Desde o Relatório Taylor, publicado no início de 1990, mudou-se a concepção de estádios do futebol inglês. Pelo menos para o futebol de elite, novas normas de acomodação obrigaram os clubes a adaptar seus campos, reformar a infraestrutura e revisar a capacidade de suas arquibancadas.
Em muitos casos, os times optaram por começar do zero, construindo ou mudando-se para novas casas. O crescimento econômico da Premier League também estimulou essa troca. Times expandindo sua capacidade de arrecadação nas bilheterias e investindo em sua imagem com novas e modernas arenas.
Se essa movimentação oxigenou o futebol inglês, foi de certa forma um atentado à tradição de diversos estádios, muitos deles centenários, que carregavam um pedaço de história em cada bloco de cimento.
Num clima de saudade e nostalgia, a PL Brasil lista aqui cinco desses “monumentos”, que ocuparam o imaginário popular inglês, idolatrados por seus torcedores e até temido pelos adversários. Confira:
5 estádios do futebol inglês que não existem mais
White Hart Lane
O “caçula” dos antigos estádios do futebol inglês. Localizado no bairro de Tottenham, no norte de Londres, foi o lar dos Spurs por 118 anos.
O White Hart Lane, cujo nome compartilha com a estação de trem a menos de quinhentos metros de distância, foi um dos primeiros da Inglaterra a oferecer cobertura para uma capacidade de cerca de 50 mil lugares.
Casa do Tottenham durante todas as campanhas de título de sua história, o estádio teve seu recorde de público em 1938. Foi justamente no período de maior seca de conquistas do clube, que perdurou de 1921 a 1950.
No dia, 75 mil pessoas compareceram a uma goleada por 4 a 1 sobre o Sunderland, pela Copa da Inglaterra.
Os problemas em sua estrutura centenária, e, principalmente, em seu acesso para os torcedores, ocasionaram na sua demolição, em 2017.
Em seu lugar, os Spurs preparam a inauguração do Tottenham Hotspur Stadium, moderna arena orçada em 5 bilhões de reais e com capacidade oficial para 62 mil pessoas.
Boleyn Ground (Upton Park)
O nome Boley Ground, mas você pode chamar de Upton Park. O local foi a casa do West Ham de 1904 a 2016.
Depois, o clube londrino mudou-se para o Estádio Olímpico, moderna arena construída para as Olimpíadas de 2012.
No mesmo ano, o Upton Park foi demolido e teve seu terreno preparado para receber mais de oitocentas moradias, biblioteca e um parque, no projeto chamado Upton Gardens.
Conhecido por sua atmosfera “elétrica”, o estádio foi decisivo na conquista dos oito títulos dos Hammers. Era símbolo da resiliência inglesa, para além dos gramados. Em 1944, teve uma de suas arquibancadas bombardeada por uma caça alemão durante a Segunda Guerra.
O West Ham foi então obrigado a jogar fora do estádio, onde engataram uma sequência de dez partidas invicto, até retornar, em dezembro de 1944, numa derrota por 1 a 0 para o Tottenham.
Dezesseis anos depois, o mesmo Tottenham seria o adversário no recorde de público do estádio. Em 1970, foram 42.322 espectadores que assistiram ao empate por 2 a 2 no clássico londrino.
Maine Road
Apesar de não existir mais no bairro de Moss Side, o estádio é uma prova registrada de que a grandeza do Manchester City não veio com os dólares dos Emirados Árabes.
Conhecido como o “Wembley do Norte”, Maine Road deteve por 92 anos o recorde de público na Inglaterra. Em 1924, 76.166 pessoas viram a vitória por 1 a 0 sobre o Cardiff, que levou os Citizens às semis da Copa da Inglaterra.
O estádio teve também a arquibancada mais alta de seu país, a Kippax Stand. Eram três andares e com 14 mil lugares, construídos nos meados dos anos noventa.
Inaugurado em 1923, Maine Road foi deixado – e demolido – em 2003, quando o Manchester City optou por mandar seus jogos no City of Manchester (hoje Etihad Stadium).
No local em Moss Side, o estádio não deu lugar a um empreendimento específico, mas alguns condomínios conservam os portões azuis originais do estádio.
Ayresome Park
O bairro de Ayresome, em Middlesbrough, tem uma das mais belas e interessantes homenagens já feitas a ex-estádios na Inglaterra. No local onde ficava o Ayresome Park, pequenas estátuas de bronze dividem espaço com casas, jardins e gramados.
Os ornamentos são posicionados nos locais exatos de pontos históricos do antigo campo. Uma bola situada onde era a marca do pênalti de um dos gols e uma fileira de chuteiras onde ficava o centro do campo são os mais famosos.
Não é à toa a homenagem à construção de 1902, já que em praticamente todas suas conquistas, o Middlesbrough tinha o lugar como mando de campo, incluindo o título da Championship de 1994/95, no ano de despedida do estádio.
O Ayresome Park também recebeu jogos da Copa do Mundo de 1966.
O gol de Pak Doo-ik também foi eternizado no terreno de Ayresome, com uma placa no local exato do chute do norte coreano.
Arsenal Stadium (Highbury)
Para o torcedor do Arsenal, o Highbury é um templo, um local sagrado que foi a casa dos Gunners por 93 anos e em 93% dos títulos do clube. Inaugurado em 1913 como Arsenal Stadium, foi demolido em 2006 com quase 40 mil lugares de capacidade.
O jogo de despedida, uma vitória do Arsenal por 4 a 2 em cima do Wigan, foi quase uma histeria coletiva, com torcedores aos prantos e tentando levar qualquer souvenir a seu alcance.
Hoje um conjunto de moradias, ainda é “louvado” pelos Gunners. Ele recebe visitantes em dias de jogo no Emirates, que vão para contemplar os locais de gols históricos ou até tentar pegar um pouco a grama do jardim posicionado no local exato do campo.
Os últimos anos do Arsenal em Highbury foram decisivos para essa idolatria. Em 2004, a histórica campanha dos Invicibles; e em 2005/06, sua última temporada, uma fantástica campanha na Champions League.
Em seis jogos no campo, foram quatro vitórias e dois empates, com nove gols pró e apenas um contra.