A falta de sucesso está refletindo nas finanças do Manchester United?

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Os analistas do canal de YouTube Tifo Football explicaram como a falta de sucesso do Manchester United está impactando o lado financeiro do clube.

Em alguns aspectos, os valores recebidos pelo clube até aumentaram, mas aos poucos, a diferença para os rivais vem diminuindo. Desde a aposentadoria de Sir Alex Ferguson, mais de um bilhão de libras foi gasta em reforços, por exemplo.

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Em maio de 2018, Ed Woodward, vice-presidente do United, disse que “a performance em campo não tem um impacto significativo no que nós podemos fazer no aspecto comercial do negócio.”

Entretanto, em Stretford End, os torcedores mais fanáticos não ficaram impressionados com o comentário na época e, sem dúvidas, Woodward está se contorcendo depois do começo ruim na temporada 2019/20.

O United anunciou a contabilidade do ano financeiro que acabou em 30 de junho de 2019. E, como nos eventos dentro de campo, mostram uma mistura de resultados.

Clubes de futebol geram receita de três fontes principais: bilheteria, negociação comercial e direitos de transmissão.

Bilheteria do Old Trafford se mantém esgotada

A renda de bilheteria foi de 111 milhões de libras, mesmo parecendo impressionante para os padrões da Premier League, apresentou apenas um pequeno aumento desde a aposentadoria de Ferguson (109 milhões em 2013).

A receita de bilheteria uma equação do número de partidas jogadas multiplicado pela média de público e multiplicada, em seguida, pela receita por torcedor por partida.

Em 2018/19, o Manchester United manteve os preços dos ingressos congelados e a torcida esgotou todas as partidas. Assim, há uma pequena oportunidade para aumentar essa estagnação de renda a não ser que o Old Trafford, um tanto “esfarrapado” comparado aos novos estádios, tenha sua capacidade aumentada.

Receita comercial do Manchester United

A receita de negociação comercial é onde o United tem sido historicamente mais forte. Principalmente através de sua política de venda dos direitos para parceiros comerciais em diferentes países.

Este total também foi relativamente estático em 2018/19 e talvez sugira que a falta de troféus esteja cobrando seu preço, já que patrocinadores preferem se associar seus produtos ao sucesso.

Enquanto o clube celebrou os acordos com Adidas e Chevrolet uns anos atrás, também ficou preso nestes contratos de longo termo. Dessa forma, os outros clubes estão alcançando-o.

Direitos de transmissão

Michael Regan/Getty Images

As receitas de direito de transmissão eram, portanto, a única forma de aumento de renda em 2018/19, mas os números escondem uma história. Apesar das transmissões terem aumentado em 37 milhões de libras, foi só porque houve um novo contrato de TV para a Champions League.

O Manchester United esteve na Europa League de 2016/17 e faturou 38 milhões de libras com o título. Em contrapartida, fez 83 milhões de libras por chegar nas quartas de final da Champions League da última temporada.

Terminar em 6º na Premier League significou que o prêmio em dinheiro pelas transmissões, comparado com o segundo colocado, caiu em sete milhões de libras. Então, a liderança do United em relação aos outros do “Big 6” começou a erodir nos últimos anos.

Em 2017, os Red Devils faturaram 217 milhões de libras a mais que o Liverpool. Na temporada seguinte, a diferença caiu para 135 milhões. Portanto, se o Liverpool tiver mais uma temporada de sucesso na Champions, a distância tem tudo para ser eliminada.

E, é claro, Manchester City e Tottenham (usando seu novo estádio) também devem estreitar a distância ainda em 2019/20.

O clube espera que as rendas de 2020 estejam na faixa de 560 a 580 milhões de libras.

As despesas do clube

Jan Kruger Collection Getty Images Sport
Jan Kruger Collection Getty Images Sport

Os custos principais são relacionados aos jogadores: salários e amortização da transferência. A folha salarial do time, mesmo pagando poucos adicionais de vitória e títulos em relação a temporadas passadas, aumentou para 332 milhões de libras (296 milhões em 2018).

Isto é parcialmente devido à uma temporada inteira empregando Alexis Sanchez, junto de novos contratos para alguns outros jogadores, além dos bônus de participação na Champions League serem acionados.

Mais uma vez, desde a aposentadoria de Ferguson, a folha de pagamento aumentou em 83%, colocando a média salarial semanal em 160 mil libras. Certamente o United consegue pagar estes altos salários no seu fluxo de receitas, com salários contabilizando 53 libras de cada 100 libras geradas.

