Além de Wesley Moraes, o Aston Villa também oficializou a contratação de Douglas Luiz, junto ao Manchester City, por 15 milhões de libras. Depois de passagem frustrada por Manchester, o volante brasileiro enfim deve ter a oportunidade de disputar a Premier League.
A seguir, a PL Brasil analisa a trajetória do jovem jogador e os momentos marcantes de sua carreira, os quais justificam as grandes expectativas que cercam sua chegada ao Villa Park.
Início no Vasco

Nascido no Rio de Janeiro, o volante Douglas Luiz iniciou sua trajetória como jogador em 2013, nas categorias de base do Vasco da Gama. Originalmente lateral direito, subiu do elenco sub-20 para a equipe profissional em agosto de 2016.
Já naquele ano, Douglas teve grande destaque na campanha do clube carioca na Série B do Campeonato Brasileiro, ainda que atuando apenas na segunda metade da competição. Foram 14 partidas, sendo 13 como titular, e dois gols marcados, e um deles em sua estreia em São Januário.
Na temporada seguinte, ainda mais importante em São Januário, titularidade absoluta e nítida evolução técnica e tática. No campeonato estadual, foi nomeado para a seleção do torneio – assim como Richarlison, hoje destaque no Everton. No campeonato nacional, foram onze partidas, até ser vendido ao Manchester City.
Frustração no Manchester City

O crescente destaque pelo Vasco rapidamente atraiu o interesse de grandes clubes do futebol europeu, como Mônaco e Borussia Dortmund. Mas foi o Manchester City que contratou o jogador, por cinco temporadas, em investimento de dez milhões de libras, equivalente, à época, a 49 milhões de reais.
E para ganhar experiência e minutos em campo, foi imediatamente emprestado ao Girona, da Espanha.
Já na temporada seguinte, retornando aos Cityzens, a expectativa era de que Douglas Luiz seria aproveitado na equipe principal, para suprir posição carente no elenco, após a saída de Yaya Touré.
Depois de fracassar na contratação de Jorginho, que se transferiu ao Chelsea, a aposta do clube, e candidato mais provável a substituto imediato de Fernandinho, era justamente Douglas, elogiado publicamente por Pep Guardiola.
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Diante disso, o volante brasileiro participou da pré-temporada 18/19 com a equipe e foi bem nos amistosos de preparação. Entretanto, um empecilho impediu sua permanência em Manchester: o jogador teve o visto de trabalho negado pela Federação Inglesa de Futebol (FA).
Em um sistema que visa ter apenas os melhores talentos internacionais atuando no país, priorizando dar oportunidade aos jogadores ingleses, Douglas não atendia aos requisitos exigidos para concessão do visto.
A federação não concedeu uma explicação oficial, limitando-se a dizer que o brasileiro não preenchia as condições. Entre elas, são analisadas principalmente taxa de transferência paga pelo jogador, condições de salário a ele propostas, perspectivas que teria no clube e anterior destaque individual em grandes competições.
Mas o critério mais decisivo para a rejeição do visto ao volante provavelmente foi outro: a ausência de partidas pela seleção nacional. Em geral, a regra exige que o jogador tenha participado de no mínimo 30% dos jogos de seu país no período referente aos dois anos anteriores.

Jamais convocado para a equipe principal da seleção brasileira, Douglas Luiz evidentemente não cumpria tal requisito. O técnico Tite ainda tentou auxiliar o volante a conseguir o visto, enviando carta de recomendação à federação inglesa, mas sem sucesso.
Na época, a frustração do Manchester City, e também do jogador, fez Guardiola se manifestar sobre o assunto:
“Eu e o técnico do Brasil sabemos muito mais do quem julga se um jogador tem qualidade. Estou muito triste e decepcionado pelo Douglas, porque ele mostrou que poderia nos ajudar, poderia jogar conosco, mostrou muitas coisas boas na pré-temporada. É a razão pela qual gastamos tanto dinheiro nele. É um jogador com enorme capacidade de jogar conosco. Caso contrário, não teríamos investido tanto”.
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Assim, sem poder jogar na Inglaterra, teria que ser novamente emprestado. Benfica e Porto demonstraram interesse, mas a opção da direção foi novamente o Girona, por considerar que lá o jogador teria mais oportunidades, o que futuramente ajudaria na obtenção do visto. Sobre o caso, o treinador dos Citizens ainda complementou:
“Ele não conseguiu a permissão. Vamos tentar emprestá-lo novamente e buscar o visto de trabalho. É muito difícil entender, sabe? Muito difícil entender. Pessoas que não o veem treinando todos os dias julgam se ele tem qualidade para jogar aqui. Eu aceito as regras, mas não entendo. Qualquer pessoa no mundo deveria poder trabalhar onde ele quisesse”.
Período no Girona

