O Nottingham Forest tem surpreendido a todos na temporada 2024/25 da Premier League. Mais da metade da campanha se foi e o time de Nuno Espírito Santo está em terceiro lugar, empatado em pontos com o Arsenal, o vice-líder.
E apesar de ter gastado muito em janelas anteriores, incluindo as contratações de brasileiros como Danilo e Murillo, o Forest conquistou esse sucesso de forma curiosa: indo contra o padrão da Premier League.
Não querer a bola: uma transgressão na Premier League
A era moderna do futebol é regida pelo sucesso de Pep Guardiola e sua obsessão à posse de bola. É o que grande parte dos times tenta emular e, mesmo que de diferentes maneiras, é o estilo padrão do esporte atualmente.
Inegavelmente é o que dá certo. Com algumas exceções, principalmente em torneios de curta duração, como copas, os times que vencem títulos tendem a ser os que priorizam a bola, pressionam alto e controlam o jogo desta forma.

Isso se tornou tão enraizado na cultura do futebol mundo afora que até mesmo clubes recém-promovidos da Championship querem se manter jogando desta forma. Foi o que aconteceu com o Burnely na temporada passada e o que curiosamente faz o Southampton atualmente.
Mas o Nottingham Forest superou todas as expectativas na atual temporada fugindo completamente dessa ideia.
É um time que quase odeia estar com a bola, principalmente perto do seu próprio gol.
E é uma equipe que não vê nenhum problema quando seu adversário tem a bola — não vai querer recuperá-la imediatamente. E isso os faz um time surpreendentemente focado mentalmente e determinado.
Nottingham Forest sem bola e sem pressa para recuperá-la
O que mais diferencia a equipe de Nuno Espírito Santo é um obviedade: sua média de apenas 39,2% de posse de bola na Premier League nesta temporada, a menor de todos os 20 clubes.
Os recém-promovidos Leicester (45%) e Southampton (52%) têm a bola muito mais tempo, mesmo em condições mais adversas.
Mais do que não ter a bola, é como começar seu ataque: as sequências de passes do Forest começam, em média, a apenas 39,2 metros de sua própria linha de gol.
Isso significa que é um time que não gosta de sair curto nem de manter a bola perto do seu próprio gol.

E essa característica anda ao lado de uma outra tendência do futebol moderno que a equipe não segue: a de pressionar alto. O Forest não avança para pressionar e recuperar a bola — e tudo bem o oponente ter a posse no seu próprio campo.
A equipe tem 16,2 passes do adversário por ação defensiva (PPDA), o número mais alto da liga. Isso significa que o Forest permite que seus oponentes façam 16,2 passes, em média, antes de tentarem dar o bote para recuperar a bola. Geralmente, é um número que ilustra times passivos.
E ainda assim, curiosamente, é uma equipe que marcou sete gols após roubos de bola no campo adversário — mais do que qualquer outra na Premier League. Isso destaca como são eficientes e rápidos ao recuperar a bola quando o fazem.
Um grupo retranqueiro e de caneleiros? Negativo
Os debates sobre estilos, quando discutindo equipes rotuladas como “defensivamente sólidas” e não pressionam tão alto, faz com que estes grupos sejam vistos como “chatos”, retranqueiros e desatualizados.
Mas quem assiste ao Forest percebe que não é nada perto disso que ocorre. Seu time titular, por exemplo, inclui diversos jogadores técnicos e habilidosos, do ataque até os zagueiros.

Seu jogo ofensivo é mais sobre avançar o mais rápido possível e passar pelo adversário com velocidade e precisão.
Hudson-Odoi, por exemplo tem 17 criações de chances através de condução — apenas cinco outros jogadores da Premier League têm mais. Elanga, por sua vez, lidera toda a liga em média de progresso de condução (15,7m).
Ou seja, seus dois pontas conduzem a bola por muitos metros, com muita qualidade e geram diversas oportunidades de gol sem necessariamente tocar a bola com tanta frequência.
Centroavante “duro” também ajuda
Mas a progressão da equipe de Nuno Espírito Santo não se limita aos dribles de seus jogadores de frente. O Forest é o quarto time com mais lançamentos no campeonato: 11,6% dos seus passes são dessa forma.
Isso ocorre também por conta da característica do seu centroavante, Chris Wood. Um grandalhão forte, pouco móvel e que é uma ótima referência para lançamentos da defesa e na área,

Desde que Nuno foi contratado, apenas Alexander Isak e Erling Haaland (25 cada) superam os 23 gols de Wood na Premier League sem contar pênaltis.
Além disso, ninguém chega em sua positiva taxa de conversão dos chutes: 33,3% das finalizações de Wood vão para o gol.
Nuno Espírito Santo criou um time veloz, habilidoso, forte em todos os setores do campo e reuniu jogadores com grande capacidade de condução e contenção. A soma disso? Uma equipe que não faz questão da bola e que gera tanto entretenimento quanto — ou até mais — aquelas que dominam o jogo com a posse.
*Todas as estatísticas citadas foram coletadas antes do início desta rodada