Por Maria Tereza Santos e Rômulo Soares
Já faz quase um ano desde que a Premier League acusou o Manchester City de 115 violações de regras financeiras em nove temporadas (de 2009 a 2018), algo único na história da liga.
Além da suspeita de omissão de informações financeiras precisas sobre a remuneração durante o seu período de ascensão nos últimos anos, a Premier League acusa o Manchester City de violar as regras de rentabilidade e sustentabilidade (PSR) — o equivalente ao Fair Play Financeiro do Campeonato Inglês — de 2015/16 a 2017/18. Os Citizens teriam perdido mais de 105 milhões de libras em um período de três anos, valor máximo permitido pela liga.
Títulos conquistados de 2009 a 2018 (período que o clube é acusado de violar as regras financeiras da Premier League:
O Manchester City nega veementemente as acusações. Em 2023, o clube disse que esperava esta oportunidade para encerrar a investigação que começou em 2018 “de uma vez por todas”.
No entanto, quase um ano depois da acusação, o atual campeão da Premier League ainda não foi convocado para uma audiência, ao mesmo tempo em que outros clubes da liga estão sendo forçados a responder por seus supostos delitos financeiros.
Quais são as acusações contra o Manchester City?
O Manchester City é acusado de:
- Não divulgar informações financeiras de forma precisa. Isso engloba suas receitas (incluindo as de patrocínio) e custos operacionais.
- Não fornecer detalhes da remuneração de Roberto Mancini durante os quatro anos em que ele esteve no comando técnico.
- Violar as regras de fair play financeiro (FFP) da Uefa, bem como o PSR da Premier League. A liga inglesa alega ainda que o clube não cooperou totalmente com as investigações.
Linha do tempo da investigação
➡️ Em novembro de 2018, o jornal alemão “Der Spiegel” publicou uma série de quatro matérias destacando as supostas irregularidades do Manchester City — descumprimento de regras financeiras da Uefa. A partir de documentos vazados no extinto site “Fotball Leaks”, a reportagem revelou que Sheikh Mansour, membro da família real de Abu Dhabi e dono do clube, teria feito aportes diretos ao time, o que é proibido pela Premier League.
Os emails e planilhas divulgados no jornal davam a entender que o administrador teria injetado dinheiro no City por meio dos seus outros negócios, como empresas de marketing, a fim de acobertar o valor realmente gasto com investimentos.
Além disso, a reportagem mostra que Roberto Mancini, técnico que comandou o Manchester City de 2009 a 2013, ganhou um cargo na TV Aljazeera, que também pertence ao Sheikh Mansour, quando foi contratado pelo clube. Dessa forma, o treinador campeão da Premier League em 2011/12 com os Citizens receberia dois salários vindos da mesma fonte — mas o único declarado formalmente seria o proveniente do clube.
➡️Em fevereiro de 2020, após a publicação da reportagem, o time comandado por Pep Guardiola foi suspenso das competições continentais por dois anos pela Uefa, com o argumento de que clube exagerou no valor de “sua receita de patrocínio em suas contas” entre 2012 e 2016.
Porém, ➡️cinco meses depois, a decisão acabou sendo anulada pelo Tribunal Arbitral do Desporto (CAS). A entidade alegou que a maior parte das reivindicações apresentadas pela Uefa eram anteriores aos últimos cinco anos e, por isso, eles não poderiam aprovar as acusações. Além disso, o CAS argumentou que a Uefa não apresentou evidências suficientes sobre pagamentos relacionados ao patrocínio da Etihad Airlines.
O clube sempre alegou veementemente que seguiu os regulamentos. Porém, ➡️ em fevereiro de 2023, as acusações de 115 infrações de regras financeiras foram apresentadas pela Premier League e agora caberá a uma comissão independente ouvir todas as testemunhas e julgar o caso em uma audiência.
➡️Vem aí? Na última terça-feira (16), Richard Masters, CEO da Premier League, disse que existe uma data para a realização da sessão que tratará as possíveis irregularidades cometidas pelo clube, mas ele não revelou o dia. Segundo o jornal “Telegraph”, no entanto, há a possibilidade de que ela aconteça na próxima semana.
Por que o Everton já foi julgado e o Manchester City, não?
A demora para a resolução do caso do Manchester City em relação ao caso do Everton, que foi julgado em poucos meses e já sofreu uma dedução de 10 pontos pela Premier League, inflama torcedores, que estão indignados com a falta de agilidade na ação em relação ao vencedor da Tríplice Coroa na temporada passada. Mas os casos são amplamente diferentes.
Apesar de envolver o financiamento de um projeto de estádio próprio e a capacidade de compra e venda de jogadores.
O caso do Everton, na prática, é simples:
Bastou a comissão independente aplicar a regra de fair play estabelecida pela Premier League, checando se o clube teve uma perda de até 105 milhões de libras em três anos. Essa apuração demandou que os Toffees apresentassem, basicamente, os documentos de balanço financeiro — algo que os clubes são obrigados a fazer. Foi simples de ser provado.
Apesar de o caso do Manchester City parecer o mesmo para parte dos torcedores, não é o caso. Isso porque as alegações contra o clube giram em torno de supostas mentiras e esquemas de corrupção para burlar os regulamentos da Uefa e da Premier League.
Em outras palavras, a acusação alega que os donos do City estão mentindo para os auditores sobre gastos com patrocínio, salários e contratações.
As acusações de mentira e corrupção são direcionadas ao Sheikh Mansour. Além de ser dono do Manchester City, ele é um membro poderoso da família real dos Emirados Árabes. Portanto, não é um caso simples tanto para a Premier League quanto para o Reino Unido, já que, além de tudo, há questões diplomáticas em torno da investigação.
De acordo com o jornal “The Athletic”, as denúncias feitas pela Premier League contra o Manchester City foram tema de discussão da embaixada britânica em Abu Dhabi e o Escritório da Comunidade Estrangeira e Desenvolvimento (FCDO) em Londres. As autoridades, porém, se recusaram a divulgar o conteúdo do debate, dizendo que isso poderia colocar em risco a relação diplomática entre os países.
O Manchester City negou veementemente as acusações, diferente do Everton, que cumpriu com o processo e contribuiu com as investigações. Os Citizens não o fizeram porque não acreditam que tenham cometido qualquer delito e devem se defender vigorosamente com um robusto corpo de advogados.