David Beckham e a falta que levou a Inglaterra para a Copa do Mundo de 2002

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David Beckham sempre carregou a responsabilidade, por onde passou, em transformar a bola parada, em momento de perigo para o adversário, seja por clubes, seja pela seleção da Inglaterra.

E foi assim, em pleno Old Trafford, que o inglês protagonizou um dos momentos mais icônicos de sua carreira. Uma cobrança de falta magistral, que percorreu 27 metros, classificou os Three Lions para a Copa de 2002 e concedeu ao capitão daquele time a redenção.

Ao longo da caminhada nas Eliminatórias, Becks tinha consigo certa bagagem. Expulso na eliminação para a Argentina, na Copa do Mundo de 1998, foi culpado por parte da mídia inglesa. Não passar pela primeira fase da Eurocopa de 2000 também pesava sobre os ombros do camisa 7.

Por alguns era questionada a capacidade de liderança de Beckham. Outros afirmavam que seu sucesso seria apenas no clube, rodeado de outras estrelas, em situações onde não cabia sempre a ele decidir jogos.

Existia também as críticas ao modo ‘midiático' que o jogador levava a própria vida pessoal. Todo esse contexto pareceu motivar ainda mais o jogador, que, até então, era o melhor em campo pela Inglaterra.

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A Inglaterra, naquele grupo 9 de Classificatórias para Copa, disputava com a Alemanha uma vaga direta para o Mundial. Os ingleses foram a Munique e ganharam por 5 a 1 dos alemães, ficando a frente na classificação. Uma vitória contra Albânia (2 a 0) e a Inglaterra estava praticamente classificada sem que fosse necessário passar pela repescagem.

A partida foi disputada no histórico Old Trafford diante de uma desconhecida Grécia, que tinha apenas seis pontos em sete partidas disputadas. O sentimento era que a Inglaterra cumpriria o dever de casa. Para facilitar a vida dos anfitriões, a Alemanha apenas empatara com a Finlândia (0 a 0), fazendo com que apenas um empate fosse necessário para classificação inglesa.

Respeitando a pontualidade britânica, a bola rolou às 15h, horário marcado para o início da partida. O jogo era truncado, com o time grego apostando na parte física, com marcação forte e dando poucos espaços perto da sua própria área. Os visitantes eram melhores em campo e já pareciam estar mais perto do gol que os donos da casa.

A história, que parecia de glória, tomou contornos dramáticos quando Angelos Charisteas finalizou da entrada um rebote concedido por Ferdinand e marcou o primeiro gol da partida, aos 36 minutos. O gol premiou a melhor equipe até então na partida e transformou a festa nas arquibancadas em um sentimento de preocupação.

A Inglaterra estava pouco inspirada e Beckham se destacava da maneira que era possível. Aquela altura, ele já havia feito o goleiro grego Nikopolidis trabalhar uma vez para evitar um gol inglês. A equipe tinha dificuldades para encontrar espaço para criar e ao fim do primeiro tempo vitória parcial grega pela contagem mínima.

Intervalo

Gary M. Prior/ALLSPORT

Para início da segunda etapa, Sven-Göran Eriksson mudou o time inglês. Tirou o ineficiente Nick Barmby e colocou o atacante Andy Cole. A mudança surtiu efeito e a Inglaterra pressionou os gregos, mas sempre paravam no goleiro adversário. A postura agressiva deixava brechas para o contra-ataque que os gregos não conseguiam aproveitar.

Aos 23 minutos do segundo tempo, Eriksson colocou Teddy Sheringham em campo no lugar de Robbie Fowler, antes de uma cobrança de falta, sofrida por Beckham. O camisa 7 cobrou e o ex-atacante do United marcou o gol de empate. O estádio explodiu em comemoração com o resultado que dava a classificação a seleção inglesa.

