Em janeiro, o site inglês “The Athletic” revelou que Kevin De Bruyne atuou sem a ajuda de empresários nas negociações por sua renovação de contrato com o Manchester City em 2021.
Na época das tratativas, veículos de imprensa na Europa já haviam noticiado que o belga contratou os serviços de uma empresa de análise tática para que ele pudesse embasar suas demandas.
Na publicação do “The Athletic”, agentes de futebol disseram, de forma anônima, acreditar que esse deve ser o futuro do futebol: jogadores se baseiam em dados e estatísticas para negociar propostas e renovação com clubes.
Será que a estratégia de De Bruyne já está sendo usada por brasileiros na Europa? Para responder essa pergunta, a PL Brasil conversou com João Marcos Vojnovic, criador da Pro Scout Agency, e Diego Vieira, sócio fundador da OutlierFC, para descobrir se essa já é uma realidade e entender como a estratégia funciona na prática.
Ambas as empresas assessoram jogadores brasileiros que atuam na Premier League, como Emerson Royal, Danilo, Andreas Pereira e Joelinton.
As empresas de scout estão ajudando na negociação de brasileiros?
Os dois especialistas contaram à PL Brasil que suas empresas já foram contratadas por jogadores que desejavam fazer o mesmo processo escolhido por De Bruyne: coletar dados que corroborassem sua vontade de jogar em clube específico ou de negociar uma proposta melhor. Ainda não aconteceu com atletas atuando na Europa, mas já houve casos em equipes brasileiras.
Vojnovic não revelou o nome do jogador, nem o do clube, mas contou uma situação parecida com a vivida pelo craque do City. Um atleta que não é cliente fixo da Pro Scout procurou a empresa para levantar dados e ajudá-lo nas tratativas com um novo clube. Após o fim de seu contrato com uma “equipe grande do Brasil”, ele recebeu propostas de times de menor expressão.
— Ele falou ‘poxa, acho que eu tenho dados suficientes para jogar pelo menos em uma equipe média, da série A’. E a gente levantou esses dados, conseguiu passar para ele, mostramos com a nossa base e isso foi suficiente para ele levar para os empresários dele passarem ao clube — contou Vojnovic.
Na Outlier, Diego explicou o que a empresa faz quando seus clientes precisam desse suporte no momento das negociações.
— A gente monta um material, com dados quantitativos e qualitativos, de como joga esse clube, quais são os valores que estão ali presentes, como joga aquele treinador, como é a liga, como são os jogadores da posição dele para ele ter um pouco mais da concorrência. A gente repassa isso para os nossos clientes e também ao agente, muitas vezes, para que eles possam ter mais um elemento, outra ferramenta para auxiliar na decisão dele — contou Diego.
No entanto, este é apenas um elemento dentro de todo o espectro que é levado em consideração quando surgem as propostas. Diego explicou que esse processo funciona baseado em três pilares, independente da transferência acontecer dentro ou fora do Brasil.
O primeiro pilar são os familiares e as preferências individuais do atleta. Ou seja, leva-se em conta o que a família deseja, se o atleta prefere uma cidade que faz mais calor ou frio, se o jogador tem o objetivo pessoal de estar em clube X ou Y. Em segundo, há o lado comercial, que envolve os clubes, o agente do jogador, valores da negociação, salário…
— E aí, por fim, tem o projeto em si. Então, como é o treinador do clube para o qual ele pode ir, como é o time, os clubes em questão, como é a liga que ele pode atuar, qual o modelo de jogo desse clube ou clubes em questão. E aí, nesse último pilar, é aí que a gente consegue ajudar — completou Diego.
Diego explica que apesar de a Outlier FC oferecer esse tipo de análise para jogadores que não são agenciados pela empresa, isso não acontece de forma rotineira. Isso porque o trabalho da empresa é “muito focado em desenvolver esse atleta para que ele seja bem adaptado”, e não apenas auxiliar nas negociações em si.
Na Pro Scout, Vojnovic explica que há, muitas vezes, um acompanhamento junto ao empresário dos clientes para que os agente cheguem ao fim da temporada já entendendo se o atleta chegou ao nível exigido por clubes maiores ou de fora do país, por exemplo.
— Em alguns casos, a Pro Scout já tem o contato com o empresário, que já conversa e manda, até mesmo rodada a rodada os números ali. Depois ele só soma, ou passa no fim do ano e pergunta se dá para buscar algo a mais — relata Vojnovic.
O fundador da Pro Scout também vê a tendência do uso da assessoria tática de forma positiva e entende que, além de ser um retrato da geração atual de jogadores, é o que deve ditar o futuro do futebol.
— Acho que, no futebol de hoje, isso está crescendo cada vez mais. Eu me arriscaria a dizer que quem não está fazendo isso está ficando um pouco para trás. Mas isso diz muito sobre a geração de atletas que vem vindo, principalmente os brasileiros. É claro que no mundo todo tem, mas se a gente for ver números reais, os atletas brasileiros são os que mais procuram consultoria tática — finaliza Vojnovic.