30 anos. Este foi o tempo em que o Liverpool precisou com um jejum incômodo, doloroso e que atormentava o clube – do torcedor ao dono – todos os dias. No entanto, após três décadas entre frustrações e pesadelos diários, os Reds triunfaram.
Sob o comando de um técnico que entendeu desde o primeiro dia a sua missão, o lado vermelho da Terra dos Beatles voltou a ser campeão inglês e, pela primeira vez na história, conquistou a Premier League. Isso porque em 1990, quando o Liverpool ergueu a taça, a liga ainda não havia sido criada. O torcedor do Liverpool, enfim, pode gritar que é campeão da PL.
Outubro de 2015
Klopp: “Se ficarmos aqui por quatro anos, acho que podemos conquistar um título. Estou certo disso. Senão, talvez tenha que ir para a Suíça”. pic.twitter.com/HfNFKNVUjl— PL Brasil (@plbrasil1) June 26, 2020
Boom dos rivais e frustrações
De um Liverpool protagonista e dominante visto sob o comando de Bill Shankly, Bob Paisley, Joe Fagan e Kenny Dalglish, o clube virou um coadjuvante. E durante esse tempo, viu o Manchester United ressurgir e se tornar o maior campeão inglês e o Arsenal beliscar taças da Premier League.
Observou Chelsea e Manchester City serem reforçados por bilionários e também empilharem taças. E, pasmem, teve que aturar Blackburn Rovers – curiosamente sob o comando de Kenny Dalglish – e Leicester erguerem a Premier League, o que provocava a zoação dos rivais anos após ano.
Além do boom dos rivais, se tornou um clube que servia de trampolim para a maioria dos seus jogadores. Michael Owen, Fernando Torres, Xabi Alonso, Luis Suárez, Raheem Sterling e Philippe Coutinho: todos deixaram o Liverpool com o discurso de querer ganhar títulos e buscar algo a mais na carreira.
Além de se tornar um clube trampolim, o Liverpool desaprendeu a montar bons elencos, mas ainda assim conseguia ser competitivo em alguns momentos graças a ele: Steven Gerrard. Isso porque o camisa 8 dos Reds não abandonou o barco. Entre frustrações e glórias, foram 17 anos juntos. No entanto, o destino foi cruel e Gerrard deixou os Reds sem erguer uma Premier League.
Uma frustração irreparável para um dos maiores que já vestiram a camisa vermelha. O garoto nascido em Liverpool e que entendia muito bem o que significava um título inglês não só para o clube, mas também para o lado vermelho da cidade, acabou escorregando justamente na melhor chance de taça para os Reds. E o que era sonho virou pesadelo diário.
Six years ago today, at approx 2.53pm GMT, the vast majority of the football world cried tears of laughter as big as April artichokes when Steven Gerrard slipped allowing Demba Ba a free run at goal to score for Chelsea against Liverpool in front of the Kop at Anfield. pic.twitter.com/A5RFVS829k
— Mark Worrall (@gate17marco) April 27, 2020
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De grão em grão
WE’RE PREMIER LEAGUE CHAMPIONS!! ???? pic.twitter.com/qX7Duxoslm
— Liverpool FC (Premier League Champions ????) (@LFC) June 25, 2020
John Henry. Este é, sem dúvidas, um dos personagens da revolução do Liverpool. Quando ele comprou o clube em outubro de 2010, encontrou um gigante agonizado e quase falido. Portanto, a reconstrução de um dos maiores times do mundo precisava ser feita com calma, de grão em grão e sem pular etapas por pressão externa.
E não há dúvidas de que ele teve êxito nos seus objetivos. Em quase dez anos de Liverpool, quitou dívidas, aumentou a capacidade do Anfield, equilibrou as contas e, junto com tudo isso, ainda trouxe Jürgen Klopp em outubro de 2015, para construir um projeto duradouro e forte, não com lampejos feito o clube teve em alguns momentos dessas três décadas.
Com Klopp, o Liverpool foi passando por fases. O primeiro passo era sair do ostracismo e ter lampejos que lembrassem os melhores dias do clube: logo na primeira temporada do alemão no comando, teve dois: finalista da Copa da Liga Inglesa e da Europa League. Embora tenha perdido os títulos, serviu para amadurecer o time.
