Douglas Luiz faz uma temporada espetacular. O meia acumula seis gols e duas assistências em 19 jogos com o Aston Villa e é o líder do time na Premier League em dois aspectos cruciais para a equipe comandada pelo técnico Unai Emery: bolas longas (média de 3,9 por jogo) e desarmes (2,2 por partida).
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Em grande fase desde o início da jornada 2023/24, o brasileiro foi, para muitos, injustiçado por Fernando Diniz, que não o convocou para os confrontos contra Venezuela e Uruguai. O próprio jogador chegou a dar uma indireta ao técnico da Seleção nas redes sociais. Porém, ele foi finalmente chamado para vestir a Amarelinha nos dois últimos compromissos do Brasil no ano: contra Colômbia e Argentina.
O meia do Aston Villa chega à Seleção em um momento oportuno, já que Casemiro está lesionado e desfalca a equipe de Diniz. Ao mesmo tempo, Douglas Luiz é daqueles volantes que se encaixa perfeitamente no esquema utilizado pelo treinador do Brasil.
Diniz gosta de dar liberdade aos pontas para poder jogar por dentro e os volantes, muitas vezes, fazem a função do camisa 10. Toda essa movimentação tem o objetivo de ter a bola e o camisa 5 acaba tendo o papel de construção de jogadas. Casemiro, titular em todas as partidas com o atual técnico interino da Seleção, teve dificuldades de se adaptar, já que tem um papel maior de marcação e de gostar do jogo físico.
O meia revelado no Vasco é, entre todos os brasileiros nas cinco melhores ligas europeias, o líder em gols (cinco), em chutes para marcar gol (1,6), em conversão de chances claras (100%) e o segundo em participações em gols (seis).
No mapa de calor de Douglas Luiz na temporada, é possível ver que o volante ocupa praticamente todos os espaços do campo, com destaques para três espaços: área na defesa (recuperação de bola), mais predominantemente no meio de campo (construção de jogada) e caindo pelo lado esquerdo (ataque).
Douglas Luiz pode ser o maestro da Seleção
Pelas características de Casemiro serem defensivas, Bruno Guimarães é quem faz esse papel na Seleção, marcando presença na recuperação de bola e no ataque. A diferença é que o meia do Newcastle cai tanto pelo lado direito quando pelo esquerdo.
Já no Fluminense, Diniz utiliza André para desempenhar essa função. Resultado disso é o fato de o meia cobiçado por diversos clubes da Premier League ter sido o líder de passes certos da Copa Libertadores, com média de 65,7 por jogo e um aproveitamento de 93%.
Na Seleção, Douglas Luiz encaixaria perfeitamente na volância pelo lado esquerdo e ser o maestro do time, junto de Bruno Guimarães, enquanto Rodrygo, Vinicius Junior e Endrick ousam de sua liberdade no ataque para fazer gols.
É praticamente o que foi feito no último Fla-Flu, em que Diniz escalou André e Marcelo para orquestrarem as jogadas pelo meio e deixou Keno, Jhon Arias e John Kennedy livres para atacar.
Claro, no Fluminense, Diniz conta com um camisa 10 clássico, Paulo Henrique Ganso, o que, em alguns casos, como no Fla-Flu, faz com que André apoie mais a defesa. Mas é essa a função do volante no “dinizismo”.
O técnico da Seleção acredita na filosofia “aposicional” e os jogadores trocam de posição durante o jogo. No caso dos volantes, são marcadores na hora de defender e os armadores no momento de atacar, o que dá um leque de opções à frente muito vasto.
No caso da Seleção, Diniz convocou apenas Raphael Veiga para a posição de armador, mas o meia do Palmeiras não deve ser titular, com tanto talento presente entre os jogadores de frente. Por isso, o treinador optou por convocar apenas cinco meio-campistas, três laterais e nove atacantes. O comandante campeão da América quer fazer o Brasil voltar a jogar para frente, com ousadia e Douglas Luiz é o “jogador pensante” ideal para fazer a Seleção ter maior presença e criatividade no ataque.
