Após a suspensão conjunta dos principais torneios do futebol inglês, no último dia 13, em razão do coronavírus, uma reunião nesta quinta feira deve determinar a diretrizes a serem seguidas pela Premier League a partir de agora. A expectativa é de que a liga não retorne em 4 de abril, conforme anteriormente acordado. Mas as próximas definições e consequências são ainda bastante incertas.
E se os clubes não chegarem a um consenso, qualquer medida drástica requer a aprovação de dois terços dos membros que integram a primeira divisão. Nesse contexto de incertezas, a PL Brasil explica as quatro alternativas mais prováveis e quais seriam seus principais impactos.
- PL BRASIL RESPONDE #13 | SELEÇÃO DA PREMIER LEAGUE 2019/2020
1. Finalizar a atual temporada
Sob a perspectiva de preservar a integridade das competições esportivas, finalizar a temporada 19/20 tende a ser prioridade dos clubes. Essa questão é preferência de torcida e imprensa, apesar de não ser unanimidade entre eles. Karren Brady, vice-presidente do West Ham, por exemplo, já se posicionou em sentido contrário.
De qualquer modo, a tendência é de que, pelo menos em abril, as partidas não retornem, nem mesmo de portões fechados. Isso porque a medida, inicialmente adotada nas grandes ligas, não protege atletas, comissão técnica, staff dos clubes e jornalistas da transmissão de coronavírus. Assim, já foi publicamente atacada por jogadores, dentre eles Wayne Rooney.
E se consideradas as três rodadas restantes da Copa da Inglaterra, além das competições europeias, seriam necessárias seis semanas para dar devida continuidade à temporada. Caso a opção fosse finalizar apenas as divisões nacionais, entre três e quatro semanas poderiam ser suficientes.
Por outro lado, ainda não há previsão contundente, tampouco otimista, sobre a contenção do coronavírus na Europa. Assim, no melhor dos cenários, a Premier League 19/20 só retornaria quando se projetava ser o fim da temporada.
Por isso, não se descarta que as disputas relativas a título, classificações e rebaixamentos, sejam decididas em playoffs, entre os times diretamente envolvidos. Desse modo, os torneios em geral poderiam ser concluídos em um menor decurso de tempo.
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Nesse sentido, a já anunciada postergação da Euro 2020, para 2021 também facilita a logística do futebol inglês, que, assim, pode estender-se pelo verão europeu. Contudo, ainda assim, a retomada dos campeonatos certamente afetaria o calendário, o que poderia implicar em alterações estruturais da temporada 2020/2021.
E aqui se cogitam o encurtamento da pré-temporada (embora prejudicial aos atletas), mudanças nas copas nacionais e até mesmo modificação do formato da Premier League (podendo a próxima edição ser disputada, quem sabe, em turno único).
Além disso, também traria consequências aos clubes e jogadores cujo vínculo contratual se encerraria ao término da atual temporada, em junho. Essa é a situação de nomes renomados como Willian, Ryan Fraser e Claudio Bravo. Nesses casos, seria necessária uma prorrogação extraordinária dos contratos, ou os clubes perderiam os jogadores na reta final da Premier League.
2. Declarar a Premier League 2019/2020 nula e sem efeitos
Sim, nessa hipótese as 29 rodadas até aqui disputadas seriam completamente desconsideradas e a atual edição, abandonada, sem produzir quaisquer efeitos. O Liverpool, 25 pontos à frente do Manchester City, segundo colocado – com apenas 30 ainda em disputa – perderia a chance de enfim conquistar a PL.
O torneio também seria encerrado sem clubes rebaixados. Portanto, a Premier League seria reiniciada na temporada 2020/2021, com os mesmos 20 clubes participantes da edição 2019/2020. E isso implicaria diretamente na Championship, uma vez que as equipes estariam privadas de um possível acesso, afetando, consequentemente, todas as divisões subsequentes.
Assim, na prática, 444 partidas de uma liga naturalmente desgastante e cruel (pelo número de participantes, pelo formato e pelas poucas vagas de acesso) teriam sido em vão. E frustrante em especial para a torcida do Leeds United, que, mais uma vez, por pouco ficaria de fora da Premier League. E, neste caso, “injustamente” não seria exagero.
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No mesmo sentido, as vagas às competições europeias da temporada 20/21 seriam, em teoria, atribuídas às equipes se classificaram em 2018/2019. O Leicester de Brendan Rodgers não seria recompensado pela ótima temporada, assim como seria assolado o conto de fadas do Sheffield.
E ainda, se mantida a punição da Uefa ao Manchester City, a vaga na Champions League 20/21 poderia ir para o Arsenal (quinto colocado nacional em 2019). Além disso, o Everton (oitavo colocado nacional em 2019) estaria classificado à fase eliminatória da Europa League, já que o Wolverhampton passaria a ter a vaga direta.
Ademais, nas esferas financeira e legal, as repercussões, além de inúmeras, poderiam ser severas. Isso considerando como poderiam ser afetados os contratos firmados entre liga e emissoras televisivas clubes (envolvendo direitos de transmissão), liga e patrocinadores, clubes e jogadores, clubes e torcedores, entre tantas outras relações.
