‘Muito mais que covardia’: entenda a nova revolta da torcida do Manchester United sobre o caso Greenwood

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O Manchester United faz sua estreia na Premier League 2023/24 nesta segunda-feira (14), contra o Wolverhampton, a partir das 16h (horário de Brasília). Porém, às vésperas da sua primeira partida na nova temporada, os Red Devils estão chamando a atenção na imprensa e nas redes sociais por outro motivo.

A diretoria do clube deve anunciar em breve se Mason Greenwood será reintegrado ao elenco. O atacante não joga desde janeiro de 2022 devido a acusações de tentativa de estupro e agressão.

Torcedoras protestam contra reintegração de Greenwood

O atleta de 21 anos chegou a ser preso duas vezes pelas denúncias realizadas pela vítima, mas foi solto após pagar a fiança. Em fevereiro deste ano, as acusações foram retiradas e desde então o United estuda o retorno do jogador ao time, tendo feito inclusive uma investigação interna de seis meses sobre o caso.

Na última semana, ele foi visto treinando sozinho, auxiliado por um ex-técnico júnior do United. Por isso, um grupo de torcedoras do Manchester United divulgou nas redes sociais uma carta direcionada aos donos protestando contra a possibilidade de Greenwood ser reintegrado.

— A situação é clara: reintegrar Greenwood legitima e normaliza a agressão sexual e a violência doméstica. Isso diz a outros jogadores, e aos homens e meninos que os admiram, que abusar de mulheres é aceitável, sem consequências e não te afetará, nem prejudicará sua carreira – diz um trecho da carta (leia a íntegra no fim do texto).

Reintegração de Greenwood seria decidida por jogadoras do próprio United

Veículos da imprensa inglesa, como o “The Guardian” e o “Daily Mail” noticiaram nos últimos dias uma decisão ainda mais controversa da alta cúpula do Manchester United.

A apuração dos jornais dizia que os diretores estariam aguardando o retorno das jogadoras dos Red Devils que estão disputando a Copa do Mundo Feminina na Austrália e na Nova Zelândia – Mary Earps, Ella Toone e Katie Zelem -, para participarem da decisão sobre reintegração de Greenwood.

A decisão causou uma onda de comentários, principalmente de torcedores homens, pressionando as atletas para que fossem favoráveis a manter Greenwood no elenco.

Diante desse posicionamento, torcedoras mais uma vez se indignaram e questionaram a postura do clube de colocar nas mãos da equipe feminina uma decisão que não é de responsabilidade delas.

Você está feliz, Manchester United ? É isso que você queria? Em vez de fazer o que é moralmente certo ou apenas assumir sua decisão, você acolheu publicamente um ataque violento à equipe feminina que já havia levantado preocupações sobre isso meses atrás. Isso é muito mais que covardia.

Futuro de Greenwood pode já estar definido

Por outro lado, jornalistas da “BBC” e do site independente “Muppetiers” relatam que, na verdade, a decisão da alta cúpula do United já está concretizada. O repórter James Roades informa que “a decisão está sendo tomada puramente e apenas pelo clube, com base nas conclusões da investigação” em sua conta no Twitter.

— O United não está buscando ajuda da equipe feminina e dos patrocinadores para decidir sobre Mason Greenwood. Richard Arnold (CEO do Manchester United) tomou a decisão. Agora, isso está sendo explicado a essas partes antes que um anúncio seja feito – disse Alex Turk, da BBC Sport.

A emissora “Sky Sports” anunciou neste sábado (12) que uma entrevista com o atacante será realizada na TV do United. O clube ainda não divulgou nenhuma informação oficial sobre o caso.

