Ex-Arsenal, Denilson relembra duelos contra o Manchester United de Ferguson: ‘Tínhamos mais talento’

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Jogar em um time de ponta da Europa é o sonho de praticamente todo brasileiro. Denilson conseguiu esse feito com apenas 18 anos de idade, depois ter sido o jogador mais jovem a conquistar o Mundial de Clubes pelo São Paulo. Ele foi para o Arsenal em agosto de 2006 e teve uma passagem de cinco anos no Norte de Londres, onde viveu o auge de sua carreira disputando a Champions League.

Por que Arsenal não vence a Champions

Denilson chegou três meses depois de o Arsenal bater na trave na Champions League, ao perder de virada para o Barcelona na final com um gol nos minutos finais. Depois disso, o máximo que os Gunners alcançaram na competição foi chegar às semifinais em 2008/09.

O time londrino acabou eliminado pelo Manchester United por 4 a 1 no placar agregado. O embate ainda fica na memória de Denilson.

— Não sei explicar até hoje. Pegamos o Manchester United, que tinha Cristiano Ronaldo jogando uma de suas melhores temporadas na Inglaterra. Nós tínhamos mais talentos, mas os caras eram mais cascudos. Quando jogávamos contra o Manchester United, o Evra dizia “agora vamos ver quem são os homens e quem são os nenéns”. Depois, quando acabava o jogo, eles provavam que eram superiores. Não com talento, mas por serem cascudos.

Mesmo sem ter conseguido o título, Denilson guarda com carinho a experiência de jogar a Champions League por um clube do Big Six da Premier League.

— Na minha estreia contra o PSV no Emirates (1 a 1), a gente ficou enfileirado e começou a tocar a música… aquele hino. A câmera foi passando no rosto de cada um e já fui pensando “minha família com certeza está assistindo, agora eu posso dizer que sou um jogador de verdade”. É algo surreal.

Nesta temporada, o Arsenal está de volta à Champions League após seis anos e enfrenta o Porto nas oitavas de final. Denilson entrou em campo na última vez que os dois times se enfrentaram em 9 de março de 2010. Ele entrou no lugar de Nasri e a partida terminou 5 a 0 para os Gunners contra uma equipe que tinha Hulk e Falcao Garcia como dupla de ataque.

— O Porto era muito forte, mas nós tínhamos uma equipe melhor. Naquela época, Barcelona e Arsenal apresentavam o futebol mais vistoso do mundo. Eu acho que nem o Manchester United, que vinha ganhando vários títulos, tinha isso.

Arsenal Porto Denilson
Denilson, Falcao Garcia e Vermaelen no jogo de ida das oitavas de final da Champions League (Foto: Icon Sport)

Denilson ‘não gosta’ de acompanhar o Arsenal hoje

Denilson revelou que não assiste aos jogos do Arsenal por conta da nostalgia. Mesmo assim, sabe que o time londrino está na briga pelo título da Premier League novamente, após deixar o caneco escapar nas rodadas finais na temporada passada.

— Eu não gosto de assistir muito, principalmente os jogos no Emirates, porque eu começo a lembrar de cada momento, pensando “em tal ano eu estava naquele lugar”. Então, procuro evitar, porque bate aquela saudade, mas estou torcendo. No ano passado, foi estilo Botafogo. Pessoal até brinca “é o Botafogo da Inglaterra”. Mas o Arsenal está tendo uma regularidade. A Premier League está disputadíssima. É Liverpool, Manchester City e Arsenal na briga.

Mas o ex-jogador garantiu que assistirá a partida contra o Porto na Champions League nesta quarta-feira (21): “Vou até postar nas minhas redes sociais e tentar relembrar aqueles tempos.

Arsenal de craques e do “generoso” Wenger

O Arsenal havia vencido a Copa da Inglaterra na temporada anterior à chegada de Denilson e contava com lendas no seu elenco, como Thierry Henry. Acanhado, o brasileiro precisou de ajuda de alguns jogadores e do próprio treinador para se adaptar ao novo clube.

