Erik Ten Hag foi do céu ao inferno em menos de uma semana. Quatro dias depois de receber o prêmio de Técnico do Mês da Premier League, o treinador do Manchester United viveu uma melancólica eliminação na Champions League ainda na fase de grupos.
Lanterna do grupo A, os Red Devils não conseguiram nem beliscar uma vaga para a Europa League. Com um time cheio de problemas – na bola e no extracampo — desde o começo da temporada e um clássico contra o líder Liverpool pela frente, a expectativa é de que o cargo de Ten Hag estivesse em risco.
No entanto, uma análise do site inglês “The Athletic” explica por meio de três argumentos por que não há perigo de demissão para o holandês — pelo menos, não por enquanto.
1. O atraso na compra do United
O bilionário inglês Sir Jim Ratcliffe, fundador da petroquímica INEOS, será o novo dono de 25% das ações do Manchester United. Ao contrário do que aconteceria em outros clubes, ele deverá assumir as operações de futebol do clube, mesmo não sendo o acionista majoritário — essa parcela maior ainda pertence à família Glazer.
A compra ainda não foi aprovada pela Premier League, que também não deu um prazo de quando o negócio será oficializado. Enquanto isso, o empresário já começou a “mexer os pauzinhos”.
Em novembro, o United anunciou que Richard Arnold, o chefe-executivo do clube até então, foi demitido. Patrick Stewart, diretor jurídico do United, está atuando como interino enquanto a compra não é efetivada e o “novo dono” ainda não pode indicar um novo CEO para assumir a função.
— Será que um CEO interino decidirá demitir um técnico após um mês em seu cargo temporário? É extremamente improvável – na verdade, quase incompreensível – que Stewart seja capaz de fazer isso — questiona o “The Athletic”.
2. O Fair Play financeiro da Premier League
A questão financeira também tende a pesar na decisão de demitir Ten Hag, que tem pouco mais de 18 meses de contrato restantes, no meio da temporada. Segundo o “The Athletic”, o holandês ganha 9 milhões de libras por ano (R$ 55 milhões). Por isso, encerrar seu contrato agora custaria ao clube cerca de 15 milhões de libras (R$ 93 milhões) para compensação, além dos adicionais relacionados à comissão técnica do profissional.
— Se o clube pode se dar ao luxo de dispensá-lo de suas funções é uma questão válida, especialmente porque os resultados financeiros de 2022/23 mostraram que suas reservas de caixa caíram para 76 milhões de libras (R$ 472 milhões) , enquanto restam apenas 40 milhões de libras (R$ 248 milhões) em sua linha de crédito rotativo.
Além do impacto no caixa, há ainda o custo de um novo treinador. E é aí que mora o problema. O United está sendo cuidadoso para não ultrapassar os limites do regulamento de fair play financeiro do futebol, devido aos grandes gastos em anos anteriores. “Pagar uma compensação para contratar um técnico e uma comissão não ajudaria nessas equações”, diz o site.
3. O clima no vestiário
Após a eliminação na Copa da Liga Inglesa, o “The Athletic” noticiou que “havia um sentimento crescente de inquietação” no vestiário, com jogadores começando a perder a fé em Ten Hag e seus métodos.
— Houve dúvidas sobre a decisão de escantear o zagueiro Raphael Varane, campeão mundial com a França. Alguns acharam que o afastamento do atacante inglês Jadon Sancho, de 73 milhões de libras, poderia ter sido tratado com mais delicadeza. E os comentários do técnico de que queria que o United “jogasse mais futebol”, ao justificar sua decisão de substituir o meio-campista brasileiro Casemiro, no intervalo do jogo em casa contra o Brentford, no início de outubro, não foram bem recebidos.
Para além disso, a apuração do site diz que Ten Hag não é próximo de muitos jogadores e sua “falta de carisma” tem sido frequentemente citada como um problema na gestão diária da equipe.
Porém, não há clima de terra arrasada, nem mesmo motim de atletas contra o técnico. O próprio Scott McTominay disse que o elenco “apoia firmemente” o treinador, na entrevista coletiva anterior ao jogo contra o Bayern.
E, ainda que a situação não fosse essa, como ninguém tomará uma decisão sobre troca de comando até a chegada de Ratcliffe, não seria o melhor dos momentos para “tentar se livrar de um treinador”.
O United já está procurando um substituto para Ten Hag?
Segundo informações do jornal “The Times”, do início de novembro, o Manchester United estava considerando dois treinadores para o lugar de Erik Ten Hag: Rúben Amorim, do Sporting, e Zinedine Zidane, sem clube.
Porém, segundo o “The Athletic”, o setor de contratação do clube ainda não fez nenhuma análise para trazer um novo treinador.
— A graça salvadora de Ten Hag, além do apoio de quem está acima dele no clube, é que eles estão relutantes, até mesmo impotentes, em mudar de rumo e demiti-lo. Seu futuro estará sob o microscópio assim que o acordo com a INEOS for aprovado. Mas até então, ele parece estar em terreno seguro.