John Lennon escreveu: “Another year over, and what have you done”. Vamos esquecer o massacre musical de Simone sobre “Então é Natal” e focar na mensagem de final de ano por um segundo. O fim de um ano é também um período de avaliação do que foi feito. E com a janela de inverno se aproximando, os clubes da Premier League precisam analisar cada contratação que fizeram, planejando os próximos movimentos.
A PL Brasil vai facilitar a vida dos nossos amados clubes, e indicar qual foi o melhor jogador em relação ao seu custo-benefício em cada clube.
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Arsenal
Na última janela, os Gunners apresentaram muita movimentação, especialmente saídas. O torcedor esperava uma temporada no mínimo classificatória à Champions League, mas o que se viu até aqui foram desempenhos inconsistentes e abaixo de qualquer expectativa.
Contratações caras como Pépé, que chegou em Londres pela bagatela de 72 milhões, até agora foram sonoras decepções. Mas no mar de confusão em que boia o Emirates, um brasileiro apareceu como um ótimo negócio.
Gabriel Martinelli custou seis milhões aos cofres do Arsenal, e deixou o Ituano como uma promessa ainda sem muito conhecimento público. Contudo, em um semestre tornou-se nome pedido pelos torcedores, e é visto como esperança para um ataque que vive tendo que compensar a fraca defesa Gunner.
Pela competição nacional atuou pouco, com nove partidas, mas apenas dois como titular, totalizando uma média de 32 minutos por jogo e um gol marcado. Mas foi Europa League que o garoto de 18 anos brilhou. Cinco jogos, sendo quatro como titular, sendo três gols marcados e duas assistências.
Seis milhões se tornam ainda menos quando se pensa no valor da próxima transferência de Martinelli.
Aston Villa
É verdade que o torcedor do Aston Villa sabe que o clube não poderia investir pesado em uma contratação que rivalizasse com o Big Six, por exemplo. O Villa seguiu um plano de construção de elenco, trazendo peças relativamente baratas, mas que cobririam as lacunas de seu plantel.
E mesmo que jogadores como Wesley Moraes ainda não tenham alcançados números esperados, outros se saíram bem. É o caso de Anwar El Ghazi, holandês de 24 anos que chegou ao clube de Birmingham por apenas oito milhões de euros, vindo do Lille.
Em 15 partidas, o atacante tem três gols e quatro assistências pela Premier League. Porém, mais importante que o frio dos números são os resultados obtidos. Ghazi tem ajudado a manter os Villains fora do zona de descenso, mesmo que ainda estejam batendo na porta.
Além disso, os oito milhões gastos na sua compra podem ser facilmente revertidos futuramente. Ghazi é jovem, tem algum talento e muito mercado.
Bournemouth
Eddie Howe deve abrir um largo sorriso toda vez que lembra do último jogo contra o Manchester United. E a causa da sua felicidade tem nome, sobrenome, nacionalidade e veio em uma contratação por empréstimo: Harry Wilson.
O atacante de apenas 22 anos deixou o Liverpool na última janela e chegou em Dean Court como uma promessa de bons jogos. Se mostrou muito mais. Com 14 partidas na Premier League, marcou seis gols, e é um dos jogadores com melhores notas gerais da equipe.
O Bournemouth mostra que, com planejamento, é possível manter um clube de forma saudável e funcionando. Os Cherries estão na 14ª colocação do campeonato nacional, e Harry Wilson não esvaziou os cofres do time, mas encheu rostos de alegria.
Brighton
A campanha do Brighton na Premier League é satisfatória dadas as suas limitações. Mas isso não impede que algumas contratações deem errado. Ou certo.
A segunda opção é o caso de Leandro Trossard. Vindo do Genk por 15 milhões de euros, o belga de 25 anos assumiu a ponta esquerda do time com tranquilidade. Não é um craque, mas é competente.
