Victor Alexander da Silva, ou Vitinho, não é dos jogadores mais conhecidos do público brasileiro. O lateral-direito, formado pelo Cruzeiro, saiu do país aos 18 anos, com apenas um jogo no futebol profissional, para abraçar a missão de se desenvolver no futebol europeu.
Depois de uma longa passagem pelo Cercle Brugge, da Bélgica, Vitinho aterrissou em Burnley em agosto de 2022 para disputar a Championship. Uma temporada de título nacional fez com que ele estreasse na Premier League nesta sexta-feira (11), diante do Manchester City.
Mesmo longe há muito tempo, o brasileiro ainda acompanha o Cruzeiro e o futebol brasileiro. Ele confessou o desejo de voltar no futuro, mas garantiu que o nível do seu time atual, treinado pelo ex-zagueiro e pupilo de Guardiola, Vincent Kompany, não deve nada para os clubes mais fortes do Brasil.
A quantidade de brasileiros na Premier League, o nível da segunda divisão inglesa e o sonho de jogar pela seleção brasileira foram outros assuntos abordados na entrevista exclusiva da PL Brasil com o lateral, que atendeu a reportagem por videoconferência direto de Manchester, onde mora.
Vitinho ainda afirma que prevê em breve chances de representar seu país na categoria profissional — ele disputou o Sul-Americano sub-20 de 2019. “A escolha do Fernando Diniz como treinador me anima bastante“, admitiu.
Confira abaixo a segunda parte da conversa com Vitinho. A primeira, na qual o jogador fala mais sobre Premier League, o estilo de Kompany e a vida na Europa, você confere aqui.
‘Me assustei com o nível da Championship’
Como foi chegar na Inglaterra para jogar na Championship? Acha que o nível se compara com o Brasileirão?
Vitinho: Vou falar a verdade: antes de chegar na Inglaterra, eu não acompanhava a Championship. E, quando eu cheguei, me assustei. Pelo nível que são os jogos e os clubes. No começo da temporada, você vê que todos podem brigar para subir. São 46 jogos (na temporada regulamentar) e acho que só uma vez jogamos num campo mais ou menos. Todos os outros eram tops.
A Championship está na frente de muitos campeonatos, até do belga em que eu estava. O Brasileirão é muito bom, em níveis técnicos e individuais, está entre o top 5. A Championship é totalmente diferente, é mais pegado, mais correria, mais duelos. Não pode vacilar em momento algum.
Um brasileiro ir para a Championship, principalmente os mais novos, é um belo campeonato para você se adaptar. Vai aprender bastante, ver como é a Inglaterra. Claro que não é a Premier League, mas dá para sentir como é.
Onde o Burnley brigaria no Brasileirão?
Vitinho: Do jeito que a gente joga, brigaríamos lá em cima no Campeonato Brasileiro, contra times como Palmeiras e Flamengo. Temos um jogo bastante intenso que faz a diferença.
Essa temporada da Premier League terá 34 brasileiros — apenas Luton Town, Everton e Brentford não tem nenhum jogador do país. Como vê essa quantidade de brasileiros na liga?
Vitinho: Hoje, a Premier League é o objetivo de qualquer jogador. É o campeonato mais difícil do mundo, onde todos os clubes tem condições de brigar lá em cima. O aumento de brasileiros aqui é um ganho para o futebol brasileiro. Sou o primeiro do Burnley e espero ser o primeiro de muitos. Fico feliz da Inglaterra estar abrindo as portas para a gente, porque sabemos que o que temos no Brasil não dá para achar em outro país.
ESPECIAL COPINHA
Torcedor em campo: Vitinho vive sonho de atuar pelo Clube do coração #CruzeiroNaCopaSP https://t.co/h8IrcLmfkA pic.twitter.com/qXKPualvmb— Cruzeiro 🦊 (@Cruzeiro) January 13, 2017
O sonho de voltar ao Cruzeiro
Você ainda companha o Cruzeiro?
Vitinho: Acompanho o Cruzeiro sempre que estou no Brasil, vou assistir aos jogos. Sou grato porque entrei lá menino e saí homem. Sou muito grato. Vi que passou por momentos difíceis, mas agora voltou. Torço para se reerguer ainda mais e voltar a ser o grande Cruzeiro que todo mundo conhece. Saí de lá em 2018, um ano antes da crise explodir e ser rebaixado, mas nunca percebi que tinha algo errado.
Tem alguém daquele elenco do Cruzeiro que poderia jogar na Premier League?
Vitinho: Arrascaeta, Fábio e Thiago Neves eram os mais especiais. O grupo do Cruzeiro era muito forte. Todos eles poderiam jogar na Premier League (risos). O Arrascaeta ainda caberia hoje em dia porque é um craque.
Você se imagina voltando ao Cruzeiro daqui alguns anos?
Vitinho: Eu me imagino muito no Cruzeiro, mas não jogaria só no Cruzeiro. Tenho uma gratidão e carinho enorme pelo clube, por isso me vejo voltando ao Brasil no futuro e jogando no Cruzeiro. É perto da família, é o clube onde fiquei 12 anos, mas não é o único (onde eu jogaria).
Seleção brasileira: ‘Esse ano vai ser chave’
O lateral-direito da Seleção na última Copa do Mundo, Danilo, deu uma entrevista recentemente para o “ge” dizendo que a posição na equipe nacional deveria ser ocupada por alguém que “interprete a função de uma maneira diferente” da dele, correndo a faixa lateral o tempo inteiro, chegando no fundo, do jeito “que a seleção brasileira se acostumou em gerações passadas”. Qual é a sua opinião?
Vitinho: O futebol está mudando e o lateral escolhido vai depender da maneira que o treinador quer jogar. Tivemos ótimos laterais no passado, mas às vezes o treinador quer laterais construtores, em outras ele quer que ajudem mais na parte ofensiva. Não podemos ver o lateral da Seleção como alguém que precisa atacar o tempo inteiro.
Você se sente preparado para ocupar essa posição?
Vitinho: Eu acho que ainda estou me preparando. Esse ano vai ser chave. Depende só de mim porque estarei jogando o melhor campeonato do mundo. Tenho plena confiança que vou ter minha oportunidade.
Ainda vemos um certo preconceito no Brasil com jogadores que vão para a seleção brasileira sem fazer parte de um time europeu mais conhecido. Você acha que jogar no Burnley te atrapalha nas convocações?
Vitinho: Se a gente estivesse no passado, seria mais difícil. Hoje acho que não. Acredito que vão levar jogadores mais novos para testar. Já vesti a camisa da Seleção na base e vou estar pronto para vestir de novo.
O que achou da escolha, a princípio provisória, por Fernando Diniz no comando da Seleção?
Vitinho: A escolha pelo Diniz me anima bastante porque ele é um cara que gosta da posse de bola, e aqui no Burnley é assim o tempo inteiro. Estar com o Kompany aqui vai me ajudar bastante. Ele mesmo já conversou comigo sobre seleção brasileira. O estilo de jogo do Diniz é bastante parecido com o do Kompany, isso é bom para mim.
O que o Kompany te falou?
Vitinho: Kompany me falou que ele me vê com muitas chances de jogar na Seleção, pelo que trabalho todos os dias e que, se depender dele, vou ser convocado. Então só depende de mim. Mas ele não fala sobre o Diniz, acho que não sabe quem é.