O que esperar da temporada de David de Gea?

Há dois anos, o espanhol David de Gea era nomeado o melhor goleiro do mundo pela Fifa. Na temporada em questão, foram 115 defesas na Premier League, além de 17 jogos sem sofrer gol que ajudaram o Manchester United a terminar em segundo colocado na competição.

O tempo passou e, aparentemente, um caminhão também pela vida do goleiro. A temporada seguinte foi um caos. Desde conseguir apenas sete jogos sem sofrer gols, até falhas que, para um jogador de seu nível, seriam inimagináveis. A imagem do melhor do mundo começara a ser afetada aos poucos.

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David De Gea: O caminho até o auge 

Uma temporada após sua chegada, já conquistaria seu primeiro título importante: o último inglês do United, em 2012-13, onde terminava um ciclo e começava outro. O time entrava num ciclo decante e o goleiro, com 23 anos, entrava de vez no radar de melhores do mundo.

Em um Manchester United que passa por problemas desde a saída de Sir Alex Ferguson, o maior deles vinha sendo na parte defensiva do campo. Com nomes pouco fortes e repentinas lesões, a defesa dos Diabos Vermelhos era a maior fragilidade do time. Sobrava então, para de Gea, aliviar a barra. E isso ele fazia com exímia qualidade.

A necessidade deu um impulso e tanto em sua crescente dentro de campo, que era notável a cada jogo que se passava. Se por um lado os torcedores se irritavam com o time, Dave era uma espécie de refúgio. Havia partidas em que o goleiro fazia de tudo, e mais um pouco, mas mesmo assim não era o suficiente.

David De Gea Manchester United UEFA Champions League David Ramos Collection Getty Images Sport
(Credit David Ramos Collection Getty Images Sport)

Prova disso foi que ganhou o troféu Sir Matt Busby, prêmio dado para o melhor jogador da temporada do Manchester United, por três anos seguidos (2013-14 2014-15 e 2015-16). Além disso, conquistou, também por três anos consecutivos, o prêmio da BBC, uma das maiores emissoras da Inglaterra, de “Defesa da Temporada”.

No período, de Gea quase foi transferido para o Real Madrid em um das negociações mais cômicas dos últimos anos, que não se concluiu por mínimos detalhes no fim da janela.

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Sua permanência gerou controvérsias, afinal, a vontade do jogador era de voltar para seu país natal e atuar pelo, então, campeão europeu. Apesar de tais dúvidas, trouxe, e muitas, certezas para os torcedores.

O auge então batia em sua porta, e, como está acostumado a fazer, administrou a situação com uma facilidade que era raramente encontrada em outro goleiro. Em 2017-18, o United terminou em seu melhor posicionamento desde a saída de SAF. E muito disso se deve ao espanhol.

Dave fez o inacreditável. Sua partida contra o Arsenal no Emirates não só entrou na história por ser a partida de um goleiro com mais defesas na história da Premier League, com 14, mas deixava qualquer amante do esporte fascinado com sua capacidade de proteger a meta do adversário.

Como dito no início, a temporada em questão foi a melhor da carreira: 115 defesas na liga, 17 jogos sem sofrer gol (Luva de Ouro) e o prêmio de melhor goleiro do mundo dado pela Fifa.

Chegando ao seu auge, e com boa idade, 27 na ocasião, o caminho traçado para de Gea parecia ser brilhante. Um dos nomes fortes de sua seleção às vésperas de uma Copa do Mundo e cobiçado por grandes equipes ao redor do mundo. Bom, parecia.

A queda

Mais uma temporada se começava e, de novo, em meio a tantas dúvidas, os torcedores colocavam sua confiança nele. O cenário era ideal para mais um bom ano, mas a chave virou.

Tudo começou na Rússia. No Mundial, logo na estreia, naquela partida contra Portugal, o goleiro falhou em um dos gols de Cristiano Ronaldo e, ali, se iniciava uma fase negra na carreira do espanhol. Nos três jogos seguintes pela seleção, nada mais. Eliminação precoce nas oitavas de final e a volta para a Inglaterra, que seria um porto seguro, mas acabou sendo o oposto.

A temporada começou e com ela, era visto um de Gea nunca visto antes. Seu repertório de “milagres” mudava para um repertório nada positivo: um de falhas que comprometiam ainda mais o limitado United.

Rebatidas para dentro do gol ou para o adversário, má leitura de bolas longas, bolas fracas se tornando indefensáveis. Essa era a realidade do então melhor goleiro do mundo que, graças a repentinas atuações abaixo, via seu nome ligado a coisas ruins. Frases como “Essa falha foi típica de De Gea” virava rotina em mesas de conversa sobre futebol inglês.

Era esse o melhor goleiro do mundo? Certamente não. David de Gea até protagonizou um bom número de defesas (122), mas teve apenas sete clean sheets, além de sofrer o maior número de gols em uma só na temporada da carreira (54).

O que esperar da temporada?

Cá estamos nós em mais um início empolgante de Premier League e a dúvida que fica no ar é: O que esperar de David de Gea?

Em quatro partidas disputadas até aqui, se mostrou confiante ao ponto de fazer sete defesas e não sofrer gols contra o Chelsea. Mas também trouxe lampejos da temporada passada, na derrota para o Crystal Palace, quando espalmou uma bola para dentro no gol da vitória dos Eagles.

O excesso de confiança, em certas ocasiões, causa mal para qualquer tipo de pessoa. Para recuperá-la, é necessário, acima de tudo, maturidade. Hoje, beirando os 30 anos, o espanhol é um goleiro experiente e, após um ano para esquecer, tem a cabeça visando o retorno aos seus anos de destaque.

A expectativa para sua temporada é de volta por cima e reafirmação. Um goleiro de qualidade indubitável merece muito mais do que piadas e desconfianças. Tal qualidade é clara ao ver os números da péssima temporada passada. Tantos erros, tantas coisas ruins, mas mesmo assim, 122 defesas realizadas com sucesso.

O que esperar da temporada de David de Gea?
(Credit Steve Bardens Collection Getty Images Sport)
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Como tudo na vida, as pessoas vão preferir rir do seu fracasso mais vezes do que aplaudir seu sucesso. No futebol, isso acontece mais ainda. Um ambiente onde a superação em reação ao próximo é posta à prova a cada dia que se passa, erros valem muito mais, do que acertos.

Se for feita uma análise fria da temporada passada, o goleiro se queimou tanto pelo fato de o grande número de falhas que prejudicou o time, mas o ano em si, não foi desastroso. Suas atuações contra Tottenham, em Londres, e Leicester, por exemplo, foram típicas de David de Gea. Contra os Spurs, foram 11 defesas, recorde em uma partida sem conceder gols.

Tendo hoje uma defesa mais sólida, com as chegadas de Harry Maguire e Aaron Wan Bissaka, a tendência é que o goleiro trabalhe mais vezes em momentos cruciais, ou seja, mais difíceis. E todos nós sabemos que nessas situações, David de Gea é um dos melhores na posição.

Além do mais, um ponto importante para sua retomada é a confiança imposta nele pelas pessoas ao seu redor. Das quatro primeiras partidas da PL, foi capitão em três delas. A única em que perdeu a braçadeira, foi contra o Southampton, em que Ashley Young, capitão normalmente, jogou de titular.

Lucas Pires
Lucas Pires

Jornalista em formação que fala sobre esportes