Desastre de Munique: A tragédia que marcou a história do Manchester United em 1958

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No dia 6 de fevereiro de 1958, o Manchester United fazia uma viagem de retorno para a Inglaterra contra o Estrela Vermelha, em Belgrado. O jogo terminou empatado em 3 a 3, o que garantiu a vaga para a semifinal da Champions League aos ingleses.

O desastre de Munique e o Manchester United

Mas não houve tempo para comemoração. Na tarde daquela quinta-feira, o avião que levava a delegação do Manchester United parou em Munique, na Alemanha, para reabastecer. Ao seguir viagem, o momento trágico que levou à morte 23 pessoas, entre elas oito jogadores do clube.

O ocorrido aconteceu às 15h04 (horário local). Em Old Trafford, casa da equipe inglesa, há um relógio no qual os ponteiros marcam o horário do acidente.

Durante a década de 1930, o Manchester United passou por dois rebaixamentos e o clube beirava à falência. Até que em 1945, Matt Busby foi contratado. Com uma visão otimista e brilhante, ele montou um time jovem e que ganhou o apelido de “Busby babes”, em alusão ao célebre treinador.

O Manchester United estava em seus tempos de glória. Bicampeão inglês, o time acabara de conseguir a vaga na semifinal da Copa da Europa — como era chamada a Champions League — ao empatar com o Estrela Vermelha na antiga Iugoslávia.

Para voltar à Inglaterra a tempo de disputar a partida pelo Campeonato Inglês no sábado, 8 de fevereiro, o clube fretou um bimotor do modelo Airspeed Ambassador, da British European Airways.

O avião fez uma pausa em Munique, mas problemas técnicos impediram a tribulação para alçar voo e seguir com a viagem. Na ocasião, estava tendo uma forte nevasca e era considerado improvável que houvesse uma nova tentativa de decolagem. Porém, o comandante James Thain, ex-piloto da Força Aérea Britânica (RAF), insistiu para manter o plano de voo.

Thain alegou que, como a pista tinha 2 km, havia espaço suficiente para o avião alcançar os 119 nós (220 km/h) necessários para a decolagem. Mas um problema técnico prejudicou a aceleração da aeronave, que atingiu apenas 117 nós (216,7 Km/h). A torre chegou a ser informada, porém nada pôde ser feito.

“Cristo, não vamos conseguir”, gritou o copiloto após a aeronave passar do ponto onde era possível abordar a decolagem. Logo depois o motor pegou fogo, o avião bateu na cerca do aeroporto, se chocou com uma case onde moravam seis pessoas — todas sobreviveram — e foi consumido pelas chamadas

Dos 44 tripulantes do Airspeed Ambassador, 20 morreram na hora e outros três faleceram no hospital. Entre as vítimas, oito eram jogadores do Manchester United: Roger Byrne, Mike Jones, Eddie Colman, Tommy Taylor, Lian Whelan, David Pegg, Geoff Bent e Duncan Edwards, esse considerado o melhor jogador da equipe.

— Eu de alguma forma achei coragem para subir de novo nos destroços do avião em chamas, apesar de ouvir o capitão James Thain gritar ‘Corra, seu bastardo idiota, vai explodir!'. Consegui tirar um bebê e depois uma mulher. Puxei Bobby Charlton e Dennis Viollet e os arrastei por cerca de 20 metros na neve. Matt Busby estava passando a mão no peito e gemendo ‘Minhas pernas, minhas pernas' — disse o então goleiro do United Harry Gregg em entrevista ao “The Guardian” em 2003.

Bobby Charlton, um dos maiores jogadores do futebol inglês, foi um dos sobreviventes. Ele iria brilhar em 1966 ao conduzir a Inglaterra ao título da Copa do Mundo, mas não esqueceu do momento trágico que passou. Anos após o acidente, ele lamentou a perda do companheiro de equipe Edwards.

— Duncan tinha tudo. Tinha força e espírito que simplesmente se esparramavam pelo campo. Tenho certeza absoluta que, se sua carreira tivesse um período maior, ele provaria ser o maior jogador que já vimos. Sim, conheço os grandes jogadores – Pelé, Maradona, Best, Law, Graves e meu preferido, Alfredo di Stefano -, mas a questão é que ele era melhor em todos os aspectos do jogo — lamentou Bobby Charlton

O que aconteceu depois do acidente de avião do Manchester United que caiu?

Thain foi um dos sobreviventes e considerado culpado pelo acidente. A primeira suspeita sobre a causa do acidente era o possível acúmulo de neve nas asas. Por ser o piloto, isso deveria ser verificado por ele, além de ter tomado a decisão de retomar a viagem.

Anos depois, as investigações concluíram que a causa do acidente foi o acúmulo de lama na pista de decolagem. Apenas em 1968 que Thain se viu livre das acusações, mas nunca mais pilotou uma aeronave. Ele faleceu em 1975 e somente em 2008, durante as homenagens de 50 anos do acidente, que o Manchester United reconheceu que o comandante não teve culpa, e sua filha participou da celebração.

Matt Busby sofreu múltiplos ferimentos e chegou a receber a extrema unção duas noves, mas sobreviveu e teve alta do hospital nove semanas depois do acidente.

Jimmy Murphy assumiu o comando técnico do United na ausência de Busby. O time voltou a campo 13 dias depois do acidente para jogador contra o Sheffiled Wednesday pela quinta rodada da FA Cup. O mantra “O United continuará” conduziu o time para a superação.

Busby retomou os trabalhos e levou o United para a glória novamente. Em 1967, os Red Devils foram campeões da Campeonato Inglês e um ano depois ficaram com o título da Champions League.

Gabriel Lemes
Gabriel Lemes

Me formei em Jornalismo pela Univap em 2019 e sou redator da PL Brasil. Já escrevi para o Quinto Quarto, Minha Torcida, Futebol na Veia e Portal Famosos.