Depois de 21 anos de Arsène Wenger, o Arsenal mudou de treinador e de filosofia. A chegada de Unai Emery trouxe novos ares ao ambiente e transformou o espírito da equipe em muitos aspectos. Porém, um problema recorrente dos últimos anos do Arsenal segue presente: limitações do elenco e da defesa.
Se em outros anos os Gunners tiveram mais problemas no ataque ou no meio de campo, por exemplo, agora a zaga é o grande calcanhar de Aquiles. E os últimos acontecimentos da atual temporada evidenciam mais ainda este problema.
Depois da sequência contra Tottenham e Manchester United pela Premier League em dezembro, o Arsenal enfrentou o Southampton com muitos desfalques defensivos. Resultado: derrota por 3 a 2 para um time da zona de rebaixamento e fim da invencibilidade de 21 jogos.
Em seguida, mais um North London Derby. Jogando em casa, o time foi derrotado pelo Tottenham por 2 a 0 pelas quartas de final da Copa da Liga Inglesa. O adeus à competição foi marcado por outra atuação ruim de uma defesa bem remendada.
Estes foram apenas alguns jogos onde erros defensivos, falta de opções nos momentos mais críticos e a constante improvisação no setor mostraram que o Arsenal necessita olhar para a defesa com carinho já na janela de inverno.
Em uma PL onde os rivais têm ataques poderosos, um balanceamento defensivo é diferencial. Basta ver o líder Liverpool, por exemplo, que mesmo tendo em seu trio de ataque a grande força, só levou sete gols até a 18ª rodada.
Por isso, listamos aqui os principais problemas da defesa do Arsenal até agora e como o clube pode agir para contornar essa situação.
Lesões prejudicam diretamente a rodagem do elenco
As baixas começaram antes mesmo da temporada começar. Em maio, ainda na época 2017/18, Laurent Koscielny rompeu o tendão de aquiles na semifinal da Europa League e ficou sete meses parado.
Já na pré-temporada, Sead Kolasinac lesionou o joelho e perdeu o começo da liga, ficando mais de 50 dias fora. O início da temporada poderia ser um alento, mas os problemas só continuaram.
Logo no primeiro jogo da PL, veio a primeira baixa. Na derrota por 2 a 0 para o Manchester City em agosto, Ainsley Maitland-Niles fraturou a perna e teve que ser substituído pelo recém-chegado Stephan Lichsteiner.
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Depois de um tempo, as coisas foram se acertando. A defesa ia se moldando com Hector Bellerín, Sokratis Papastathopoulos, Shkodran Mustafi e Nacho Monreal como titulares. Porém, com o passar dos jogos, a bruxa se soltou de vez no Arsenal.
No fim de setembro, contra o Everton, Sokratis sofreu uma lesão na perna. No mês seguinte, Monreal teve uma lesão na coxa e Konstantinos Mavropanos sentiu dores na virilha.
Veio o North London Derby contra o Tottenham pela PL em dezembro e Mustafi foi quem teve lesao na coxa. O camisa 20 voltou na partida seguinte contra o Manchester United, mas uma semana depois sentiu novamente contra o Huddersfield e segue fora.
No jogo citado contra o United, Rob Holding rompeu os ligamentos do joelho esquerdo e não joga mais nesta temporada. Onze dias depois do duelo em Old Trafford, Bellerín lesionou a panturrilha contra o Southampton.
Por fim, na vitória contra o Burnley na última rodada, foi a vez de Monreal novamente sair lesionado. Isso sem contar com Koscielny, que após voltar sem ritmo, precisou deixar a equipe e não foi relacionado para o duelo em questão.
Estas lesões têm prejudicado muito a rotação defensiva. Há muito tempo Unai Emery não consegue repetir um esquema durante as partidas e as faltas de entrosamento e de ritmo dificultam ainda mais a possibilidade de bons desempenhos.
E os problemas físicos acontecem no pior momento possível. Com tantas lesões e jogadores indisponíveis, além de não utilizar atletas importantes, os que estão em condição acabam sobrecarregados. Ou seja, pior cenário possível para Emery – mas que o torcedor do Arsenal já conhece bem de anos e anos a fio.
Improvisações intermináveis no setor
Além de tudo já citado, há outro contratempo que o excesso de lesões causa: as improvisações.
O elenco do Arsenal não é tão recheado no setor defensivo (isso porque também não conta com Calum Chambers, emprestado ao Fulham). As constantes baixas físicas fazem com que jogadores de outras posições sejam improvisados, o que quase sempre é problema.
Durante um certo período da temporada, Unai Emery pôs um esquema com três zagueiros. A formação teve que ser abortada justamente por conta do excesso de improvisações.
Os laterais Lichtsteiner e Monreal e o volante Xhaka em algum momento precisaram ser usados no miolo defensivo. Contra o Southampton foi o pior momento: o trio de zaga foi formado por Xhaka, Lichsteiner e Koscielny (único zagueiro dos três, e que fazia o primeiro jogo de PL em sete meses).
Nos jogos da Copa isso tem acontecido com frequência. Carl Jenkinson, lateral, jogou algumas partidas da Europa League como zagueiro. Já na Copa da Liga Inglesa, Xhaka teve que jogar mais recuado na derrota contra o Tottenham nas quartas.
