O Manchester United faz o seu pior início de Campeonato Inglês desde a temporada 1986/87, na era pré-Premier League. A derrota para o rival Manchester City no domingo (30 de outubro) foi a quinta nas dez primeiras rodadas de 2023/24.
Para piorar a situação, Erik Ten Hag não para de colecionar recordes negativos na história do clube. Pela primeira vez em 53 anos, os Diabos Vermelhos perderam duas partidas seguidas no Old Trafford por uma diferença de três ou mais gols. Só na PL, a equipe sofreu 16 gols, tornando-se a dona da oitava pior defesa da primeira divisão — na frente até mesmo de Everton, Nottingham Forest, Crystal Palace e Brentford.
O início ruim do United levanta uma questão na cabeça dos torcedores: por que Ten Hag não está tendo o mesmo sucesso que conquistou no Ajax? O site inglês “The Athletic” publicou, recentemente, algumas análises que explicam os problemas do holandês até o momento. E a PL Brasil destrinchou e resumiu os principais pontos.
O elenco do United não é igual ao do Ajax
De dezembro de 2017 a junho de 2022, Ten Hag comandou o Ajax por 215 partidas. Ele foi três vezes campeão holandês, duas vezes campeão da Copa da Holanda e conquistou uma Supercopa da Holanda. Foram 159 vitórias, 27 empates e 29 derrotas.
Um dos fatores por trás desse resultado era a eficiência do ataque do Ajax, mas as verdadeiras características principais da equipe — assim como das outras treinadas anteriormente pelo holandês — eram a alta porcentagem de posse de bola e pressão alta quando estavam sem ela.
Ao chegar no United, em 2022, a ideia de Ten Hag parecia ser implementar seu estilo no time inglês. Porém, já nas primeiras partidas, ele percebeu que isso não seria possível por causa do perfil dos jogadores. Ele basicamente seguiu o que disse quando foi apresentado no novo time:
— Não se trata de como você quer jogar, mas dos jogadores – eles decidem e ditam a filosofia de como você joga.
O que se viu em campo ao longo da última temporada era exatamente o oposto do Ajax: um time que não prioriza a posse de bola e investe nos erros adversários para vencer na base do contra-ataque. Foi dessa forma, por exemplo, que Ten Hag reviveu a boa fase de Marcus Rashford.
No fim das contas, o plano B deu certo. Em 2022/23, o técnico acumulou 42 vitórias, oito empates e 12 derrotas. Além disso, o time conquistou um título depois de sete anos sem levantar taças e garantiu uma vaga para a Champions League.
Porém, o sucesso imediato alcançado não tem se repetido nesta temporada. E, como o próprio nome diz, plano B não é a primeira opção.
Ten Hag tinha um plano…
Passada a primeira temporada de Ten Hag, na qual foi necessário improvisar sua ideia inicial para alcançar algum nível de estabilidade e confiança da direção, elenco e torcida, esperava-se que o holandês implementasse um plano diferente em campo. E, de fato, havia um caminho, conforme o próprio declarou em uma entrevista à MUTV, durante a pré-temporada.
— O que queremos ser? Queremos ser a melhor equipe de transição do mundo. Queremos surpreender, queremos jogar de forma dinâmica, queremos jogar com velocidade, queremos jogar de forma agressiva, com um espírito de equipe muito bom, porque isso é o United.
Em outras palavras, o plano de Ten Hag era transformar o Manchester United em uma equipe mais proativa que reativa, com um controle maior de jogo. Definitivamente, algo diferente do que havia sido feito nos anos anteriores com José Mourinho e Louis van Gaal.
E as coisas pareciam caminhar para esse objetivo. A chegada de André Onana para substituir David De Gea foi um sinal do treinador trazendo um goleiro que sabe jogar com os pés para auxiliar nesse processo. Da mesma forma, Rasmus Hojland chegou no Old Trafford para levar velocidade e imposição física ao ataque, bem como Mason Mount deveria auxiliar na transição do meio-campo.
Na teoria, o futuro dos Red Devils era promissor. Mas a prática tem apontado para uma direção diferente e caótica.
O que aconteceu com o futuro promissor do United?
Manchester City e Liverpool são exemplos de times da Premier League que têm estilos de jogo bem consolidados por treinadores que estão no comando das equipes há certo tempo. Mas, mesmo Pep Guardiola e Jurgen Klopp não tiveram um início de trabalho onde tudo era flores.
Só que, mesmo diante de primeiras temporadas desafiadoras, ambos permaneceram firmes às suas convicções e deram uma cara às suas equipes — além de levantar taças com elas.
Não é isso que se vê hoje no Manchester United. Nenhum torcedor dos Diabos Vermelhos que assistiu às dez primeiras rodadas do Campeonato Inglês é capaz de dizer qual é a equipe titular do seu time, nem explicar como ele joga. Ten Hag está tentando colocar seu plano em prática ou está quer manter a fórmula que deu certo na temporada passada? Ninguém sabe dizer.
Essa dúvida envolve duas grandes questões. A primeira é que implementar um novo estilo de jogo, com um elenco novo, mas oscilante por causa de lesões, é um enorme desafio e leva tempo.
A segunda é que, a pressão por resultado em meio a dezenas de crises internas que circundam o clube de Manchester, pode levar o treinador a ceder ao plano B de 2022/23. O problema é que, ao enfrentar bons times, nem sempre a estratégia de esperar o erro adversário para contra-atacar vai dar certo — especialmente quando a confiança e a pontaria dos atacantes não parecem estar nos seus melhores dias.