Bernardo, do Brighton: ‘Minhas referências não são nomes consagrados’

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Zagueiro, volante, lateral direito, e por fim, lateral esquerdo. Brasil, Áustria, Alemanha, e atualmente Inglaterra. Apesar da pouca idade, apenas 24 anos completados no último mês de maio, o brasileiro Bernardo, do Brighton & Hove Albion, já tem muita história para contar.

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Bernardo foi contratado pelo Brighton em julho de 2018 (Foto: Paul Hazlewood/BHAFC)

Filho de jogador profissional – seu pai também se chama Bernardo e foi um bom volante que defendeu Santos, São Paulo e Corinthians -, o lateral vai para sua segunda temporada na Premier League buscando não só manter a regularidade apresentada em 2018/2019, mas também, juntamente com seu clube, evoluir.

Bernardo, lateral esquerdo do Brighton, concedeu entrevista para a PL Brasil, em que falou sobre sua formação, experiência em diversas posições e clubes, e pretensões na Premier League com seu time, e o sonho de vestir a camisa da seleção brasileira.

PL Brasil entrevista Bernardo, do Brighton 

PL Brasil – Você saiu cedo do Brasil, isso foi fundamental para sua adaptação ao futebol europeu?

Bernardo – Acredito que a minha saída um tanto precoce do Brasil foi sim algo que me ajudou muito, pois eu cheguei na Europa num estágio onde eu pude me desenvolver como jogador.

Mas penso também que os clubes onde eu fiz minha formação no Brasil foram fundamentais para minha adaptação, principalmente o Audax, que realiza um trabalho na base com princípios similares ao modelo europeu.

Você aprende a jogar com muita troca de posição, variações táticas, conceitos que não são trabalhados em alguns clubes no Brasil, mas no Audax é diferente.

Bernardo foi atleta da base do clube paulista Audax (Foto: Paul Hazlewood/BHAFC)
PL Brasil – Você já atuou em diversas posições, como isso aconteceu na sua carreira?

Bernardo – Na base eu jogava principalmente como zagueiro, principalmente no período no Coritiba. Quando eu fui para o Red Bull Salzburg, da Áustria, chegou o Oscar Garcia, que é um técnico espanhol, e me colocou de volante, e foi pelo meu desempenho nessa posição que o RB Leipizig me contratou.

Chegando na Alemanha, o Klosterman, lateral direito que hoje joga na seleção alemã, estava machucado, o pessoal do clube acreditou em mim nessa posição, mesmo eu sendo canhoto. Eu topei, pois eu queria jogar, e acabei fazendo uma temporada inteira como lateral direito.

Quando o Lukas Klosterman voltou a gente ficou revezando os jogos, mas depois fui para a lateral esquerda, disputando posição com o Halstenberg. Foi nesse momento que eu, já tendo uma ideia de como é o futebol europeu, vi que o melhor para mim seria mesmo seguir como lateral esquerdo, e está sendo assim no Brighton. Mas claro que por ter essa rodagem em diversas posições, posso atuar onde o time precisar.

PL Brasil – Brasil, Áustria, Alemanha, e agora Inglaterra. O que cada uma destas escolas distintas de futebol contribuíram para a formação do jogador que você é hoje?

Bernardo – O Brasil é a minha base, comecei aqui. Na Áustria e Alemanha foram lugares em que eu aprendi muito em relação a ser profissional, atleta, pois o jogo é muito físico.

Na Inglaterra é um lugar onde o jogador tem mais responsabilidades em campo, é um lugar que te ensina e te obriga a ter muita leitura tática, entender aquilo que está acontecendo no jogo para que se tome as decisões certas durante a partida.

Zagueiro, volante, e até lateral direito. Bernardo já atuou em diversas posições (Foto: Paul Hazlewood/BHAFC)
PL Brasil – Você é filho de jogador, mas seu pai foi volante. Quais foram e são suas referências, seus ídolos na posição?

Bernardo – Um cara que, apesar de não ser da minha posição, mas que eu sempre tive como ídolo e até mesmo me espelhei por tudo o que ele representou para seu clube, e também como profissional, é o Rogério Ceni. Na minha posição eu sempre tento ver jogadores com estilos semelhantes ao meu, para analisar o que eles fazem bem e que eu ainda não faço.

Então, um cara que eu observo muito é o Filipe Luís, que é um lateral mais defensivo, de estatura alta mas que também sai muito bem para o jogo. O Fabinho é um volante que eu gostava de ver jogar quando eu atuava no meio-campo.

Procuro buscar referências naqueles caras que gosto de ver jogar, e nem são aqueles mais mainstream, que todo mundo está de olho, mas que demonstram capacidade.

Eu busco tirar algo bom para o meu desenvolvimento como jogador, pode ser lateral direito ou esquerdo, como o Wan-Bissaka, que agora está com mais moral, e o Ricardo Pereira, do Leicester, que eu gosto muito.

