O sétimo lugar na Premier League em 2019/2020 não agradou o torcedor do Tottenham. Agrega-se o fato de que o time vinha de um ano finalista de Liga dos Campeões, fato inédito em sua história. Era o início do fim da era Mauricio Pochettino.
Era visto um Tottenham que passara de referência pelos feitos atingidos para mais um clube em crise consigo mesmo. A chegada de José Mourinho serviu de alívio, mas por pouco tempo. A classificação para a Liga Europa serviu, acima de tudo, como um prêmio de consolação para uma temporada de expectativas não correspondidas.
Mais mudanças eram necessárias, e desta vez, dentro de campo. Com tempo para se planejar, chegara a hora de reconquistar a confiança. Mourinho então optou por um jogador que casa perfeitamente com a situação: Gareth Bale.
O que esperar de Bale no Tottenham?
Seja por suas qualidades ou defeitos, o galês é uma das figuras que mais marcou o futebol na última década. Logo após sua explosão na Premier League, passou de um dos atletas mais caros da história para alguém deixado de lado no Real Madrid.
Hoje, sete anos depois, Bale volta ao Tottenham. Não só para se reencontrar como jogador, mas também ajudar o time em que o revelou para o mundo a voltar ao topo das competições, e tentar reforçar a ideia de que Mourinho ainda pode ser tratado como Special One.
A primeira (e revolucionária) passagem pelo Tottenham
Contratado junto ao Southampton em 2006, Gareth Frank Bale, de 17 anos, chegava ao Tottenham como mais uma jovem promessa do futebol inglês. Na época, o garoto ainda era lateral e só era visto no setor ofensivo para cobrar faltas e afins.
Não demorou muito para mostrar seu cartão de visitas. Nesse sentido, em 2010, pela Liga dos Campeões, fez uma das melhores atuações individuais de um jogador da PL no torneio intercontinental, marcando três gols em pleno Giuseppe Meazza contra a Internazionale.
🗓️ @GarethBale11 announced himself to the #UCL #OnThisDay in 2010! @SpursOfficial ⚽️⚽️⚽️ pic.twitter.com/KOm8IVCqOS
— UEFA Champions League (@ChampionsLeague) October 20, 2018
Assim como nos dias de hoje, lesões sempre foram um problema corriqueiro. Mesmo assim, seu nome não era novidade. Bastava uma boa sequência para colher bons frutos. Foi a partir da temporada 2010/2011 que isso aconteceu. Consolidado no ataque, passou a ser considerado um dos melhores pontas do futebol mundial.
Com velocidade, qualidade o suficiente para se livrar de seus marcadores e finalizar de qualquer distância, mostrava ali seu impacto no esporte. Apesar de ter apenas sete gols e duas assistências em 30 jogos, foi premiado pela PFA (Associação dos Jogadores) como o melhor jogador da temporada.
Em 2012/2013, fez seu melhor ano com 21 gols e nove assistências em 33 jogos. Por isso, se tornou o primeiro jogador na história do Tottenham a conquistar o prêmio de melhor jogador duas vezes. Desde a criação em 1973, apenas outros quatro nomes levaram o troféu mais de uma vez para casa: Mark Hughes, Alan Shearer, Thierry Henry e Cristiano Ronaldo.
Mesmo se destacando, Bale não conquistou um troféu pelos londrinos. Portanto, era a hora de mudar. Seu alto nível lhe rendeu na época a etiqueta de contratação mais cara da história do futebol ao ser negociado com o Real Madrid pela expressiva quantia de 100 milhões de euros.
A transformação e evolução de Gareth Bale no Tottenham
A controversa estadia em Madrid
Os resultados vieram, e bem rápido: 55 gols e 40 assistências nas três primeiras temporadas. Além disso, conquistou duas Liga dos Campeões e a fatídica Copa do Rei em que marcou o emblemático gol do título contra o Barcelona.
💨 Carrera ÉPICA y… ¡gol de la VICTORIA!