Leia a carta do grupo de torcedoras na íntegra

DECLARAÇÃO DAS TORCEDORAS CONTRA O RETORNO DE GREENWOOD

Hoje, nós, torcedoras do Manchester United, exigimos que o clube cumpra seu dever de cuidar de suas torcedoras e funcionárias e demonstre uma abordagem de tolerância zero em relação a atos de violência contra as mulheres, recusando-se a trazer Mason Greenwood de volta ao time. A situação é clara: tomar Greenwood de volta legitima e normaliza a agressão sexual e a violência doméstica. Isso diz a outros jogadores, e aos homens e meninos que os admiram, que abusar de mulheres é aceitável, sem consequências e não afetará você nem prejudicará sua carreira.

Também nos diz, como mulheres, que não importamos. Ele diz às funcionárias do MUFC que seu empregador fica feliz em fazê-las trabalhar ao lado de um agressor e diz a centenas de milhares de fãs que apoiar o time que amamos envolve apoiar homens que abusam de mulheres como nós. Ela nos diz que nossa segurança não importa, nossas experiências não importam; que 1 em cada 4 mulheres que sofrem abuso doméstico e/ou agressão sexual no Reino Unido não importa. Isso nos diz que os homens que fazem o dinheiro do clube são importantes; não nós, nossos torcedores, mães, irmãs ou filhas. O clube lançou todos os tipos de iniciativas nos últimos anos para supostamente promover a inclusão e a diversidade no jogo, mas “Todos Vermelhos, Todos Iguais” não significa nada se os direitos daqueles que cometeram violência de gênero forem maiores do que aqueles que sofreram.

Sabemos que atualmente existem empresas de relações públicas multimilionárias criando narrativas para acompanhar seu retorno potencial. “Pai arrependido que mudou sua vida e só quer sustentar sua companheira e filho.” “Jovem gênio que cometeu um erro, mas merece uma segunda chance.” Ameaçar sua parceira com violência sexual não é “um erro”, é um abuso deliberado e direcionado. As festas durante o lockdown e os avisos da polícia foram aparentemente “um erro”, ser dispensado pela Inglaterra e mandado para casa do alojamento por quebrar as regras também foi aparentemente “um erro”. O problema aqui não é um jogador que “cometeu um erro”, é um jogador que sempre demonstrou uma atitude de extrema arrogância, direito e excepcionalidade; e que não demonstrou nada além de desrespeito e desprezo pelo que significa representar este grande clube. Todo mundo comete erros, mas nem todo mundo comete erros enquanto está na posição de poder e privilégio de Greenwood. Se você quer jogar no mais alto nível no maior clube do mundo, seu comportamento será levado ao mais alto nível de escrutínio, responsabilidade e expectativa.

A decisão da alta administração do MUFC em relação ao retorno de Greenwood dirá aos torcedores tudo o que precisamos saber sobre sua capacidade de administrar este clube e se eles têm alguma vontade genuína de ouvir, se envolver e apoiar os torcedores em questões importantes para nós. Este clube é para eles apenas um veículo de sucesso comercial, troféus, patrocínios e receitas? Ou eles realmente compartilham nossa visão do Manchester United como uma grande instituição que existe como um lugar de pertencimento e comunidade para aqueles que se preocupam com seus valores e tradições?

Estamos pedindo ao clube que faça a coisa certa. Para seus fãs, para seus funcionários, para os milhões de meninos e meninas em todo o mundo que olham para nossos jogadores como heróis e modelos, e para as milhões de mulheres cujas vidas foram arruinadas pela violência e abuso. Aos tomadores de decisão do clube, lembrem-se, isso vai além do futebol. Esta decisão é um reflexo seu, da sua moral, de quem vocês são como indivíduos e como humanos. Você apoiará os abusadores ou os abusados? A história julgará suas escolhas. Certifique-se de fazer a escolha certa.

Maria Tereza Santos
Maria Tereza Santos

Jornalista pela PUC-SP. Na PL Brasil, escrevo sobre futebol inglês masculino E feminino, filmes, saúde e outras aleatoriedades. Também gravo vídeos pras redes e escolhi o lado azul de Merseyside. Antes, fui editora na ESPN e repórter na Veja Saúde, Folha de S.Paulo e Superesportes.