Fred: ‘Todos nós que temos voz ativa no esporte, temos que lutar contra o racismo’

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Indo para sua terceira temporada pelo Manchester United, Fred quer seguir o bom momento com a camisa dos Red Devils. Em entrevista exclusiva para a PL Brasil, o jogador falou sobre a vida na Inglaterra, racismo, gratidão por Mourinho, amizade com brasileiros e sobre as aspirações do clube para a temporada.

Fred, do Manchester United, bate papo com a PL Brasil no Youtube

Antes de ser contratado pelo Manchester United, você também recebeu proposta do Manchester City. Como foi essa história? Você teve dúvidas? Como foi esse processo?

Fred: Primeiro eu tive uma proposta do City, na janela de inverno (europeu) e conversei com o pessoal do Shakhtar. Estávamos bem na Champions, achávamos que poderíamos ir mais longe e eles travaram a negociação.

Logo depois veio a proposta do United, um pouco antes de sair a lista da Copa do Mundo de 2018. Mourinho me ligou e eu acho que até estava dirigindo. Ele falou que eu ia jogar. A gente conversou bastante e foi um dos pontos principais para eu decidir fechar com o United. Tenho certeza que foi uma ótima decisão.

Qual a importância do Mourinho na sua adaptação? Ter um técnico falando português lhe ajudou muito?

Fred: O Mourinho é um cara bem experiente. Eu procurei pegar um pouco da experiência dele dentro de campo, mas infelizmente ele não deu certo aqui no United. Torço muito por ele. Sou muito grato pelo que ele fez por mim, para hoje estar no clube e desejo muita sorte na carreira dele.

O que mudou com a chegada do Solskjaer e como é ter um ídolo do clube como técnico?

Fred: Ele (Solskjaer) é uma pessoa muito boa. Nos ajuda da muito no dia-a-dia. Conversa bastante com os jogadores e conhece a cabeça do jogador. Tivemos nove vitórias seguidas. Ele trouxe a experiência do futebol para ser treinador.

Ele vai nos mostrando a importância de jogar no clube e fala muito dos títulos que ganhou por aqui e acrescenta muito no dia-a-dia para a gente. É jovem ainda, vai crescer muito mais. Torcemos muito por ele.

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Laurence Griffiths/Getty Images

Em sua segunda temporada no clube, você deu a volta por cima e foi um dos destaques da temporada. Como foi sair das críticas e se tornar um dos melhores jogadores do time?

Fred: Cheguei aqui como uma grande contratação. Porém, tem aquele processo de adaptação, que é difícil. Você tem que chegar jogando. Se não chegar jogando, você será cobrado. E eu estava nesse momento de ser cobrado e que não estava jogando tanto. Muitas críticas. Normal, você está em um clube grande e sempre vai ter crítica. Então tem que saber lidar com isso.

Para mim, a segunda temporada foi uma das melhores. Fiz uma grande temporada. Tive uma grande sequência de jogos que não tive na primeira, então eu consegui agarrar com unhas e dentes, fazendo bons jogos. Quando o Bruno chegou, ajudou muito a gente. Crescemos como um todo. Essa segunda temporada foi muito importante para mim.

Em Manchester, tem bastante brasileiros. Vocês têm um grupo, saem juntos, essas coisas?

Fred: É legal, né. Tem muitos brasileiros. A maioria mora muito perto. Eu moro perto do Fernandinho, Ederson, Bernard e do próprio Alisson, que fica a 20 minutos daqui. Quem mora mais longe são Fabinho e Firmino, que moram em Liverpool, com quem nos encontramos menos.

Estamos em outro país, falando outra língua. Então, sempre que dá, a gente se encontra no aniversário de alguém ou num culto na casa do Alisson. Isso é importante, estarmos juntos. Trazer nossa cultura do Brasil para cá e se juntar com amigos.

Como foi o período de pandemia para você? Ficar isolado em outro país. Como foi isso para você?

Fred: Nunca havíamos passado por isso. Foi uma situação diferente. A gente teve que lidar com isso. Tem que ter cabeça boa. Foi bem importante poder ficar mais próximo da família também. Eu e minha esposa sabíamos que logo isso ia passar e que, aos poucos, foi voltando. Que isso possa terminar logo. Que possamos ter torcida de volta também o mais rápido possível. 

Você sofreu com atos racistas de um torcedor durante um jogo contra o City. Alguns jogadores têm se engajado nessa luta (casos de Raheem Sterling e Tyrone Mings). Qual é o papel que o jogador de futebol tem nessas causas?