Ou seja, 53% das receitas são direcionadas para salários dos jogadores. Valor abaixo do considerado como “linha vermelha” pela Uefa, que é de 70%.

O Manchester United tradicionalmente tinha uma das mais baixas, senão a mais baixa, relação de salário e receitas do Big 6. Mas tal vantagem financeira recuou atualmente.

Amortização de transferências

Guia do Manchester United Premier League 4
(Credit Manchester United)

Essa amortização é referente às taxas de transferências dos jogadores. Ela é calculada através da divisão do montante pago no jogador pelo número de anos do contrato oferecido.

Quando o United contratou Fred do Shakhtar Donetsk, por exemplo, por 52 milhões de libras com contrato válido por cinco anos, resultou numa amortização anual de 10,4 milhões de libras.

A amortização total do elenco fechou em 129 milhões de libras, o triplo do valor de quando Sir Alex estava no comando. Isto sugere que o Manchester United tem claramente gasto altas taxas ao recrutar jogadores de outras equipes. Contudo, a qualidade das contratações deve ser questionada.

Os dois times ingleses que participaram da final da Champions League da última temporada têm uma dívida de amortização menor que do Manchester mesmo se somados. Lembrando que Rashford, Lingard e McTominay são todos provenientes da academia do clube sem custo de amortização.

A demissão de José Mourinho e sua comissão custou aos cofres do clube 19,6 milhões de libras durante a temporada quando estava na sexta colocação (dezembro/2018). Somada às outras demissões de técnicos desde 2013, o débito por demissão de treinadores chegou a 40 milhões.

Ainda sim, o United impulsionou seus lucros com vendas de jogadores: 26 milhões de libras com Marouane Fellaini, Daley Blind e o jovem goleiro Sam Johnstone deixando o Old Trafford.

O lucro do Manchester United

O lucro é calculado diminuindo os custos das receitas. Dessa forma, o Manchester teve lucro do total de negociações de 50 milhões em 2018/19. Um aumento se comparado à temporada anterior, mas bem abaixo em relação a 2013 (62 milhões).

Estes lucros são, entretanto, antes do clube começar a quitar seus empréstimos bancários. O United tem uma marcante dívida de meio bilhão de libras, o que custa 450 mil libras por semana (!).

Quando os Glazers compraram o clube por 790 milhões de libras em 2005, credores estavam bastante cautelosos sobre disponibilizar dinheiro, tanto que até 2016 eles (Glazers e outros sócios) não tiravam nenhum dinheiro do clube em forma de dividendos de suas partes.

Mas desde então, o Manchester pagou mais de 22 milhões de libras por ano para seus acionistas. Boa notícia para os Glazers e para os gestores do fundo de divisão que têm ações. Porém, isso acaba diminuindo o investimento no campo.

O clube gastou 135 milhões de libras em jogadores no último ano (1 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019). O valor inclui Fred, Diogo Dalot, Daniel James e Aaron Wan-Bissaka, já que os dois últimos vieram antes do fechamento das contas anuais.

Isso significa que o Manchester United acumulou mais de 1 bilhão de libras em contratações de jogadores desde o fim da Era Ferguson. Desde julho de 2019, o clube confirmou que gastou mais 99 milhões de libras em aquisições de atletas, incluindo Harry Maguire.

Em compensação, as vendas desde junho de 2019 estão listadas em 67 milhões de libras, provavelmente em relação à venda de Romelu Lukaku. Tal montante pode parecer bem menor do que o divulgado pela mídia porque desconsidera os bônus dos agentes.

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O United conseguiu diminuir o total da dívida aos outros clubes para 188 milhões, apesar de o cenário ter aumentado rapidamente depois da aposentadoria do técnico lendário.

Muitas das transferências modernas são pagas em prestações, mas dever tanto aos outros times acaba restringindo a possibilidade de novas contratações eventualmente.

Então, onde tudo isso deixa o Manchester United?

Não há dúvida que os Glazers e Ed Woodward são impopulares na maior parte dos torcedores. A falta de títulos recentemente está fazendo com que os outros times o alcancem e não há mais o incrível crescimento em negociação de patrocínios.

Então talvez Woodward estava errado e a performance em campo, na verdade, tem influência significativa no âmbito comercial do negócio. Isto, contudo, pode não assustar os donos e investidores como faz com os torcedores nos últimos tempos.

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Guilherme Rodelli

Jornalista da Rádio Futebol Online, formado em Marketing, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e apaixonado pela Premier League.