Além disso, seu valor de mercado tem se estabilizado, e é possível que o Brighton consiga vendê-lo futuramente se assim desejar. Trossard anotou dois gols e duas assistências no ano, e tem cada vez mais se colocado como titular da posição.
Burnley
Com finanças parcas, o clube de Lancashire precisou ser cirúrgico nas suas aquisições. Infelizmente nem todas cumpriram as expectativas ainda. Jay Rodriguez, por exemplo, tem feito exibições fracas e marcado poucos gols, sua função principal no time.
Porém, houve uma contratação que se destacou pela eficácia, e ela veio da Holanda. Erik Pieters assumiu a titularidade da lateral esquerda na reta final do semestre e apesar de não ser unanimidade entre os torcedores, ele não compromete a equipe.
Equipe que aliás faz uma campanha surpreendente apesar dos gastos pequenos. O clube está na décima segunda colocação, apenas um ponto longe do Arsenal. E por apenas um milhão e meio de euros, Pieters está fazendo um ótimo trabalho.
Chelsea
Muitos entraves legais impediram o Chelsea de realizar contratações na última janela. Embora isso tenha caído em relação à janela de inverno de 2019, os Blues trouxeram apenas um nome: Mateo Kovacic.
O croata também não foi uma contratação barata: 45 milhões de euros foram dados ao Real Madrid, mas Kovacic está longe de ser um flop. É um bom meio-campista, e é quase sempre titular da equipe.
Defensivamente, o meio-campista é mediano. Números como nove perdas de bola por partida e apenas dois desarmes, e com apenas um gol e duas assistências (e quatro cartões amarelos) tornam difícil afirmar que Kovacic foi uma contratação que fez valer o dinheiro gasto.
Crystal Palace
Jordan Ayew deixou o Swansea afundando rumo à Championship e agarrou-se ao bote do Crystal Palace. Mais inteligente que Jack, manteve-se sobre o bote e flutua tranquilamente na 9ª colocação da Premier League.
Para o time de Croydon, os três milhões de euros pagos pelo ganês podem não ser exatamente troco de bala, mas valeram a pena. Seu valor de mercado estacionou em cerca de oito milhões, o que garante algum lucro futuro para os cofres do Selhurst Park.
Além disso, Ayew consolidou-se como titular da ponta de lança de Roy Hodgson, marcando quatro gols em 15 partidas.
O centroavante de Marseille pode não ser de classe mundial, mas é a definição de custo-benefício que o Palace pôde comprar.
Everton
O Everton, o eterno campeão de taça homônima a si, não tem garantido nem seu infame prêmio. Os azuis de Liverpool tiveram um semestre horroroso, passando inclusive por uma (necessária) troca de manager.
Para piorar, as contratações não foram nenhuma unanimidade. Em matéria de custo-benefício qualquer um afirmaria, ao findar da última janela de transferências, que Moise Kean seria um acerto em cheio. Não foi.
Kean não conquistou a confiança de nenhum dos dois técnicos. É, no máximo, um reserva constante e, recentemente, foi substituído mesmo após entrar no segundo tempo.
Para além do jovem ex-Juventus, André Gomes provavelmente seria o nome mais cotado, já que era um titular estabelecido e um meio-campista competente. Mas teve lesão séria na partida contra o Tottenham.
Porém, nosso prêmio de bom negócio precisa de um lar, e quem o levará será Moise Kean. O italiano é jovem e já demonstrou talento. Além disso, tem valor de mercado de cerca de 40 milhões de euros, e para trazê-lo o Everton gastou apenas 27.
Sendo assim, mesmo em um caso de total decepção com as capacidades do jogador, vendê-lo não será um problema, e o Everton pode recuperar todo seu investimento, e ainda lucrar.
Leicester City
As raposas são animais sagazes. Mas quem diria que também sabem negociar? Ok, nenhum jogador que chegou ao King Power Stadium foi exatamente barato. Mas demonstrações de bons negócios no futebol se fazem dentro das quatro linhas, não no papel.