As improvisações constantes expõem ainda mais a falta de elenco no setor defensivo. Os titulares se estabeleceram bem no começo, mas a partir do momento que as lesões começaram e a rotação foi necessária, a coisa começou a complicar.
Os números não mentem quanto a esta situação. De outubro para cá, foram onze jogos pela PL. Destes, em apenas um o Arsenal não levou gols (1 a 0 contra o Huddersfield, em oito de dezembro).
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Nas onze partidas em questão, o Gunners levaram quinze gols. Tanto que eles, neste momento, têm a quarta pior defesa entre os times do top-10, com 24 tentos sofridos (perdem para Manchester United com 30, Bournemouth com 28 e Watford com 25).
Para completar, o time tem apenas dois clean sheets – jogos sem tomar gols – nesta PL: um com Petr Cech e outro com Bernd Leno. Os líderes estão bem distantes: Alisson (Liverpool), Kepa (Chelsea) e Ederson (Man City) tem onze, oito e oito, respectivamente.
Obviamente não há uma garantia de que o time não tomaria tantos gols se os jogadores da posição estivessem disponíveis. Mas não dá para negar que a constante improvisação no setor é um problema sério para a sustentação do jogo.
Falhas constantes que custam pontos preciosos
Tudo isso passa uma grande sensação de insegurança ao torcedor do Arsenal. Erros defensivos têm se tornado situação comum, e com isso o time cede gols que custam pontos preciosos na tabela.
Contra o Wolverhampton, em erro de cobertura de Xhaka, Ivan Cavaleiro fez o gol no empate em 1 a 1. Diante do Man United, a falha clara de Kolasinac resultou no gol de Jesse Lingard – empate em 2 a 2.
Frente ao Southampton, um show de erros: Koscielny no primeiro e no segundo (neste com presença também de Lichtsteiner) e todo o sistema no terceiro, contando com contribuição de Bernd Leno, que saiu muito mal do gol.
Mais recentemente, contra o Burnley, foi a vez de Xhaka e Lucas Torreira baterem cabeça e Ashley Barnes aproveitar. Sorte que o gol não fez falta, já que o Arsenal venceu por 3 a 1.
Mesmo inteira, a defesa ainda não é unanimidade na torcida. Mustafi e Bellerín em especial são muito criticados e o torcedor gooner já pede reforços há algum tempo (Bellerín já tem melhorado nesse sentido após o bom começo de temporada).
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Além do mais, há a questão Koscielny. O francês é um zagueiro de qualidade, mas voltou de lesão grave no tendão de aquiles após sete meses – chegou a perder a Copa do Mundo por isso.
O camisa 6 claramente ele está fora de ritmo nos primeiros jogos pós-volta, ainda mais para um torneio como a Premier League. E já com 33 anos, é difícil imaginar que ele volte ao ritmo ideal tão cedo.
Todos esses fatores são evidenciados pelas falhas do sistema defensivo no geral. E elas mostram, não só para quem torce ou quem acompanha o Arsenal mais de perto, que a equipe precisa de reforços na proteção.
O que fazer?
Diante deste cenário, há duas possibilidades mais imediatas para Unai Emery.
A primeira é ir aproveitando pouco a pouco as voltas de lesões de alguns destes defensores para remontar o sistema. Segundo o próprio treinador, Koscielny e Mustafi já devem estar disponíveis na próxima partida (Brighton, dia 26/12), por exemplo.
Apesar destes dois citados terem alguns problemas no momento, como a falta de ritmo de jogo e confiança, tê-los no elenco é importante. São adições que retomam a rotação inicial, evitam a improvisação excessiva e trazem mais qualidade ao setor.
A outra alternativa é trabalhar bem na janela de inverno. O comandante dos Gunners já adiantou que não é fácil por conta da falta de grandes opções que normalmente existe na janela de inverno, mas que o clube pode (e provavelmente irá) agir neste sentido.
“Eu não sei agora, porque não temos muitas possibilidades em janeiro, mas se pudermos, iremos achar alguém para nos ajudar. SÓ faremos isso se percebermos que este jogador irá nos ajudar com boas performances. Janeiro não é tão bom por isso, mas vamos observar. O clube estará trabalhando por isso”, disse Emery após a derrota para o Southampton.
Na própria imprensa inglesa, já existem algumas especulações. Recentemente foram bastante ligados os nomes de Gary Cahill e Eric Bailly. Porém, seus clubes (Chelsea e Man United, respectivamente) estariam relutantes em uma venda local, o que prejudica os negócios.
Além disso, outro nome bastante falado no último mês foi o de Fernando Calero, zagueiro do Valladolid. Atualmente o clube é o 11º colocado em La Liga e o defensor espanhol de apenas 23 anos é um dos destaques.
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Claro que tudo isso é apenas especulação até o momento, e apenas em janeiro teremos mais respostas. Mas o histórico do Arsenal ajuda a imaginar um cenário: nas últimas sete temporadas, em seis o clube trouxe algum reforço pontual na janela de inverno.
Com isso, é necessário esperar e ver quais alternativas serão utilizadas. Unai Emery terá trabalho para organizar a situação, mas precisa fazer isso o mais rápido possível. O Arsenal necessita de uma defesa sólida para ter um time mais balanceado e este certamente é o grande objetivo atual do time.