 2006. Com a experiência de vencedores, o Egito mais uma vez chegou à final invicto com quatro vitórias e um empate.
A semifinal, inclusive, foi a reedição da final anterior. O Egito goleou a Costa do Marfim, que ainda contava com uma equipe estrelada — incluindo Salomon Kalou, ex-Chelsea.
Na final, em 10 de fevereiro, o Egito encontrou Camarões novamente. Mas, dessa vez, resolveu tudo no tempo normal de jogo. Aboutriaka, que marcou o gol do título nos pênaltis na final de 2006, também foi o responsável pela vitória que levou o Egito ao bicampeonato da CAN.
2010: o ano da revanche
A história do título de 2010, ao contrário das anteriores, não envolve a superação contra uma seleção estrelada. Dá para dizer que é uma história de vingança. E seu capítulo inicial aconteceu nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, a primeira e única disputada em um país africano.
Em novembro de 2009, Argélia e Egito terminaram as qualificatórias empatados em todos os critérios na tabela. Para decidir quem iria à Copa, foi realizada uma partida entre as seleções em campo neutro, no Sudão. Para a tristeza dos faraós, a Argélia saiu vencedora por 1 a 0, com um gol de Antar Yahia, e não conquistou sua vaga no torneio mundial.
Ainda assim, eles iriam disputar a CAN e estavam com “sangue nos olhos” por mais um título. Desta vez, o Egito chegou à final com 100% de aproveitamento: nenhuma derrota ou empate no meio do caminho.
Mas antes da partida decisiva, quem os egípcios encontraram na semifinal? A Argélia. Ao contrários das eliminatórias, o Egito acabou com a partida sem dó dos adversários. O jogo, com gosto de revanche, terminou em uma sonora goleada de 4 a 0.
Na final, eles venceram Gana, que viria a protagonizar aquela histórica partida contra o Uruguai na Copa do Mundo, por 1 a 0 e se sagraram tricampeões do continente.
E assim se encerrou uma campanha sem precedentes na história da Copa Africana de Nações.