Fred: É uma situação chata você passar por isso. Ninguém quer passar. Mas é legal ver que temos muitas pessoas que estão lutando contra isso. Hoje a gente vê que a própria Premier League, depois do caso que teve nos EUA, nos ajuda bastante e luta com a gente contra o racismo.

Você encontra pessoas racistas em qualquer lugar e a gente tem que saber lidar com isso. Tem que ter cabeça boa e ser tranquilo com isso. É complicado, pois no momento você quer dar um soco no cara ou algo assim. Quando você escuta, é ruim. Mas tem que ter cabeça boa e não agir no calor do momento, aí você pode ser expulso e acaba dando margem para os racistas.

Hoje a gente tem uma voz muito ativa. Se isso acontecer, temos que ir nas redes sociais e postar. Temos muito engajamento para falar com as pessoas e lutar contra o racismo e contra qualquer tipo de preconceito. Todos nós que temos voz ativa hoje no esporte, nas redes sociais, temos que lutar contra isso, ter voz ativa, unir nossas forças e futuramente vamos acabar com isso.

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CATHERINE IVILL/POOL/AFP via Getty Images

Por que você recebeu o apelido de “Pastor”?

Fred: Eu gosto muito de falar de Deus nas redes sociais. Eu acho um tópico importante. Eu acredito muito, minha esposa acredita muito e acaba que a maioria das minhas postagens são falando sobre Deus. Então acho que pegou esse apelido, né? Eu acho um apelido bem legal. Aí o Alisson viu e falou “É, você é o nosso pastor”.

Qual é o estádio que mais te impressiona na Inglaterra (sem contar o Old Trafford)?

Fred: Old Trafford é sensacional! Joguei ali na minha primeira Champions, em 2013, e foi uma sensação maravilhosa. Tirando Old Trafford, o que mais fiquei surpreso é o Wembley. É o maior, tem muita história. Sensacional jogar lá sabendo que vários jogadores passaram por ali.

O próprio estádio do Liverpool (Anfield), que a rivalidade é grande. A torcida em cima, o tempo todo brigando, xingando… é bem legal essa rivalidade. O do Everton também tem uma história muito grande. É difícil jogar ali. É um caldeirãozinho. Nos jogos que joguei ali, nunca ganhei. É difícil.

Qual derby é mais pegado? Jogos contra o City ou contra o Liverpool?

Fred: Pela história dos clubes, a maior rivalidade é contra o Liverpool. Dois clubes com uma história gigantesca. Quando vai ter jogo aqui contra o Liverpool é a semana inteira falando desse jogo. É muito bom estar jogando esse clássico. Contra o City, também é um grande clássico, mas é mais local, disputando quem vai tomar conta da cidade. Mas o maior clássico é contra o Liverpool.

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Quais são as aspirações para o Campeonato Inglês e para o United? O que vocês estão sentindo e o que estão querendo neste ano?

Fred: Quanto mais reforços para a equipe, melhor. Van de Beek fez uma grande Champions na temporada retrasada. O Bruno Fernandes chegou muito bem, chamando a responsabilidade. Temos grandes jogadores no elenco e torcemos por mais reforços. A temporada será atípica, vamos começar depois (em setembro) e acabar em maio, quando sempre termina. Teremos grande sequência de jogos e vamos precisar de um elenco muito forte.

Temos ambição de títulos. Temporada passada chegamos em três semifinais, batemos na porta e não deu certo. Mas nessa, a gente vai tentar todos os títulos possíveis. Título das copa… Queremos superar o Liverpool e o City na Premier League. Sabemos que o time tem condições para isso. Vamos fazer o máximo possível para chegar nas finais e buscar títulos. O United é uma grande equipe e merece isso.

Tem um ídolo do Manchester United que você se espelha?

Fred: Tem muitos jogadores que passaram por aqui e fizeram história. Quando eu era mais novo, acompanhava Giggs, Rooney, Scholes, Beckham… é difícil falar um que você se inspira. Eu procuro entender da história do clube.

Eu quero fazer a minha história aqui, conquistar títulos, ser importante aqui igual esses caras foram. Tenho certeza que minha hora vai chegar e vou procurar fazer o meu máximo para isso. Tenho muito tempo de clube ainda, quero ficar aqui e ser um grande jogador no United.

Qual é o jogador mais resenha no vestiário do United?

Fred: A gente reveza muito quem coloca as músicas (no vestiário). Às vezes o Lingard, às vezes o Pogba – que é muito brincalhão -, o Bruno… às vezes eu coloco, quem leva a caixinha de som sou eu. O Pogba gosta de dançar. o Eric (Bailly) dança muito também. É um vestiário bem engraçado. Muito bom.

por João Vitor Salla e Leonardo Zacarin

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