A festa durou um minuto. Poucos minutos após o êxtase da comemoração, o silêncio novamente apareceu em Old Trafford. Cortesia de outro atacante grego, Demis Nikolaidis, que aproveitou confusão na área inglesa para finalizar com perfeição e novamente colocar a Grécia em vantagem no placar.

Faltavam praticamente 20 minutos para o fim do jogo e o tempo era inimigo da Inglaterra. O goleiro grego continuava impedindo o empate inglês. Todas as jogadas, agora criadas com certa facilidade, paravam em Nikopolidis. No entanto, o empenho do capitão inglês era visível. Ele parecia estar em todos os lugares do campo: roubando bolas, tentando colocar os companheiros na cara do gol, finalizando jogadas.

A cobrança de falta perfeita de David Beckham colocou a Inglaterra na Copa

Beckham e Scholes
Danny Gohlke/Bongarts/Getty Images

Quando o relógio marcava 37 minutos, falta na entrada da área. A torcida da Inglaterra no estádio, em silêncio, observou Beckham partir para batida. Goleiro grego sem reação e a bola encontrou a rede… pelo lado de fora. O drama continuava e os donos da casa buscavam incessantemente o gol.

Foi depois de um chutão do goleiro Martyn, que, durante a partida, foi crucial para manter os gregos em apenas dois gols, que a bola cruzou o campo e encontrou a dividida entre o zagueiro Konstantinidis e o atacante Sheringham e o juiz marcou a falta. Aos 47 minutos, era a última chance para os donos da casa fugirem da repescagem.

O atacante pediu para bater a falta. Beckham, com a bola nas mãos, não deixou. Já tinha batido, naquele jogo, cinco faltas e todas sem encontrar o fundo das redes. O capitão assumiu a responsabilidade e ajeitou a bola, no gol mas próximo da Stretford End. Enquanto o goleiro arrumava a barreira, Beckham se concentrava apenas na bola e esperava a autorização da batida.

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Quando o árbitro holandês Dick Jol autorizou, Beckham partiu para cobrança enquanto a barreira caminhava na direção da bola. Diferente das últimas cinco batidas, escolheu o canto alto do goleiro, não o lado da barreira. Diferente das últimas cinco batidas, a bola achou o ângulo do goleiro Nikopolidis, que desequilibrado, finalmente foi vencido por uma cobrança inglesa.

O gol derrubou por terra toda a carga dos últimos anos. A desconfiança tinha morrido, junto com a bola, no fundo das redes. A batida de falta de Beckham levou a Inglaterra de maneira direta de Manchester para o Mundial que foi disputado na Ásia. Saiu do pé direito do capitão a salvação, que parecia tão distante.

Como sabemos, a caminhada da Inglaterra naquela Copa pararia nas quartas de final. O forte time inglês foi derrotado pelo Brasil, que sairia campeão daquele Mundial. A derrota no Mundial, porém, não apagou o heroísmo e a redenção do capitão que os levou até ali.

Ficha técnica de Inglaterra 2×2 Grécia

8ª rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002.

Data: 06/10/2001.

Local: Old Trafford. / Público: 66 mil.

Inglaterra: Martyn; Gary Neville, Ferdinand, Keown, Ashley Cole (McManaman); Beckham, Gerrard, Scholes, Barmby (Andy Cole); Fowler (Sheringham), Heskey. Técnico: Sven-Göran Eriksson.

Grécia: Nikopolidis; Patsatzoglou, Dabizas, Vokolos, Costas Konstantinidis; Fissas, Zagorakis (Basinas), Kassapis, Karagounis; Charisteas (Lakis), Nikolaidis (Machlas). Técnico: Otto Rehhagel.

Gols: Teddy Sheringham 67′, David Beckham 93′ (ING) / Angelos Charisteas 36′, Demis Nikolaidis 69′ (GRE).

Danny Gohlke/Bongarts/Getty Images
Leonardo Parrela
Leonardo Parrela

Jornalista fascinado por futebol e sempre tentando ver o lado bom das coisas