A noite em que o Fulham venceu o Santos de Pelé

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Se aproveitando da fama, muito pela figura de Pelé, por muitas vezes o Santos abdicou de disputar competições e optou por realizar excursões e disputar amistosos mundo afora, por ser financeiramente muito mais vantajoso e rentável. Foi em 1973 uma de suas maiores excursões da história. E foi no penúltimo amistoso dessa excursão, que o time do Santos enfrentou o Fulham, que disputava a segunda divisão inglesa. Apesar de já não contar com boa parte do time que fez parte do esquadrão dos anos 1960, nomes como o do lateral direito Carlos Alberto Torres, Edu, e da maior estrela de todas, Pelé, foi o suficiente para que o amistoso fosse o recorde de público do estádio naquela temporada, com 21.464 torcedores, de acordo com o site oficial do clube. Tendo enfrentado e vencido o Benfica de Eusébio um ano antes, em jogo de inauguração do Riverside Stand em Craven Cottage, o então técnico do time Cottager, Alec Stock, afirmou antes do jogo: “É um jogo sério para nós. Nós vencemos o Benfica ano passado e espero fazer o mesmo com o Santos. “ Sabendo que os torcedores em sua maioria foram até o estádio para ver o camisa 10 santista, o meia do time londrino, Alan Mullery, que estava em campo quando Inglaterra e Brasil se enfrentaram na Copa de 1970, foi categórico.

“Diga ao Pelé que não vou marcá-lo muito de perto desta vez. Os fãs querem ver sua habilidade, e não me ver tentando impedi-lo de jogar”.

Com a bola rolando, apesar de todos os holofotes estarem em Pelé, que era ovacionado a cada toque na bola, era o ponta-esquerda Edu quem se destacava pela equipe santista, tendo sido chamado por Steve Curry, do Daily Express, como “incrivelmente brilhante”. E foi Edu quem teve a chance de abrir o marcador para o time santista no primeiro tempo, mas acabou parando no travessão. Mas quem acabou saindo na frente foram os donos da casa. Cruzamento na área, Alan Pinkey cabeceou e o goleiro Cláudio pulou para defender, mas ao tentar dar um soco na bola para tirá-la da área, esta acabou entrando no gol. Mas no segundo tempo o Santos alcançou a igualdade no marcador. Bola lançada da defesa santista, Pelé ganhou a disputa com o marcador, entrou na área e acabou sendo derrubado pelo goleiro Peter Mellor. Pênalti! E, obviamente, o camisa 10 foi para cobrança, e mandando o goleiro para um lado e a bola para o outro, empatou a partida. Na revista entregue aos torcedores que compareceram ao Craven Cottage para o duelo entre Brasil e Gana em 2011, Mellor afirmou que queria ter defendido um pênalti de Pelé.

“Eu tinha defendido cobranças de George Best e Jimmy Greaves, e queria fazer um hat-trick. Perguntei a Alan Mullery qual o lado em que Pelé normalmente batia. Ele me disse para a esquerda, mas Pelé mandou a bola para o outro lado. Eu estava desesperado para defender e proteger nossa vantagem, mas eu não tive chance.”

Quando o jogo já caminhava para o final, após cobrança rápida de falta dos ingleses, que acabou pegando a defesa santista desprevenida, Steve Earle recebeu dentro da pequena área e garantiu a virada do Fulham sobre o Santos.
A vitória acabou sendo a cereja do bolo para todos os presentes no estádio. Mas o fato de o Santos jogar em Craven Cottage não foi algo especial somente para os torcedores. O atacante John Mitchell estava de aniversário no dia do amistoso e mostrou-se extasiado em ter enfrentado Pelé e companhia. “Jogar contra o Santos foi uma oportunidade fantástica para todo o clube. Estávamos prontos para isso e havia uma atmosfera maravilhosa gerada pelos torcedores.” Esse amistoso também foi importante para a caridade, como conta o lateral-esquerdo Fred Callaghan.

“Uma coisa que eu lembro foi conseguir que Pelé autografasse cinco bolas após o jogo. Isso foi um grande gesto – e passei para as pessoas para arrecadar dinheiro para caridade”.

Mas após a realização do amistoso, as duas equipes acabaram tendo um pequeno atrito. De acordo com o publicado pelo “The Guardian”, os clubes haviam acertado dividir o valor recebido com a venda dos ingressos, mas o Santos acabou acusando os ingleses de terem manipulado a quantidade de torcedores presentes no estádio.

Bom, para os santistas, esse acabou sendo apenas mais um amistoso, mas para os Cottagers, o fato de o time ter derrotado o Santos de Pelé acaba tendo um gosto especial. Pode parecer exagero, mas se a equipe grega do Olympiakos citou o Santos em seu hino oficial após vencer o amistoso entre os dois times em 1961, então não há problema nenhum em os torcedores do Fulham sentirem um apreço por essa lembrança, certo?

Ficha técnica da partida entre Fulham e Santos

Fulham: Mellor; Cutbush, Callaghan, Went e Duune; Mullery e Earle; Pinlenney, Mitehell, Stronge e Barret. Técnico: Alec Stock Santos: Cláudio; Hermes, Vicente, Carlos Alberto e Zé Carlos; Léo Oliveira e Pitico; Jair da Costa, Eusébio, Pelé e Edu. Técnico: Pepe
Jeferson Olsson
Jeferson Olsson

Pai da Julia e da Alice, Analista de Testes como profissão e goleiro nas horas vagas. Torcedor do Fulham, colaborador no Fulham FC Brasil e redator do PL Brasil.