Tim Vickery: Dibu Martínez, o homem é argentino, mas o goleiro é bem inglês

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É típico da vida de um goleiro. Emiliano Martínez acabou de ganhar o prêmio Yashin para o melhor na posição em 2023 — e logo no próximo jogo ele comete uma falha que colabora com a derrota do Aston Villa contra o Nottingham Forest.

Faz parte. Um goleiro nunca deveria comemorar demais — embora Martínez tenha muito para comemorar. Imagine — sem aquela defesa sensacional no último lance da final da Copa do Mundo, a gente estaria falando que Messi vai ficar sem Mundial para sempre. Martínez fez história. Virou ídolo nacional, e a maneira que fez, cheio de marra nas cobranças de pênaltis, revela uma personalidade muito argentina.

O homem é argentino. Mas o goleiro é bem inglês. O que Martínez tem feito com a seleção da Argentina é, na verdade, um triunfo da Premier League.

Vale a pena lembrar que nos últimos anos o goleiro tem sido um problema para a Argentina. O que tem mais jogos na história da seleção é Sergio Romero, que passou anos sendo reserva na Sampdoria, Mônaco e Manchester United.

Depois da Copa da Rússia em 2018, nos primeiros 8 jogos de Lionel Scaloni como técnico, a Argentina usou 7 goleiros — e nenhum deles era Martínez. A lista, para quem tiver interesse, é formada por Rulli, Armani, o próprio Romero, Marchesin, Gazzaniga, Andrada e Mussi. Neste momento, Martínez não foi somente esquecido. Tratava-se de um desconhecido.

Tenho que confessar a minha surpresa quando o Arsenal contratou Martínez logo depois do Mundial Sub-17 de 2009. 

Bola de Ouro Emiliano Martinez
Emiliano Martínez na cerimônia da Bola de Ouro (Foto: ICon Sport)

Parecia um goleiro de porte físico imponente, eficiente para bloquear chutes. Mas estava carregando um excesso de peso, e a sua dificuldade em pular de chão custou gols em quase todos os jogos do torneio. Era óbvio que ia precisar de muito trabalho para virar um goleiro bom suficiente para o futebol da elite.

E realmente, Martínez passou tanto tempo com Arsenal que ele estava com perigo de se qualificar para uma previdência sem nunca jogar no primeiro time num jogo importante. Mas nas bastidores ele estava trabalhando forte, melhorando a técnica, a alimentação, a preparação física e a mentalidade. 

Com tempo e paciência, e uma lista extensa de empréstimos, o Arsenal conseguiu transformar um promessa cheio de defeitos num goleiro pronto para aproveitar uma oportunidade — que veio três anos atrás, quando o titular Bernd Leno sofreu uma lesão. Era a hora de Martínez mostrar o seu valor. Entrou no time e, numa questão de semanas, consolidou a sua carreira e virou uma grande esperança da seleção argentina. 

Desesperado para ficar jogando e manter a visibilidade, logo aceitou uma oferta para ir para o Aston Villa, onde, sendo titular indiscutível, esperava a convocação de Scaloni. Aconteceu. Jogou pela primeira vez em junho de 2021, e logo pareceu que nasceu para defender a seleção. O futebol inglês tinha desenvolvido um campeão para a Argentina.

Foi fundamental na conquista da Copa América de 2021 — um passo enorme e essencial no caminho da glória no Catar. Logo ganhou a confiança plena de Lionel Messi, que não parou de elogiá-lo. De estreante em junho, somente um mês depois já ficou impossível imaginar uma seleção argentina sem a presença de Emiliano Martínez. Foi uma estrela de noite para dia — com o pano de fundo de muitos dias e noites de trabalho no outro lado do Atlântico.

Tim Vickery
Tim Vickery

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos de Tottenham Hotspur.