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O amadurecimento do projeto
At the end of the storm, there’s a golden sky…
You’ll Never Walk Alone. pic.twitter.com/W3StY8FSPM
— Liverpool FC (Premier League Champions ????) (@LFC) June 26, 2020
Dos lampejos, era necessário se tornar competitivo. E foi o que o Liverpool conseguiu ser na temporada 2016/2017, onde o maior objetivo era retornar à Champions League. Para a época seguinte, o projeto era se tornar ainda mais forte e, quem sabe, brigar por títulos. Com a chegada de van Dijk em janeiro de 2018, os Reds avançaram mais um degrau.
Da competitividade para a disputa de títulos: finalista da Champions League. Embora o vice para o Real Madrid tenha sido doloroso, era mais uma etapa que o Liverpool precisava passar. Com a perda do título, corrigiu o problema do gol com a vinda do brasileiro Alisson Becker.
Welcome to @LFC, @Alissonbecker. 🔴https://t.co/t4msWAm2sU pic.twitter.com/2xefw3zIFU
— Liverpool FC (@LFC) July 19, 2018
Após o vice na Champions League, o Liverpool mudou de projeções: o clube queria deixar de disputar para, finalmente, voltar a ganhar títulos. E conseguiu. Após uma corrida insana com o Manchester City na Premier League da temporada 2018/2019, os Reds terminaram o torneio com 97 pontos, um a menos que a equipe de Pep Guardiola.
No entanto, as coisas voltaram a sorrir no dia 1º de junho de 2019 para o torcedor do Liverpool. Isso porque os Reds, após eliminarem o Barcelona de forma espetacular na semifinal, venceram a Champions League pela sexta vez ao derrotarem o Tottenham na final por 2 a 0.
A hora da glória
Para a temporada 2019/2020, o objetivo era finalmente voltar a dominar na Inglaterra. E conseguiu mais do que isso. Com uma campanha fantástica que apontou 86 pontos em 31 jogos, o Liverpool sagrou-se campeão da PL pela primeira vez em sua história, quebrando vários recordes e a perspectiva de quebrar mais até o fim da competição.
O título era questão de tempo, mas aí veio a pandemia do novo coronavírus que interrompeu. Adiou um sonho não só da confirmação do título e do fim do jejum, mas de comemorar com a The Kop, a arquibancada que simboliza a essência do Liverpool e que viu as maiores glórias do clube.
Bill Shankly, técnico que revolucionou o Liverpool, entendia como poucos a essência da Kop. Simbolizava a união entre torcida, time e cidade. Não existe Liverpool sem torcida, mas a festa com eles precisou ser adiada – embora alguns tenham ido para a frente do Anfield comemorar após o título.
Tem torcedor do Liverpool nas ruas comemorando o título da Premier Leaguepic.twitter.com/ovID8O2N74
— PL Brasil (@plbrasil1) June 25, 2020
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Klopp entendeu o que é ser Liverpool
A simple yet emphatic message from the boss…
‘This is for you.’ ❤️
— Liverpool FC (Premier League Champions ????) (@LFC) June 25, 2020
Em cinco anos de Liverpool, Klopp conseguiu replicar a relação de Shankly com a torcida e a cidade. O treinador alemão entendeu bem que não há como o clube ser vitorioso se comandante, jogadores e torcedores não estiverem conectados uns com uns outros. Com coração e alma conectados.
Coração e alma são palavras que definem bem este Liverpool histórico. Coletivo também é outro adjetivo que cabe bem para os Reds. Coletividade que Shankly também acreditava e repassava em seus discursos. E que Klopp seguiu fielmente – não só no futebol, mas como um modelo em geral.
O título da Premier League certamente representa o reencontro do Liverpool consigo mesmo. Demorou, mas veio do jeito que os Reds conquistaram praticamente todos os títulos de sua história. Com união e coletividade. É duro não comemorar com o torcedor que esteve ao lado por todos esses anos, mas é necessário.
Como diz o You’ll Never Walk Alone, lema do clube, há um céu dourado no fim da tempestade. Céu dourado que, após anos sendo cinzento, enfim voltou a ser vermelho. Do vermelho do Liverpool 19 vezes campeão inglês e pela primeira vez da PL. Um título dedicado a todos os Reds. Daqueles que perderam a vida na tragédia de Hillsborough em 1989 até milhares que infelizmente não tiveram como ver este momento histórico. Solta o grito torcedor red, o Liverpool, enfim, é campeão da PL.