Infelizmente, este é mais um Dia Internacional da Mulher em que não há muito para se comemorar. Uma nova pesquisa, produzida pela “Kick It Out”, entidade que trabalha no combate aos preconceitos no esporte, constatou números alarmantes de sexismo sofrido por treinadoras de futebol no Reino Unido.
O estudo feito com 115 treinadoras de equipes de Inglaterra e País de Gales mostrou que quatro a cada cinco técnicas já sofreram alguma forma sexismo ou misoginia no ambiente de trabalho. Isso representa 80% das entrevistadas.
Além disso, 70% delas passou por esse tipo de situação enquanto frequentavam um curso de treinadores de futebol.
Técnicas de futebol revelam sofrer machismo na Inglaterra
- Mais de metade (57%) das entrevistadas disseram ter sido tratadas de forma diferente enquanto treinavam por causa do seu gênero;
- 55% tiveram as suas opiniões questionadas ou ignoradas;
- 48% foram perguntadas sobre seu conhecimento das regras do esporte.
Entre as que sofreram sexismo:
- 56% disseram ter sido vítimas de algum tipo de abuso por outra comissão técnica, tanto adversária, como do próprio clube;
- 40% das participantes relataram ter sofrido abuso por parte dos pais dos atletas.
Hollie Varney, diretora de operações da “Kick It Out”, considera os números “alarmantes”, especialmente em “um momento de enorme crescimento para o futebol feminino”.
— Muitas das mulheres com quem conversamos compartilhavam sua paixão e amor pela profissão de treinadora, mas também falaram sobre a exaustão que advinha de serem regularmente prejudicadas, questionadas e negligenciadas no ambiente de trabalho. O futebol precisa levar o sexismo a sério se quisermos aumentar o número de mulheres no cargo de treinadoras e esperamos que os resultados desta investigação possam ser um catalisador para tornar este um espaço mais acolhedor para as mulheres — disse Varney, em comunicado à imprensa.
A pesquisa surge em um momento em que se debate na Inglaterra o porquê do baixo número de mulheres à frente das equipes no futebol inglês. Na Women's Super League (WSL), primeira divisão de futebol feminino, apenas quatro de 12 treinadores são mulheres: Emma Hayes (Chelsea), Carla Ward (Aston Villa), Rehanne Skinner (West Ham) e Lauren Smith (Bristol City).
— Temos muito trabalho a fazer para preencher essa lacuna. Temos que reconhecer que as oportunidades são poucas e raras. Precisamos pensar em maneiras diferentes de educar as mulheres desde a juventude — opinou Emma Hayes, em entrevista recente à “BBC Sport”.
Mais da metade das treinadores já pensou em desistir por machismo
Se o cenário já é limitado para as mulheres no comando, o preconceito tende a deixá-lo ainda mais restrito. 35% das respondentes disseram que não se sentiam bem-vindas no ambiente de treinamento e 54% admitiram que já pensaram em abandonar a profissão devido às situações de machismo que vivenciaram.
Uma treinadora de um time de base contou, em anônimo, ao “Kick It Out”, porque desistiu do trabalho, mesmo amando e achando importante.
— Adoro treinar e inspirar meninas a jogar futebol, e as treinadoras são modelos importantes. Infelizmente, os últimos anos têm sido muito difíceis pessoalmente com o sexismo dos meus colegas treinadores. Nunca quis ir mais longe porque não quero entrar na ‘lista negra' por isso, mas não estou mais treinando por causa do sexismo que sofri.
— Os clubes precisam fazer algo melhor para apoiar as treinadoras que possuem e ter uma política em vigor onde ações serão tomadas caso o sexismo seja denunciado a eles.