Entrando na reta final da temporada 2023/24, a Premier League se encontra em um cenário empolgante e incomum nos últimos anos: uma disputa entre três times pelo título. Arsenal, Liverpool e Manchester City se distanciaram dos demais e brigam palmo a palmo pela liderança, separados por apenas um ponto.
Esse cenário é mais raro do que se pode imaginar. Ao fim da 28ª rodada, nunca na liga a diferença entre os três primeiros foi tão baixa. Quando chegou perto, em 1993 e 1999, a diferença entre líder e 3º colocado era de dois pontos.
A PL Brasil resgatou os dados de todas as edições da Premier League até a 28ª rodada para chegar a essa conclusão e explicar por que a atual temporada é a mais acirrada da história.
Por que essa é a Premier League mais acirrada da história?
É preciso voltar no tempo para encontrar a última vez que o campeonato inglês vivenciou uma disputa tão feroz. Em 2013/14, há dez anos, Chelsea, Manchester City e Liverpool protagonizaram uma batalha emocionante que se decidiu nas últimas rodadas. Naquele ano, os Citizens levaram a melhor.
Olhando para a história da liga, são apenas três ocasiões em que três times terminaram a temporada com uma diferença inferior a cinco pontos. Além de 2013/14, as edições de 2007/08 e 1998/99 tiveram quatro pontos de diferença entre líder e 3º colocado.
Em um olhar ainda mais ampliado, desde que a vitória passou a valer três pontos (na temporada 1981/82), a menor diferença de pontos entre os três primeiros times ao fim do campeonato foi de quatro.
Analisando o primeiro gráfico é possível perceber que, nas cinco primeiras temporadas da história da liga, a diferença entre 1º e 3º era de, em média, 8,8 pontos. Nas últimas cinco edições, no entanto, esse número foi para 15,8 — isso enfatiza ainda mais a raridade do que ocorre neste ano.
Segundo levantamento do “The Athletic”, a raridade de uma disputa a três não é exclusiva da Premier League. Dos 115 campeonatos disputados nas cinco principais ligas da Europa desde a temporada 2000/01, apenas 15 tiveram três times terminando a cinco pontos um do outro (13%).
Quão rara é uma disputa acirrada na Premier League?
Em todas as 31 temporadas completas da Premier League, mais da metade terminou em times vencendo o título de forma “isolada” — ou seja, diferença maior do que cinco pontos para o segundo colocado.
Na história da liga, foram 18 times campeões isolados, 10 disputas entre dois times e apenas três batalhas entre três times, como ocorre agora. Ao sair do recorte das 28 rodadas e entrar na comparação entre campeões, a diferença na pontuação fica ainda maior.
Antes de Pep Guardiola chegar à Inglaterra, em 2016, apenas três vezes os campeões tiveram uma diferença maior do que 15 pontos em comparação com os times na 3ª posição. Desde então, foram cinco temporadas nesse modelo — de forma consecutiva e com diferenças ultrapassando os 25 pontos.
O treinador, inclusive, é um dos grandes “motivos” para a disparidade das disputas. No Barcelona, seu tricampeonato espanhol viu diferenças de 17, 28 e 25 pontos para o 3º colocado. Nos três anos de Bayern entre 2013/14 e 2015/16, a diferença foi de 26, 13 e 28 pontos, respectivamente.
O fator Pep Guardiola
Um dos principais fatores para a raridade nas disputas acirradas é o aumento do número de pontos necessários para conquistar o título. E Guardiola é um dos grandes responsáveis por isso.
Nas últimas temporadas, a pontuação dos campeões vem subindo consideravelmente:
- Em 2017/18, o Manchester City atingiu a marca histórica de 100 pontos.
- Um ano depois, chegou aos 98.
- Em 2019/20, o Liverpool atingiu 99 pontos.
- O City ainda chegou a 93 em 2021/22, mesma pontuação do Chelsea em 2016/17.
No fim de dezembro do ano passado, a PL Brasil analisou como o “numero mágico” para conquistar a Premier League já não é mais 90 pontos. O levantamento indica que houve um aumento de quase dez pontos necessários para um time ser campeão desde a chegada de Pep Guardiola, em 2016.
A desigualdade no campeonato
Apesar de ser a liga mais rica do mundo, ainda assim há grande desigualdade entre os times. Os clubes do topo, principalmente do Big-Six, concentram cada vez mais recursos e poder.
O Luton Town, que estreou na Premier League nesta edição, gasta apenas 25 milhões de libras por ano com seu time profissional. Enquanto isso, a dupla de Manchester ultrapassa os 206 milhões de libras, mais do que oito vezes mais gastos.
Em comparação, segundo dados do “The Athletic”, na temporada 2000/01, a folha de pagamento mais cara da liga, do Manchester United, era “apenas” três vezes maior do que a mais barata — naquela ocasião, do Bradford City.
Além disso, a diferença entre os membros do Big-Six está crescendo. Em 2023/24, a folha de pagamento do Liverpool, de cerca de 136 milhões de libras, equivale a dois terços da do Manchester City, por exemplo. A do Arsenal (166 milhões de libras) representa pouco mais de três quartos.
Para ilustrar a diferença, na temporada 2000/01, as folhas de pagamento dos quatro primeiros times estavam todas dentro de uma diferença de 7 milhões de libras.
A Premier League não é competitiva?
Em março de 2021, a Fifa divulgou um Relatório de Equilíbrio Competitivo. O objetivo do estudo era mapear o nível de competitividade em todas as ligas profissionais do mundo.
A métrica mostrava a porcentagem de pontos conquistados pelos três principais clubes de cada país nos últimos cinco anos. Quanto maior a porcentagem, menos competitiva a liga. O índice dos ingleses não foi tão positivo.
Durante a faixa de análise do estudo, na Premier League, o primeiro colocado conquistou 83% dos pontos disputados. O segundo 73% e o terceiro, 64%. Esses números fazem com que o Campeonato Inglês seja o sétimo menos competitivo de toda a Europa.
Além disso, a liga mais atraente do mundo é também menos competitiva entre as cinco principais do continente. O relatório mostrou que em todas as ligas europeias, a diferença média de pontos entre o 1º e o 3º lugar foi de 15 pontos — na Inglaterra, foi de 22.
A efeito de comparação com o grande centro do futebol europeu, a Alemanha teve 21 pontos de média, enquanto a França 19, a Espanha 14 e a Itália 12.