3. Encerrar a Premier League 2019/2020 com a atual tabela de classificação
Frente à especificidade da Premier League 2019/2020, isto é, a ampla vantagem que o Liverpool abriu na liderança, não seria estranho coroar os Reds com o título inglês – ainda que com nove rodadas em aberto. Pelo contrário, seria a solução mais natural, praticamente não controvertida.
Em contrapartida, a polêmica gerada pelos rebaixamentos de Norwich, Aston Villa e Bournemouth seria tremenda. Isso porque o Aston Villa tem uma partida e dois pontos a menos que o Watford, 17º colocado. Já o Bournemouth seria rebaixado pelo saldo de gols enquanto critério de desempate.
E se observe que a medida de encerrar o campeonato antes que todas as rodadas tenham sido finalizadas contrariaria normas do regulamento da própria liga. Consequentemente, poderia ser confrontada pelos clubes prejudicados perante às cortes esportivas europeias – e, com isso, o risco de afetar as edições subsequentes da Premier League.
De forma semelhante, o Sheffield, com 43 pontos e também com uma partida a menos (justamente contra o Aston Villa) não teria a chance de ultrapassar Wolverhampton e Manchester United, com 43 e 45 pontos, respectivamente. Os Blades poderiam ter garantido vaga direta à Europa League, e eventualmente à Champions League, caso a punição do Manchester City pela Uefa se mantenha.
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No mesmo sentido, o Arsenal, que ainda não jogou partida contra os Citizens, válida pela 28ª rodada, poderia ter chegado a 43 pontos. Em caso de triunfo ultrapassaria Tottenham – e talvez mesmo Sheffield e Wolverhampton – e asseguraria vaga na Europa League.
Para equiparar os clubes em número de jogos, a Premier League até poderia cogitar promover as partidas atrasadas. Contudo, a medida certamente seria alvo de pressão por parte dos clubes, uma vez que, neste exemplo, estariam em disputa, simultaneamente, o rebaixamento do Watford e a não classificação do Manchester United à Champions League.
Outra evidente injustiça seria que os times não enfrentaram duas vezes os mesmos adversários, tornando as pontuações ainda mais relativas. Ainda assim, a medida não seria incomum: foi adotada pela federação chilena, em novembro de 2019, quando onda de manifestações populares tomou o país.
4. Liverpool campeão e nenhum clube rebaixado
A situação mais hipotética de todas é, provavelmente, a mais justa delas. Reunidos os clubes para decidir sobre o futuro da Premier League 19/20, frente ao avanço do coronavírus, a expectativa é de que pouca discussão seria gerada em torno do título do Liverpool.
Já em relação à parte de baixo da tabela, qualquer decisão assertiva poderia ser taxada como parcial, ante a proximidade em que se encontram as equipes. Portanto, cogita-se uma opção mais neutra: nenhum clube rebaixado, com Leeds e West Bromwich (atualmente com 71 e 70 pontos, respectivamente, frente aos 64 do Fulham) conquistando o acesso à elite, que, na temporada 2020/2021, seria disputada por 22 equipes.
Nas demais divisões, o mesmo padrão seria utilizado: nenhum clube é rebaixado, enquanto aqueles que conseguiriam a classificação direta, sem playoffs, dada a tabela de classificação momentânea, seriam promovidos. Assim, Coventry City e Rotherham United, da Terceirona, subiriam à Championshiop, enquanto Plymouth Argyle, Swindon Town e Crewe Alexandra, da Quarta Divisão, ascenderiam à League One.
E segundo Paul Barber, chefe executivo do Brighton, o número de participantes na primeira divisão poderia ser corrigido já na próxima temporada, com quatro equipes rebaixadas e apenas duas advindas da Championship. Por outro lado, há também quem defenda o rebaixamento de cinco times, mantendo-se três os classificados pela divisão de acesso.
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Nessa hipótese, com a Premier League tendo 22 equipes, portanto 42 rodadas, também seria necessário adaptar o calendário. E sendo inviável antecipar o início da temporada, pelas circunstâncias já explanadas, ou mesmo postergar seu encerramento, ante a provável realização da Euro em 2021, remodelar as copas nacionais aparece como opção mais viável.
Por fim, quanto às vagas europeias, a mesma lógica levaria à classificação dos clubes que atualmente ocupam as respectivas posições. Assim, Liverpool, Leicester, Chelsea e Manchester United iriam à Champions League. Para a Europa League, estariam classificados Wolverhampton e Sheffield – e eventualmente Tottenham, a depender do resultado da FA Cup.
Aqui, evidentemente que as situações envolvendo Sheffield e Arsenal – já expostas no terceiro cenário apresentado – com uma partida a menos que Red Devils e Wolves, não seriam evitadas, a não ser que expressamente deliberadas pelos clubes que compõem a Premier League.
Nesse sentido, há ainda a possibilidade, embora dependa estritamente da Uefa, de se aumentar o número de equipes classificadas às fases eliminatórias que antecedem as fases de grupos. Tal medida abrangeria os clubes que ainda tinham perspectivas reais de alcançar as competições europeias.