Um cara que me impressionou muito desde que cheguei na Inglaterra é o Rose, do Tottenham. Então minhas referências na lateral não são aqueles nomes consagrados, como Marcelo ou Alaba, mas sim jogadores que eu possa trazer coisas deles para o meu jogo.

PL Brasil – O Brighton está se consolidando na Premier League. Você acha que a próxima temporada será de briga para não cair ou dá pra sonhar mais alto?

Bernardo – O Brighton é um clube que investiu muito, tem dinheiro. A expectativa era de que nessa temporada os resultados seriam melhores do que foram, mas é claro que eu entendo que este seja um processo que precisa ser gradativo para que seja consistente.

Não podemos esperar que um clube suba da Championship para a Premier League e, em duas temporada, esteja no top ten. Por isso, pensando em médio prazo, para o Brigthon ser uma força é preciso que se mantenha por anos seguidos na elite.

Sempre buscamos evoluir, o clube vai investir forte outra vez, e agora com novo técnico, possivelmente uma nova mentalidade, acredito que o grupo todo terá um novo ânimo para trabalhar. Com jogadores novos, chegando seremos mais fortes para buscarmos coisas maiores.

Eu estou muito confiante, pois já mostramos que podemos almejar algo melhor, principalmente no início da temporada, e também na Copa da Inglaterra, onde fizemos uma boa campanha. Acredito que vamos fazer uma temporada melhor.

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Bernardo acredita que o Brighton irá fazer uma boa campanha na temporada 2019/2020 (Foto: Paul Hazlewood/BHAFC)
PL Brasil – Com 24 anos recém completados, quais são seus planos para o futuro? Pensa em seleção?

Bernardo – Primeiro, a minha ida para o Brighton foi para jogar na Premier League. Eu tive propostas melhores, em clubes mais conhecidos mundialmente, mas pesou o fato de eu querer muito jogar na Inglaterra.

Então, seleção brasileira é um sonho sim, e eu não vejo como algo impossível. Falando em laterais esquerdos com a minha faixa de idade eu vejo alguns com nível similar, mas ainda sem a sequência em bom nível que eu tenho conseguido nas ultimas temporadas.

Posso citar aqui o Jorge, do Santos, o Arana, no Sevilla, além do Wendell, do Bayer Leverkusen, e do Alex Telles, do Porto, que estão muito bem.

Eu penso que daqui a dois, três anos, se eu seguir jogando em bom nível, e seguir evoluindo, acho que posso estar entre os cotados para uma convocação.

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PL Brasil – Depois de anos com Chris Hugton, o que você espera de Graham Potter?

Bernardo – O Brighton tem que ser muito grato ao Chris Hugton por tudo o que ele fez, trouxe o clube da Championship para Premier League, onde manteve por duas temporadas, o que eu penso ser uma grande vitória, uma importante conquista para o clube, e o estilo dele é defensivo, e deu certo.

Pelo o que eu pesquisei do Graham Potter, que é do meu interesse, vi que ele é um técnico com mais variações táticas, que busca implementar um estilo de jogo mais ofensivo nos seus times.

E isso pode ser benéfico para alguns jogadores do nosso elenco, como o Alireza (meia-atacante iraniano, contratação mais cara da história do Brighton), que não se adaptou ao estilo do Chris Hugton, mas tem muito potencial.

PL Brasil – Como lateral você já teve que marcar grandes jogadores do futebol mundial. Quais os mais difíceis de enfrentar?

Bernardo – O Bernardo Silva, embora não seja um cara do mano a mano, mas é muito inteligente, vai toda hora para cima, abre muito espaço, O Hazard é sensacional, esse no duelo individual é impressionante, ele tem muito recurso de drible, tem velocidade e força.

O Sterling tem uma aceleração, explosão incrível, que muitas vezes surpreende o marcador. E um cara que me deu muito trabalho foi o Pereyra, argentino do Watford, e também o Zaha, do Crystal Palace.

Bernardo Silva, do Manchester City, foi apontado por Bernardo como um dos mais difíceis de ser marcado (Foto: Paul Hazlewood/BHAFC)
PL Brasil – Como é jogar no Brighton, a torcida é participativa?

Bernardo – Estou totalmente adaptado ao clube. A estrutura é fantástica. O Amex Stadium é muito legal, com capacidade para 35 mil pessoas. O centro de treinamentos é incrível, com tudo de primeira nível para o atleta trabalhar. O nível de profissionalismo de todos é altíssimo, estou muito contente de estar no Brighton.

PL Brasil – Tirando o Amex Stadium, qual o seu preferido para jogar na Inglaterra, e o mais difícil?

Bernardo – Eu gostei muito do St James Park, do Newcastle, muito bonito, com uma atmosfera bem legal, e também o estádio do Wolverhampton, o Molineux.

O mais difícil de jogar é o Selhurst Park, do Crystal Palace. A torcida deles é muito participativa, e é duro enfrentar eles lá.

Marcelo Becker
Marcelo Becker

Jornalista gaúcho radicado em São Paulo. Movido a Oasis e futebol inglês, não necessariamente nessa ordem.