👟 @GarethBale11
🆚 @FCBarcelona_es
🏠 #RMFansEnCasa@futbolmahou | #ElSaborQueNosUne pic.twitter.com/PjXPRDqPUw— Real Madrid C.F. (@realmadrid) April 16, 2020
Entre 2013 e 2016, tudo foram rosas. No entanto, a chegada de Zinedine Zidane mudou tudo. Ao chegar, Zizou levou sim o Real Madrid às alturas, mas o galês teria a li sua primeira temporada ruim: sete gols, quatro assistências e uma lesão no tornozelo que o afastou dos gramados por três meses. Tempo o suficiente para o treinador se adaptar sem ele.
Foram 110 jogos com Zidane, tendo 44 gols e 22 assistências. Ao todo, 7.298 minutos em campo. Só para exemplificar: com Carlo Ancelotti, em 92 oportunidades, teve mais tempo (7.367’). Com o treinador italiano, em 18 partidas a menos, o galês teve 39 gols e 31 assistências, números semelhantes a quando era comandado pelo lendário francês.
Se formara ali a guerra. Mesmo pouco divulgado, era notório que a relação não era boa. Gareth até marcou um gol importante contra o Liverpool na final da Liga dos Campeões, mas nunca mais foi o mesmo. Entre as temporadas 2017/2018 e a última, marcou apenas 26 gols e contribuiu com nove assistências em 71 oportunidades.
O reencontro de Bale com o Tottenham
Bale precisava do Tottenham, e vice-versa. Sem confiança, perdeu espaço sem prospecto de melhora em Madrid. Mesmo que o galês seja tranquilo, chegara o momento que suas atitudes extracampo falavam mais alto. É tão calmo que seu hobby é jogar golfe.
O casamento que movimentou o início da década no futebol inglês está mais uma vez formado. No entanto, o cenário é outro. Bale não é uma promessa, muito menos um dos melhores pontas do mundo. Chegou o momento em que empolgação e esperança mostram ser as melhores companheiras dos Spurs.
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Em um time com boas peças, é mais uma opção em um setor conhecido por ser letal nos contra-ataques. Apesar de não entrar em campo com muita frequência recentemente, uma de suas principais qualidades ainda é a velocidade, sendo um dos jogadores mais rápidos do mundo. Característica que certamente o ajudara em sua readaptação na liga.
Mourinho utiliza o esquema 4-2-3-1, variando para 4-3-3. Sendo Harry Kane a referência, Heung-min Son exerce um papel que provavelmente vai ser feito Gareth Bale, só que no lado contrário. Mesmo posicionado como meia, ou atacante, pela esquerda, possui liberdade o suficiente para flutuar e participar centralizado. Bale poderá fazer o mesmo.
Independente da escolha de um dos esquemas citados, o padrão tático é o mesmo: Contenção defensiva feita por dois meias sólidos, com a criação feita por um armador que constantemente trabalha junto aos apoiadores ofensivos do lado do campo para fazer com que a bola chegue bem até o centroavante.
Bale trará ao Tottenham uma variação tática ao ser utilizado como centroavante. Como foi feito na campanha semifinalista de Gales na Euro de 2016, o jogador já está ambientado com a função. Por certo que a melhor opção neste caso é exercer o papel de atacante rápido ao lado de Kane, ou até uma dupla de velocidade com Son.
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O saldo é positivo. Mesmo sendo um negócio por empréstimo, Bale terá tempo de sobra pra reencontrar uma boa fase no time em que conhece bem a fórmula para isso. Por certo que o galês dificilmente encontrará seu futebol do início na carreira, mas fatalmente será útil para Mourinho.
Somada a chegada de Sergio Reguilón, o patamar do Tottenham sobe. Um time que agora possui nomes para trabalhar com variedade tática o suficiente e não seguir um padrão de jogo cansativo e previsível pelos adversários. Assim sendo, o objetivo de voltar à Liga dos Campeões ganhou mais força.