Além dos gols, das bolas longas e dos desarmes, o volante do Aston Villa não se desespera diante de uma pressão do adversário. Ele consegue emplacar uma sequência de dribles, passar de dois ou três marcadores e dar um passe perfeito ou mesmo um chute muito perigoso. Inclusive, a Seleção não conta atualmente com um cobrador de faltas oficial, qualidade que Douglas Luiz tem de sobra.
Frieza e habilidade para sair da marcação
Na goleada por 4 a 1 sobre o AZ no dia 26 de outubro, pela Europa League, Douglas Luiz deu uma aula de frieza diante da pressão adversária, qualidade no passe e construção de jogada. Veja:
Frame 1: ele recebe a bola, com um marcador já chegando de costas para dar o bote.
Frames 2 e 3: ele dá o passe para John McGinn sem nem precisar olhar e, na sequência, recebe a bola de volta, com três marcadores à sua frente.
Frames 4 e 5: ele domina a bola, parte para cima, dribla três em sequência, deixando um no chão, e, na chegada do quarto marcador, toca para o companheiro ao lado, passando pela marcação com a muita facilidade.
Pressão não é um problema
A maior fragilidade no estilo de jogo de Fernando Diniz é a saída de bola sob pressão. No Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil, frequentemente, o Fluminense se pegou em maus lençóis ao não dar chutão, enquanto o ataque adversário pressionava.
Bom exemplo disso foi a derrota do Tricolor Carioca para o São Paulo no Morumbi pela 13ª rodada do Brasileirão. O time carioca não conseguiu sair jogando, perante uma marcação alta, o que resultou em 21 chutes dos paulistas (quatro no gol) contra apenas quatro dos cariocas (dois no gol), além de uma posse de bola de 55% para os mandantes e 45% para os visitantes.
Diniz já disse que está na Seleção para implementar sua filosofia de jogo e a saída de bola sob pressão é algo que a Canarinho deverá sofrer enquanto tiver o técnico interino no comando. Douglas Luiz, mais uma vez, surge como uma opção ideal para esse estilo. Além da frieza, drible e enorme capacidade no passe, o volante do Aston Villa também conta com um grande vigor físico, que faz com que o jogador não perca a posse de bola mesmo nos momentos de pressão.
Contra o Liverpool, no dia 3 de setembro, em Anfield, Douglas Luiz protagoniza um lance que exemplifica bem como seu vigor físico contribui para que ele se livre da marcação alta e saia jogando com qualidade.
Frame 1 e 2: Mohamed Salah avança para marcar Douglas Luiz assim que ele recebe a bola. O brasileiro dá um corte seco e já se livra do craque egípcio.
Frame 3, 4 e 5: um marcador do Liverpool avança e tenta vencer no jogo físico. Eles trombam ombro a ombro, caem, mas o brasileiro se levanta rapidamente e dá um passe primoroso para um atacante do Aston Villa na ponta direita.
Ouro olímpico com o Brasil em Tóquio, Douglas Luiz ainda não conseguiu uma sequência na seleção principal. Fez apenas duas partidas na Copa América de 2021 e seis nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022. Mas, aos 25 anos, em grande fase na melhor liga do mundo, o volante tem tudo para ser peça fundamental na equipe de Fernando Diniz.
– Douglas Luiz está sendo um dos destaques da Premier League, é um jogador monitorado aqui há muito tempo. Já esteve na principal, campeão olímpico. Eu o conheço desde muito jovem e vive o melhor momento da sua carreira. É uma convocação muito merecida. É um jogador que tem muita imposição e tem tudo para começar um novo momento na Seleção– comentou Fernando Diniz após sua convocação.
Próximos jogos da seleção brasileira
- Colômbia x Brasil – 16 de novembro, às 21h (de Brasília), no Estádio Metropolitano Roberto Melendez
- Brasil x Argentina – 21 de novembro, 21h30 (de Brasília), Maracanã