Há cinco rodadas, as perspectivas do Tottenham na reta final da Premier League eram animadoras. O time vinha de quatro vitórias consecutivas, e encostara nos oscilantes líderes Manchester City e Liverpool. A cereja do bolo era o retorno de Harry Kane, recuperado de lesão.
De lá para cá, porém, o sonho virou pesadelo. Os Spurs engataram uma sequência de cinco partidas sem vitória (e contando), sendo quatro derrotas, que o deixaram a dezesseis pontos do segundo colocado.
O estrago só não foi pior porque o North London Derby terminou empatado, na 29º rodada.

Em meio à pane nacional, contudo, o sucesso continental, com o avanço contundente às quartas de final da Champions League, e administrativo, com a estreia do novo estádio.
A dualidade do momento só reforça a pergunta: o que aconteceu com o Tottenham na Premier League?
Procurando responder a essa pergunta, a PL Brasil levantou cinco pontos para analisar, debater e entender as últimas cinco partidas dos Spurs no campeonato:
1. Gols após os 80’
O ponto mais gritante desse mês de Premier League do Tottenham é seu desempenho ofensivo na reta final das partidas. Das cinco partidas, em quatro o time sofreu gols depois dos 35 minutos do segundo tempo, que sacramentaram a derrota do clube londrino.
Barnes marcou para o Burnley aos 83; Trippier jogou a serviço do Chelsea aos 84’; James Ward-Prowse fez de falta para o Southampton, aos 81 e Salah e Alderweireld se combinaram para dar a vitória ao Liverpool aos 90 em ponto.

A única partida em que isso não aconteceu foi justamente a que o time não perdeu, contra o Arsenal, quando o placar estacionou depois do gol de pênalti de Kane aos 74.
Apesar da Premier League ter quase como característica os gols no final, os Spurs não sofriam com esse castigo desde a 20ª rodada, quando sofreu dois gols depois dos 80 na derrota por 3 a 1 para o Wolverhampton, ainda em Dezembro de 2018.
2. Mudanças na defesa
Essa desatenção ao final das partidas, se é que podemos chamar os recorrentes erros assim, podem ter relação com as constantes mudanças na linha defensiva entre os jogos. Do jogo contra o Leicester (a última vitória) até aqui, cada jogo teve pelo menos duas mudanças na zaga.
Ainda que o trabalho de Mauricio Pochettino seja marcado pelo revezamento de jogadores e pela variação entre as linhas de três, quatro e cinco defensores, as alterações pareciam sempre mexer de maneira mais profunda na maneira da equipe se defender.
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Para efeito de comparação, na sequência anterior de quatro vitórias consecutivas (Fulham, Watford, Newcastle e Leicester), o treinador manteve sempre três defensores de um jogo para o outro. Foram três gols sofridos naquele mês, contra nove durante este – com um jogo a mais, é bom pontuar.
3. O lado direito da defesa
O corredor direito defensivo é o grande mapa da mina do Tottenham nestes últimos jogos, talvez até da temporada.
O desempenho de Trippier até aqui é muito abaixo do que apresentou na Copa da Rússia e até mesmo na última edição da Premier League; Aurier é irregular e Kyle Walker-Peters é ainda uma promessa. Mas o problema dos Spurs é mais no setor do que necessariamente dos seus alas.
A transição defensiva – a volta do campo de ataque para o de defesa durante um contra-ataque – é muito lenta naquele lado, geralmente com Eriksen compondo o meio por ali e com Son segurando o fôlego na recomposição para explodir nos contra-ataques.

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Os adversários não falharam em perceber isso. Pelo menos um gol em cada um dos últimos cinco jogos foi originado ou executado por ali. Os dois gols do Liverpool, o primeiro do Southampton e o segundo do Burnley saíram de cruzamentos sem contestação do lado esquerdo do ataque rival.
Contra o Arsenal, Ramsey arrancou sozinho por ali para concluir cara a cara com Lloris, enquanto Trippier poupou o trabalho do Chelsea com um passe bizarro do bico direito da grande área que enganou o goleiro.
4. UCL, Big Six, “gordura” e nenhum empate
Contextualizar e situar o Tottenham no mês passado ajuda a entender os seus resultados. A começar pelas eliminações nas duas copas, da Inglaterra e da Liga Inglesa, durante a sequência anterior de derrotas.
Os revezes fizeram os Spurs aumentar a intensidade nos jogos “tranquilos” como contra o Fulham e Newcastle, além da pressão sob o resultado nas oitavas da Champions League – tendo, ainda por cima, a memória da eliminação para a Juventus nos últimos minutos das oitavas da última edição.
O time então, foi mais cansado e menos atento para esses últimos jogos, três deles no meio da disputa das oitavas com o Borussia Dortmund.
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Vale notar também os adversários. Burnley e Southampton lutando contra o rebaixamento e nada menos que três dos clubes do chamado “Big Six”: Chelsea, Arsenal e Liverpool.
Um elemento que também pode ter interferido é a “gordura” que o time tinha ao chegar na 27ª rodada, empatado no número de vitórias (20) tanto com Liverpool, tanto com Manchester City.
Em meio a tantas questões de calendário, não é absurdo pensar que em alguns momentos Pochettino e seus comandados tenham tirado um pouco o pé do acelerador para especular um empate.
O problema é que, até o jogo contra o Arsenal, o Tottenham não havia empatado um jogo sequer no campeonato.
Nas quatro derrotas da sequência, ou pelo menos nas três em que conseguiu chegar a igualdade no placar, parecia faltar “método” para manter um empate, uma partida da temporada para servir de exemplo, para olhar para trás e seguir o método.
5. O desempenho não foi exatamente ruim
Na frieza dos números, o time de Pochettino não teve um desempenho ruim. Na sequência negativa, 60% de posse de bola, com média de 500 passes e acima de 80% de acerto, além de cerca de dez desarmes por jogo.
Os dados por si só não dizem muita coisa, mas são praticamente os mesmo da série anterior de jogos, de quatro vitórias consecutivas: 66% de posse, com um pouco mais de 600 passes e 84% de acerto, além de sete desarmes a cada partida, em média. A situação, então, não é tão ruim, pelo menos na bola.

A regularidade da equipe se dá muito, é claro, pela continuidade do trabalho, do entrosamento dos jogadores, mas aponta que o erro está nos detalhes, na concentração, numa alteração defensiva, na postura ao final dos jogos, até na profundidade do elenco.
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Até porque o time produz. O Tottenham só não marcou contra o Chelsea, e todas as outras partidas em que saiu perdendo, correu atrás do empate. Harry Kane, também é uma boa notícia, anotando três gols e comprovando que sua recuperação foi completa.
E tem ainda uma quartas de final de Champions League pela frente, com um estádio novinho em folha. A ver os próximos passos.