Douglas Luiz pouco jogou em sua primeira temporada no Girona. Até recebeu algumas oportunidades no início, mas perdeu espaço ao longo do Campeonato Espanhol. Foram apenas 17 partidas, apenas três como titular, sendo duas delas na Copa do Rei.
Na temporada 18/19, mesmo com o frustrante retorno à Espanha, seu desempenho cresceu bastante. Rapidamente conquistou a titularidade da equipe, ficando fora dos jogos apenas quando suspenso ou lesionado.
O brasileiro conseguiu adaptar seu estilo de jogo quando necessário e se consolidou na função de primeiro volante, evoluindo, sobretudo, na marcação. Também chamou atenção na qualidade da saída de bola, característica que já demonstrava desde os tempos de Vasco.

Suas ótimas atuações foram um dos poucos destaques do Girona, que decepcionou em La Liga e acabou rebaixado à segunda divisão nacional. Também foi importante na campanha do clube na Copa do Rei, eliminando o Atlético de Madri nas oitavas de final.
Ao todo, foram 29 partidas do jogador na temporada, sendo 21 delas como titular. A principal delas, em vitória por 2 a 1 sobre o Real Madri, em pleno Santiago Bernabéu, com atuação espetacular.
E suas estatísticas naquela partida, formeciddas pelo SofaScore, comprovam o excelente desempenho: 100% de desarmes vencidos, 100% de dribles completados e 91% de passes completados.
Seleção brasileira

Douglas Luiz estreou pela seleção nacional com a equipe sub-20, em 2016, sob o comando de Rogério Micale. No ano seguinte, participou do Campeonato Sul-Americano da categoria, disputado no Equador, sendo titular em cinco partidas.
Em junho deste ano, na França, foi campeão com a equipe pré-olímpica do Torneio Murice Revello, mais conhecido como Torneio de Toulon. Jogador essencial na conquista do título, Douglas foi um dos capitães da seleção, junto do zagueiro Lyanco.
Eleito o melhor jogador da competição, o volante certamente estará na convocação para os Jogos Olímpicos de 2020.

Já na seleção principal, ainda não recebeu oportunidades, mas se especula que seja forte candidato para figurar nas próximas convocações. E obviamente pelas grandes atuações com a equipe sub-20, mas também em razão do natural processo de renovação da Seleção, o qual tende a ser ainda maior pós-Copa América.
Futuro no Aston Villa

Nesta janela de transferências, o Aston Villa apareceu como grande interessado em contar com Douglas Luiz. De volta a Premier League, após amargar três temporadas na Championship, o tradicional clube inglês não tem poupado investimentos para reforçar seu elenco. E com as saídas de Glenn Whelan e Mile Jedinak, a contratação de um volante era fundamental.
Já o Manchester City, sem ter garantia de que nesta temporada ou na próxima, o brasileiro conseguiria o visto de trabalho para atuar no clube, aceitou vender o jogador. Desse modo, a transferência ao menos recupera o investimento que havia sido feito para contratá-lo junto ao Vasco. Em meio a isso, o espanhol Rodri chega a Manchester para suprir a carência na posição.
Ainda assim, veicula-se na Inglaterra a informação de que o contrato firmado entre os Citizens e os Villans contém uma cláusula que dá ao Manchester City a opção de recompra do jogador. E o valor pré-fixado dessa hipotética negociação aumenta a cada temporada.

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A imprensa inglesa, sobretudo em Birmingham, trata como excelente a nova contratação do Aston Villa. Diversos elogios têm sido direcionados ao volante, e a expectativa é de que valerá, e muito, o investimento.
E diferentemente do que ocorreu na última temporada, o Aston Villa tem plena confiança de que o jogador conseguirá o visto de trabalho. As condições tendem a ser proporcionais conforme o patamar atual dos clubes, em especial poderio financeiro. Portanto, entre clubes diferentes, as exigências da federação não são exatamente as mesmas.
Assim, mesmo não cumprindo o requisito de representatividade pela seleção nacional, é esperado que o brasileiro consiga a concessão por meio de outros critérios. E o principal deles seria evidenciando a importância do jogador ao clube e ao elenco, não a longo prazo, mas já para a próxima temporada.
Até porque, com a transação de 15 milhões de libras, aproximadamente 70 milhões de reais, o volante brasileiro se torna a quarta contratação mais cara da história dos Villans.
Com isso, aos 21 anos, chega ao Villa Park badalado e com status de titular. O alto salário do jogador para os padrões do clube também deve representar aspecto diferencial a ser analisado pela federação inglesa.