Uma investigação do Ministério Público de Goiás tem revelado esquemas de manipulação de resultados em partidas de futebol em esquemas de aposta. Até o momento, 16 pessoas foram denunciadas por fraudes em 13 jogos, sendo oito da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, uma da Série B do Brasileiro e quatro de Campeonatos Estaduais deste ano.
Na denúncia encaminhada ao Poder Judiciário, constam mais de 100 páginas e prints de conversas e transcrições de áudios entre os denunciados. Ao total, são 23 fatos evidenciados, incluindo jogadores se comprometendo a receber cartões e cometer pênaltis para beneficiar esquemas de apostas.
Jogadores envolvidos em esquema de apostas no futebol europeu
Escândalos como os que estão sendo evidenciados no Brasil não são exclusividade do futebol brasileiro. Em 2013, investigadores da agência europeia de polícia “Europol” revelaram que 380 jogos tiveram seus resultados manipulados em diversos pontos da Europa, incluindo eliminatórias da Copa do Mundo, Eurocopa e dois jogos da Champions League -– um deles disputado na Inglaterra entre 2009 e 2010.
Manipulações no futebol turco
Em 2011, um grande escândalo de manipulações de resultados foi revelado no futebol turco envolvendo 12 clubes. Classificado para a Champions League, o Fenerbahçe acabou excluído da competição. Além dele, o Beşiktaş perdeu o título da Copa da Turquia. O caso resultou na prisão de mais de 60 pessoas, incluindo o ex-presidente dos Fenerbahçe, Aziz Yildirim.
Escândalo na Serie A da Itália
No ano seguinte, surgiu um escândalo no futebol italiano. A polícia da Itália flagrou o atacante Sculli, que estava no Genoa e hoje atua no Pescara, se encontrando com pessoas ligadas à máfia de apostas ilegais. O jogador estava acompanhado de outros atletas que foram colocados como suspeitos:
- Kakhaber Kaladze (ex-Milan)
- Domenico Criscito (ex-Zenit)
- Stefano Mauri (ex-Lazio)
O esquema era controlado desde Singapura e envolvia jogos de todas as divisões profissionais do futebol italiano. Até o ex-técnico do Tottenham, Antonio Conte, foi suspenso por saber do plano e não ter denunciado quando era comandante do Siena.
Caso de Paolo Rossi
No final da década de 1970, a Itália tinha uma loteria esportiva oficial organizada pelo governo, chamada “Totocalcio“, em que apostadores tinham que acertar o resultado de todos os jogos do concurso para ganhar o prêmio. Porém, havia um esquema clandestino, semelhante ao tradicional “jogo do bicho” no Brasil, que dava a opção de apostar apenas em uma ou duas partidas.
Uma das vendas ilegais ficava dentro de um restaurante de Roma. Os donos da banca notaram que alguns clientes estavam lucrando muito acertando vários resultados, o que acendeu a suspeita de que havia um esquema de aposta envolvendo jogadores.
Depois de uma denúncia na Procuradoria da República, em 1980, 13 atletas da primeira divisão italiana foram presos em um período de 23 dias por envolvimento com a máfia. O nome de Paolo Rossi, ex-Juventus e Milan, apareceu em uma das listas de jogadores ligados ao golpe, porém o centroavante não chegou a ser detido, mesmo sendo condenado a um ano de prisão.
No total, 20 atletas foram punidos esportivamente. Paolo Rossi, considerado um dos protagonistas do esquema, levou uma das punições mais severas: três anos de afastamento das competições. Porém, o atacante conseguiu reduzir a pena na esfera judicial, com o argumento que ainda não havia legislação sobre o mercado de apostas no país naquela época.
Paolo Rossi, do Perugia, era um dos jogadores envolvidos nesse esquema. Ele acabaria sendo suspenso por três anos pela FIGC. A pena, posteriormente, seria reduzida em um ano. Os brasileiros sabem bem o que aconteceu neste período de perdão pic.twitter.com/vSVsL45MMY
— Luan Araujo (@luanaraujo90) May 10, 2023
Assim, em 1982, Paolo Rossi foi artilheiro da Copa do Mundo e campeão do Mundial, disputado na Espanha, pela seleção italiana. O atacante, inclusive, marcou um hat-trick na semifinal contra o Brasil, vencida pelos italianos por 3 a 2.
Caso Calciopoli
No ano da última conquista italiana, em 2006, foi descoberto um caso parecido chamado de “Escândalo da Série A” (Calciopoli em Italiano). Alguns dos principais clubes do país estiveram envolvidos em um esquema de manipulação de resultados na temporada 2004-05 do Campeonato Italiano: Juventus, Milan, Fiorentina e Lazio.
Em primeira instância, os clubes sofreram uma drástica perda de pontos. Juventus, Fiorentina e Lazio foram rebaixados para a Segunda Divisão, enquanto o Milan foi punido com 30 pontos no Campeonato Italiano do ano seguinte, sem o direito de disputar a Champions League.
Depois de várias apelações, a punição foi diminuída e só a Juventus ficou na Segunda Divisão, tendo que iniciar a competição com 17 pontos a menos. Lazio e Fiorentina puderam jogar a Serie A, porém com 11 e 19 pontos negativos, respectivamente. Já o Milan começou a Primeira Divisão com oito pontos a menos e pôde jogar a Champions League.
Reggina e Siena, que não estiveram envolvidos diretamente no caso, também sofreram sanções. Um perdeu 11 pontos e outro apenas um.
Esquemas de apostas na Inglaterra

- O lateral-direito do Newcastle Kieran Trippier apostou indiretamente na sua própria transferência do Tottenham para o Atlético de Madrid em 2018, fato que violou as regras de aposta. Em 2020, ele foi punido pela Federação Inglesa de Futebol (FA) com uma suspensão de 10 semanas, além de multa no valor de 70 mil libras (R$ 490 mil).
2. No mesmo ano, Daniel Sturridge foi suspenso por quatro meses e recebeu multa de 150 mil libras (R$ 856 mil) por apostas ilegais. Ele pediu ao seu irmão que apostasse em sua transferência para o Sevilla em janeiro de 2018, conforme foi apurado pela FA.
3. O atual treinador do Bristol Rovers (da Terceira Divisão Inglesa), Joey Barton, quando era meia do Burnley em 2017, foi punido pela FA com 18 meses de suspensão e a pagar uma multa de 30 mil libras (R$ 122 mil) por um caso de apostas ilegais. O inglês realizou 1.260 apostas em jogos de futebol entre 26 de março de 2006 e 13 de maio de 2016, violando as regras da Federação Inglesa que diz que os jogadores “não podem apostar direta ou indiretamente e instruir, permitir, causar ou propiciar que nenhuma pessoa aposte sobre o placar ou resultado de partidas de futebol em todo o mundo”.
4. O caso mais recente foi de Ivan Toney, artilheiro do Brentford na Premier League, com 20 gols. O atacante é investigado pela FA por um possível envolvimento com apostas esportivas. Não há indícios no que diz respeito à manipulação de resultados, mas a Federação Inglesa suspeita que o jogador tenha feito apostas em jogos de futebol, o que é proibido pela federação do país.