E dentro das quatro linhas, perto do círculo central, Youri Tielemans tem sido absurdo. Titular absoluto do meio-campo, o belga tem três gols e três assistências na temporada em 17 partidas. E tem apenas 22 anos.
Desempenhos consistentes, grande potencial e valor de mercado crescente. Três itens que fazem de Tielemans uma excelente aquisição dos Foxes. E como se não fosse suficiente, o jogador está em um ótimo ritmo, mantendo a equipe de Leicester na segunda posição da liga.
Liverpool
Os atuais campeões do torneio continental europeu optaram por economizar. Digamos que não fizeram nem a xepa, na verdade, ficaram dormindo abraçados em troféus.
Sem ver necessidade de contratações para o elenco principal, os Reds contrataram apenas um zagueiro para seu time sub-23 (van den Berg) e dois goleiros reservas. Assim, os atuais líderes do campeonato nacional ficarão sem nosso atestado de “bom negócio”.
Manchester City
Os Citizens contrataram pouco, mas procuraram resolver lacunas claras em seu elenco. João Cancelo ainda não se firmou, mas é uma aposta que pode dar certo.
Contudo, o espanhol Rodri já chegou atuando como titular, e assim tem sido em várias partidas. Com valor estipulado em 80 milhões de euros, o City pagou “apenas” 70, e contou com o volante em dois gols e uma assistência. Além disso, tem 90% de eficácia em passes no campo adversário.
Com 23 anos, 1,91m de altura e atuações potentes, Rodri pode não ser só uma boa contratação como uma ameaça à titularidade de Fernandinho.
Manchester United
A chegada de Solskaer ao comando revigorou ânimos, mas também mostrou a fragilidade do plantel.
Com saídas importantes como Lukaku e Sanchéz e uma defesa nada confiável durante a última temporada, os Diabos precisaram parar de amassar pão e ir ao mercado. E nessa conjuntura, trouxeram o zagueiro mais caro do mundo, um lateral extraordinário e um nome surpreendente.
Apesar do lateral direito Wan-Bissaka ser um fenômeno (especialmente na defesa), Daniel James custou apenas 17 milhões, contra 55 do londrino. E por essa bagatela, não se esperava muito do galês. Na verdade, muitos torcedores torceram o nariz para seu anúncio, como se o clube estivesse se diminuindo com tal contratação.
O tempo mostrou que Ole estava certo. Titular mais por necessidade do que por escolha, James soube aproveitar a oportunidade. Veloz, driblador, incisivo e inteligente, o ponta é uma ameaça constante aos adversários, e já soma três gols e seis assistências.
Newcastle
O primeiro semestre de Premier League foi insosso para os Magpies. Apesar de alguns tropeços, se mantém na metade da tabela e não vão muito além disso. As suas contratações são um espelho.
Com ótimas expectativas, Joelinton ainda não se confirmou no duro jogo inglês, e os torcedores tem começado a perder as esperanças no St. James Park. Allan Saint-Maximin foi igualmente decepcionante.
Dessa forma, o Newscastle se mantém no mesmo marasmo. Destaque é, no máximo, para o ponta Saint-Maximin pelo seu valor potencial mais alto do que o gasto em sua contratação.
Norwich
O Norwich é um time que, voltando a Premier League novamente, trouxe expectativas mistas. E as escolhas de seu treinador e diretoria levaram à uma campanha que, embora com ótimas partidas as vezes, mantêm-se na vice-lanterna.
Essas decisões passam pelas contratações também. Tanto que é difícil estabelecer uma verdadeira compra de qualidade na última janela dos Canários. Mais do que difícil aliás.
Os bons nomes do elenco do Norwich não chegaram na última janela, e ninguém irá receber essa honraria.