— Foi incrível, um momento único. Assim que cheguei na Inglaterra, me deparei com jogadores como Henry, Gilberto Silva e o Wenger. Esses três que me receberam quando eu cheguei. Me lembro como se fosse hoje. Eu já tinha jogado futebol profissional, estive na Seleção de base desde os 16 anos, mas aquele momento foi impactante.

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Denilson, do Arsenal, marca Rooney, do Manchester United. Foto – Icon Sport

Gilberto Silva foi peça fundamental no processo de adaptação do compatriota no Arsenal. Afinal, os dois jogavam na mesma posição, e o volante da seleção brasileira, com mais tempo de casa, já havia feito história no clube.

Quando fui para a Inglaterra, eu estava sozinho, então o Gilberto me chamava muito para ir à casa dele. Eu era muito introvertido e ficava meio sem graça. Por mais que fosse brasileiro, é o Gilberto Silva. Ficava todo acanhado.

O processo de adaptação também teve outra pessoa fundamental. Denilson conta que uma das coisas que leva do tempo de Arsenal é a generosidade de Wenger. Além da pouca idade e de não saber falar inglês, o brasileiro precisou lidar com o frio intenso e o icônico treinador entendia o lado humano por trás do jogador.

De duas a três vezes na semana, ele me chamava na sala dele com um português que trabalhava no clube para intermediar as conversas. Ele me aconselhou muito e disse “qualquer coisa que você estiver passando aqui, nos comunique”. Foi uma relação de cuidado e fiquei muito feliz. Fora as coisas de dentro de campo. Ele me deu muita liberdade para jogar no campo, não à toa eu fiz 12 gols no meu período no Arsenal.

Dificuldade na Inglaterra

Arsene Wenger no Arsenal
Arsene Wenger no Arsenal. Foto – Icon Sport

Após a temporada 2008/09, Denilson começou a passar por momentos difíceis na Inglaterra. Mesmo realizando o sonho de jogar por um gigante europeu, o brasileiro já não conseguia suportar o frio intenso e a falta da família.

— Como cheguei em 2006, tudo foi novidade. No começo, foi uma maravilha, nunca tinha visto neve e o primeiro ano foi ótimo, mesmo não jogando tanto. A família não podia ir para a Inglaterra porque trabalhava no Brasil. Eu não podia tirá-los do país para ficar perto de mim, cada um tem que ter sua vida. Mas eu senti falta por anos. Londres já tem um tempo deprimente e é natural a falta de ter pessoas que você gosta ao seu lado.

Denilson conta que não faltou suporte por parte do Arsenal. O clube inclusive pagava aulas de inglês ao jogador, e Wenger acompanhava o brasileiro com reuniões semanais. Mas em 2011, o volante não aguentou mais e decidiu sair.

O treinador até tentou mantê-lo por mais tempo, porém o jogador já havia tomado sua decisão. “Quando eu pedi para voltar ao Brasil, o Wenger ficou me segurando pedindo para eu esperar, dizendo que não era o momento.

O Arsenal, então, entrou em contato com diretores de outros clubes na época. Um diretor do Sevilla foi até a casa de Denilson para almoçar e pediu para jogar na Espanha por pelo menos uma temporada. “Disse que a cidade era maravilhosa e que o clima não era como o de Londres.

Depois, outro dirigente, do Shakhtar Donetsk, tentou levá-lo para a Ucrânia. “Eu pensei ‘pô, eu não vou nem para o Sevilla, imagina para o Shakhtar, na Ucrânia, em que o frio é pior ainda?’ Não dava.

— O Fluminense estava disposto a me contratar, era na época da Unimed ainda, que tinha muito dinheiro. Era um contrato de empréstimo de um ano. Do nada, o pessoal do São Paulo ficou sabendo e o Juvenal mandou o Milton Cruz ligar para mim, falando que não era para eu ir para o Fluminense e sim ir para o São Paulo.

Romulo Giacomin
Romulo Giacomin

Formado em Jornalismo na UFOP, passou por Mais Minas, Esporte News Mundo e Estado de Minas. Atualmente, escreve para a Premier League Brasil.