O algoritmo, que às vezes acerta, me recomendou essa entrevista do Edu Gaspar, diretor esportivo do Arsenal, ao canal “Men In Blazers”. Ela foi feita nesta semana durante a pré-temporada dos Gunners nos Estados Unidos.
Nos 20 minutos de papo, o brasileiro falou sobre o que significa sucesso para ele e para o clube, passou pelo período como atleta treinado por Arsène Wenger – ele fez parte dos Invencibles na temporada 2003/04 – e contou com detalhes o seu trabalho na montagem do elenco dos Gunners.
Edu foi contratado pelo Arsenal em julho de 2019, à época como diretor técnico. Não é segredo para ninguém que o clube vivia um péssimo momento desde o fim da Era Wenger, e naquela ocasião o brasileiro se deparou com um elenco recheado de problemas.
A forma como Edu descreveu o processo de renovação fortalece a tese de que o Arsenal está mesmo em ótimas mãos.
Como funciona o processo de renovação do elenco do Arsenal
“Às vezes temos que tomar decisões que não são populares. Você tem que ser muito forte em suas ideias, no que acredita, no que é bom para o futuro do clube e tudo mais.
Então, para mim, há alguns elementos aqui no futebol que sempre terei muita atenção. Quando comecei a ver o elenco equilibrei as posições, a idade, o grupo que temos, mas há três elementos aqui que para mim você tem que estar realmente ciente.
Em primeiro lugar, temos que ver a idade do jogador; depois, o salário; e, em terceiro, o desempenho. Então, se você tem mais de 26, 27 anos, precisa de atenção.
Se o salário dele é alto, você precisa de atenção e, se ele não está performando, você está morto. Vamos voltar ao raciocínio então. Se você tem um jogador de 27 anos, 28 anos, com um grande salário, mas ele está indo bem, você pode aceitar.
O que você não pode aceitar é que, se você tem esses três elementos e um deles passou de 28 anos, você começa a se sentir desconfortável, é melhor seguir em frente porque talvez esse jogador esteja bloqueando alguém mais jovem, como um ativo, para ajudá-lo. Então, quando cheguei ao Arsenal, quando vi todo o elenco, com todo o meu respeito, quase todo mundo tinha quase 26, 27 anos, os maiores salários não estavam performando.
Se você tem esses três elementos, qual clube do mundo quer vir aqui e comprar um de nossos jogadores? Nenhum. Então, como você lida com essa situação quando você tem esse problema em suas mãos? Você tem que ser forte e às vezes tem que tomar decisões.
Ou deixamos esses jogadores irem embora ou o projeto vai levar 7, 8, 9 anos em vez de 2 ou 3. Foram decisões impopulares que tivemos que tomar. Porque muitos jogadores têm uma base de fãs, a mídia os ama, mas para o clube não era saudável manter jogadores nessa situação”.
Trecho da entrevista de Edu Gaspar ao canal “Men In Blazers”
Silenciosamente, Edu ajudou a “revolucionar” o Arsenal
Em 2019, quando Edu chegou e nomes como Özil (30 anos), Mkhitaryan (30), Lacazette (28), Aubameyang (30), Sokratis (31), David Luiz (32), Koscielny (33), Monreal (33) e Mustafi (27), por exemplo, oneravam a folha salarial e já não eram exatamente garotos. Fora que alguns claramente não estavam à altura do clube.
O Arsenal conseguiu transferir todos esses (e outros) até o início da temporada 2022/23.
Em contrapartida, o foco nas contratações passou a ser em jovens, com salários menores e, principalmente, “famintos para nos levar aonde queremos”, nas palavras de Edu.
Exemplos rápidos: Saliba (chegou com 18 anos e permaneceu emprestado), Gabriel Magalhães (chegou com 22), Odegaard (chegou por empréstimo com 23 e depois foi comprado), Ben White (23), Ramsdale (23), Tomiyasu (22), Fábio Vieira (22), Declan Rice (24), Kai Havertz (24), Timber (22)… Praticamente todos foram titulares importantes em algum momento e/ou são destaques do presente e futuro.
Nesta temporada, até o momento, Calafiori chegou com 22 pronto para dar o salto.
Silenciosamente, Edu ajudou o Arsenal a promover a sua revolução. Mais uns ajustes e o próximo passo será o clube se reconectar com os troféus que lhe aguardam.
A responsabilidade agora é sua, Arteta!