Sheffield United
Voltando à primeira divisão, o Sheffield estabeleceu como política o fortalecimento. Tem dado certo, já que contrariando a maioria dos comentaristas o clube se mantêm na metade superior da tabela, empatados em pontos com os gigantes do Manchester United.
Uma parte importante dos bons resultados passam pelas pernas de Lys Mousset e Callum Robinson. Jovens, os dois tem mantido o nível de atuação alto, e consequentemente seu valor de mercado.
Embora ambos não tenham sido exatamente baratos eles corresponderam ao investimento, e ainda podem render algum lucro.
Southampton
Primeiro nome na zona de queda, os Saints contrataram pouco, mas contrataram mal. As aquisições de Danny Ings e Djenepo deveriam dar certa tranquilidade ao ataque, contudo transforaram-se em grandes falhas até agora.
A torcida ainda possui alguma fé nos jogadores (que são relativamente jovens) mas a paciência há de acabar. Para piorar, o valor de mercado de todas as contratações da última janela caiu. Isso pode afetar as finanças do clube inclusive em caso de queda e de um planejamento de retorno à Premier League.
Tottenham
Depois de algum tempo sem compras em prol da construção de seu estádio, os Spurs abriram a carteira. Mas só um pouco. Com uma política clara de contratação de jovens para o elenco, o clube trouxe poucos nomes, mas todos com uma boa expectativa.
Contudo, as lesões dos recém-chegados Giovanni Lo Celso e Ryan Sessegnon os tiraram de qualquer análise válida sobre qualidade de negócio. Para piorar, o desempenho geral da equipe ficou abaixo do esperado, culminando na demissão de Pochettino.
Após a chegada de José Mourinho os Spurs voltaram a ganhar, mas o único nome utilizado que chegou na última janela é Tanguy Ndombelé.
Felizmente, suas atuações são suficientemente competentes para credenciá-lo à nossa honraria, e seu valor de mercado permanece acima do que o Tottenham pagou. Isso é lucro. E todo time precisa.
Watford
Pobre torcedor dos Hornets. Com míseros nove pontos em 17 partidas, o time amarga a lanterna da Premier League, e não parece melhorar. Situação triste para um clube que manteve bons resultados nos últimos anos.
Financeiramente, a melhor contratação da última janela dos Golden Boys foi Danny Welbeck. Avaliado em 12 milhões de euros, ele chegou de graça após o término de contrato com o Arsenal. Todavia, o inglês pouco foi utilizado, e por isso não merece nosso prêmio.
De fato, a temporada do Watford o descredencia à uma seleção deste tipo.
West Ham
Existem jogadores que dão prejuízo. Existem jogadores que dão lucro. E existem jogadores que se pagam. Sébastien Haller pertence à terceira categoria.
A temporada dos Hammers não possui muito brilho, e o estacionamento na 15ª posição destaca isso. Mas o centroavante francês tem contribuído bastante. Com cinco gols e uma assistência, Haller participou de 16 jogos na temporada, geralmente permanecendo durante os 90 minutos.
Seu valor de mercado permaneceu na casa dos 40 milhões de euros, e para muitos isso pode significar uma contratação no mínimo eficiente.
Wolverhampton
Às vezes, o melhor negócio está abaixo dos nossos narizes. Em alguns casos, ele está inclusive dentro da nossa casa. E a aquisição em definitivo de Leander Dendoncker junto à Lazio trouxe segurança para o setor defensivo dos Lobos como poucos poderiam trazer.
Os Wolves vêm performando uma temporada tranquila novamente e, em grande parte, isso se deve a jogadores que permaneceram no Molineux Stadium após 18/19.
Dentre eles, Dendoncker foi peça fundamental. Além disso, sua compra foi realizada por 13,5 milhões de euros, enquanto seu valor de mercado é avaliado em 18 milhões de euros. O Wolverhampton precisa ensinar a alguns clubes como se negocia. E isso não vale só para a Inglaterra.