Dos pesadelos à glória: Liverpool, enfim, campeão da Premier League

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30 anos. Este foi o tempo em que o Liverpool precisou com um jejum incômodo, doloroso e que atormentava o clube – do torcedor ao dono – todos os dias. No entanto, após três décadas entre frustrações e pesadelos diários, os Reds triunfaram.

Sob o comando de um técnico que entendeu desde o primeiro dia a sua missão, o lado vermelho da Terra dos Beatles voltou a ser campeão inglês e, pela primeira vez na história, conquistou a Premier League. Isso porque em 1990, quando o Liverpool ergueu a taça, a liga ainda não havia sido criada. O torcedor do Liverpool, enfim, pode gritar que é campeão da PL.

Boom dos rivais e frustrações

De um Liverpool protagonista e dominante visto sob o comando de Bill Shankly, Bob Paisley, Joe Fagan e Kenny Dalglish, o clube virou um coadjuvante. E durante esse tempo, viu o Manchester United ressurgir e se tornar o maior campeão inglês e o Arsenal beliscar taças da Premier League.

Observou Chelsea e Manchester City serem reforçados por bilionários e também empilharem taças. E, pasmem, teve que aturar Blackburn Rovers – curiosamente sob o comando de Kenny Dalglish – e Leicester erguerem a Premier League, o que provocava a zoação dos rivais anos após ano.

Além do boom dos rivais, se tornou um clube que servia de trampolim para a maioria dos seus jogadores. Michael Owen, Fernando Torres, Xabi Alonso, Luis Suárez, Raheem Sterling e Philippe Coutinho: todos deixaram o Liverpool com o discurso de querer ganhar títulos e buscar algo a mais na carreira.

Suárez, Coutinho e Sterling no Liverpool
Alex Livesey/Getty Images

Além de se tornar um clube trampolim, o Liverpool desaprendeu a montar bons elencos, mas ainda assim conseguia ser competitivo em alguns momentos graças a ele: Steven Gerrard. Isso porque o camisa 8 dos Reds não abandonou o barco. Entre frustrações e glórias, foram 17 anos juntos. No entanto, o destino foi cruel e Gerrard deixou os Reds sem erguer uma Premier League.

Uma frustração irreparável para um dos maiores que já vestiram a camisa vermelha. O garoto nascido em Liverpool e que entendia muito bem o que significava um título inglês não só para o clube, mas também para o lado vermelho da cidade, acabou escorregando justamente na melhor chance de taça para os Reds. E o que era sonho virou pesadelo diário.

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De grão em grão

John Henry. Este é, sem dúvidas, um dos personagens da revolução do Liverpool. Quando ele comprou o clube em outubro de 2010, encontrou um gigante agonizado e quase falido. Portanto, a reconstrução de um dos maiores times do mundo precisava ser feita com calma, de grão em grão e sem pular etapas por pressão externa.

E não há dúvidas de que ele teve êxito nos seus objetivos. Em quase dez anos de Liverpool, quitou dívidas, aumentou a capacidade do Anfield, equilibrou as contas e, junto com tudo isso, ainda trouxe Jürgen Klopp em outubro de 2015, para construir um projeto duradouro e forte, não com lampejos feito o clube teve em alguns momentos dessas três décadas.

Com Klopp, o Liverpool foi passando por fases. O primeiro passo era sair do ostracismo e ter lampejos que lembrassem os melhores dias do clube: logo na primeira temporada do alemão no comando, teve dois: finalista da Copa da Liga Inglesa e da Europa League. Embora tenha perdido os títulos, serviu para amadurecer o time.

Liverpool UEL 2016
David Ramos/Getty Images

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O amadurecimento do projeto

Dos lampejos, era necessário se tornar competitivo. E foi o que o Liverpool conseguiu ser na temporada 2016/2017, onde o maior objetivo era retornar à Champions League. Para a época seguinte, o projeto era se tornar ainda mais forte e, quem sabe, brigar por títulos. Com a chegada de van Dijk em janeiro de 2018, os Reds avançaram mais um degrau.

Da competitividade para a disputa de títulos: finalista da Champions League. Embora o vice para o Real Madrid tenha sido doloroso, era mais uma etapa que o Liverpool precisava passar. Com a perda do título, corrigiu o problema do gol com a vinda do brasileiro Alisson Becker.

Após o vice na Champions League, o Liverpool mudou de projeções: o clube queria deixar de disputar para, finalmente, voltar a ganhar títulos. E conseguiu. Após uma corrida insana com o Manchester City na Premier League da temporada 2018/2019, os Reds terminaram o torneio com 97 pontos, um a menos que a equipe de Pep Guardiola.

No entanto, as coisas voltaram a sorrir no dia 1º de junho de 2019 para o torcedor do Liverpool. Isso porque os Reds, após eliminarem o Barcelona de forma espetacular na semifinal, venceram a Champions League pela sexta vez ao derrotarem o Tottenham na final por 2 a 0.

Liverpool campeão Champions League
Michael Regan/Getty Images

A hora da glória 

Para a temporada 2019/2020, o objetivo era finalmente voltar a dominar na Inglaterra. E conseguiu mais do que isso. Com uma campanha fantástica que apontou 86 pontos em 31 jogos, o Liverpool sagrou-se campeão da PL pela primeira vez em sua história, quebrando vários recordes e a perspectiva de quebrar mais até o fim da competição.

O título era questão de tempo, mas aí veio a pandemia do novo coronavírus que interrompeu. Adiou um sonho não só da confirmação do título e do fim do jejum, mas de comemorar com a The Kop, a arquibancada que simboliza a essência do Liverpool e que viu as maiores glórias do clube.

Bill Shankly, técnico que revolucionou o Liverpool, entendia como poucos a essência da Kop. Simbolizava a união entre torcida, time e cidade. Não existe Liverpool sem torcida, mas a festa com eles precisou ser adiada – embora alguns tenham ido para a frente do Anfield comemorar após o título.

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Klopp entendeu o que é ser Liverpool

Em cinco anos de Liverpool, Klopp conseguiu replicar a relação de Shankly com a torcida e a cidade. O treinador alemão entendeu bem que não há como o clube ser vitorioso se comandante, jogadores e torcedores não estiverem conectados uns com uns outros. Com coração e alma conectados.

Coração e alma são palavras que definem bem este Liverpool histórico. Coletivo também é outro adjetivo que cabe bem para os Reds. Coletividade que Shankly também acreditava e repassava em seus discursos. E que Klopp seguiu fielmente – não só no futebol, mas como um modelo em geral.

O título da Premier League certamente representa o reencontro do Liverpool consigo mesmo. Demorou, mas veio do jeito que os Reds conquistaram praticamente todos os títulos de sua história. Com união e coletividade. É duro não comemorar com o torcedor que esteve ao lado por todos esses anos, mas é necessário.

Como diz o You’ll Never Walk Alone, lema do clube, há um céu dourado no fim da tempestade. Céu dourado que, após anos sendo cinzento, enfim voltou a ser vermelho. Do vermelho do Liverpool 19 vezes campeão inglês e pela primeira vez da PL. Um título dedicado a todos os Reds. Daqueles que perderam a vida na tragédia de Hillsborough em 1989 até milhares que infelizmente não tiveram como ver este momento histórico. Solta o grito torcedor red, o Liverpool, enfim, é campeão da PL. 

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Lucas Holanda
Lucas Holanda

Jornalista em formação, olindense e apaixonado por futebol.