Southgate é o grande culpado, mas está longe de ser o único

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Gareth Southgate, a essa altura, não deveria ser o treinador da seleção inglesa. Isso todo mundo sabe. Um técnico novato, que fez ótimo trabalho de reconstrução e renovação do time, mas que agora que possui um dos melhores elencos do mundo em mãos, não sabe o que fazer com ele. Escala mal, mexe mal, não estabelece nenhum padrão de jogo.

Cole Palmer não ter jogado um minuto sequer nessa Euro até agora, é o maior exemplo do quão perdido ele está. Se o time não cria e não faz gols, por que não utilizar o menino endiabrado que balançou as redes de todos os jeitos pelo Chelsea na última temporada? Não dá para entender.

Dito isso, como podemos analisar a atuação do Declan Rice contra a Dinamarca, por exemplo? E olha, no caso dele não se pode sequer falar que está atuando em um posição diferente em relação ao clube. O volante brigador do Arsenal, que rouba bolas, distribui o jogo, que lidera o time e domina o meio-campo, deu lugar a um jogador sem brilho, sem sal, passivo, calado, às vezes até perdido em campo. 

E o John Stones? No Manchester City, um gigante jogando como zagueiro, volante e até lateral. Um cara inteligente, com ótima leitura de jogo e posicionamento, com bom passe e senso de cobertura. Já no jogo desta quinta-feira, vimos um cara quase que perdido, inseguro, errando boa parte do que tentava e sendo dominado pelo ataque adversário. 

Gente, e o Harry Kane? Que partida apagada foi essa? Cadê aquele atacante que lidera o time, que sai pra marcar, organizar, distribuir, e entra na área para finalizar? Fez o gol, tudo bem, mas foi só. Errando passes que não costuma errar, passando vários e vários minutos sem tocar na bola, indeciso, de cabeça baixa.

Outro que tem liberdade para jogar exatamente como atua no Bayern de Munique. Tudo bem, a bola pode não chegar muito. Mas não chegava, por exemplo, em vários momentos de sua passagem pelo Tottenham, e ele dava um jeito.

Claro que é normal jogadores como esses caírem de produção ao saírem de times organizados e bem montados para, de repente, caírem na seleção inglesa sem padrão de jogo. Só que, por favor, a queda precisa ser tão grande? 

Harry Kane foi substituído em partida da Inglaterra pela Eurocopa
Harry Kane foi substituído em partida da Inglaterra pela Eurocopa (Foto: IMAGO/PA Images)

Falta controle e personalidade na seleção da Inglaterra

Além das atuações individuais muito abaixo do esperado, é preciso falar também sobre a incapacidade desse time de controlar o jogo. Nas duas rodadas dessa Euro, a Inglaterra saiu na frente logo no início da partida, e logo se retraiu, recuou suas linhas, ficou muito mais preocupada em marcar e não conceder o empate do que seguir jogando pra frente e fazer mais um, dois, três gols.

Perguntado sobre isso após o empate contra a Dinamarca, Gareth Southgate respondeu que obviamente não é um pedido que ele faz para os jogadores, mas algo que acontece e ele não está conseguindo corrigir.

Caras com tanta qualidade como Kane, Saka, Foden e cia, precisam mostrar personalidade e confiança suficientes para estufarem o peito, levantarem a cabeça e atacarem. Parece que chegam na seleção e jogam com medo, sem nenhuma personalidade!

Faço exceção a Jude Bellingham, que também esteve bem abaixo do esperado contra a Dinamarca, mas no jogo contra a Sérvia foi, com folga, o melhor do time. 

E, voltando ao maior culpado: mesmo se Gareth Southgate não passar nenhuma confiança aos jogadores, não conseguir organizar o time de maneira satisfatória, e se o que ele pede já não é mais ouvido pelos atletas, que eles botem a bola debaixo do braço e resolvam.

Quantas vezes já não vimos grandes times serem campeões apesar do técnico, e não por causa dele?

Harry Kane quer ser reconhecido como um dos melhores ingleses da história? Pois bem, chame os jogadores e diga: é o seguinte, você joga por ali, você por aqui, vamos fazer o simples e o que sabemos. Somos bem melhores que a Sérvia e a Dinamarca, vamos nos divertir em campo e destruir esses caras.

Mas não existe isso na Inglaterra

A verdade é que os jogadores têm a mesma passividade do treinador. Ninguém tenta, chama a responsabilidade, arrisca algo diferente.

Pior: em uma Euro disputada a 120km/h, a Inglaterra parece jogar a 60km/h. Em uma competição de jogos malucos, imprevisíveis e intensos, Kane e companhia apresentam apatia. Essa Inglaterra burocrática e sem brilho é a cara do seu treinador… e de seus jogadores também.

Renato Senise
Renato Senise

Renato Senise é correspondente em Londres desde 2016. São mais de cinco temporadas cobrindo Premier League e Champions League. No currículo, duas Copas do Mundo “in loco”, além de entrevistas com nomes como Pep Guardiola, José Mourinho, Juergen Klopp, Marcelo Bielsa, Neymar, Kevin De Bruyne e Harry Kane.