É consenso: A Inglaterra e o mundo alcançaram o Brasil por alguns motivos

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Impressionante — estou brevemente em Londres — como a data Fifa é vista aqui como uma chatice, interrompendo o fluxo da temporada. 

Mas finalmente o público inglês se deu conta que no sábado tem um jogo contra a seleção brasileira — e tem um debate que está rolando agradavelmente na mídia por aqui — pode ser, pela primeira vez na memória, que o elenco inglês está melhor que o brasileiro, que há poucos jogadores do Brasil que teriam condições de ganhar uma vaga na seleção inglesa.

Uma expressão da arrogância inglesa? Pode ser. Mas lembro que, dez dias atrás, quando estava no Brasil, a mídia brasileira estava chegando à mesma conclusão.

Considerando Neymar por enquanto fora do combate, quantos comandados de Dorival Júnior (incluindo nomes não presentes no sábado) teriam um lugar no time de Gareth Southgate? Ederson ou Alison? Sem dúvida. Marquinhos? Também. Vinicius Junior? Claro. 

Na briga, talvez Gabriel Magalhães, Lucas Paquetá, Rodrygo, Gabriel Martinelli. Os novos volantes? Melhor esperar até sábado à noite para responder — trata-se de um jogo importante para eles, especialmente na ausência dos melhores goleiros e zagueiros.

Mas, pelo menos antes do jogo, acredito que tem um consenso nos dois lados do Atlântico que um time conjunto ia ter mais ingleses que brasileiros, e que isso é uma coisa inédita. 

Alexander-Arnold Inglaterra
Alexander-Arnold em jogo da seleção inglesa. Foto: Icon Sport

Mas vamos puxar o exemplo daquela eliminação contra a Bélgica nas quartas de final de 2018.  Teve um jogador no campo tipicamente sul americano — baixo centro da gravidade, difícil de parar até com faltas, imprevisível, maravilhoso em situações de um contra um. O nome dele era Eden Hazard.

A Europa aprendeu a desenvolver talentos. O declínio do Brasil pode ser um pouco absoluto, mas acho que é mais relativo.  Outros estão fazendo coisas que antes pareciam monopólio do Brasil.

A Europa, então, está sabendo desenvolver talento individual.

Lembro daquela semifinal da Copa do Mundo Sub-17 de 2017 quando os defensores do Brasil não conseguiram chegar perto de Phil Foden nem para jogar areia na sua bunda. 

Novos tempos, quando o futebol inglês é capaz de produzir jogadores assim. E além disso, a dinâmica de concorrência traz novidades coletivas, num processo de ação e reação. 

A posse de bola de Guardiola inspira o chamado “gegenpressing” de Klopp que, por sua vez, inspira a escola de De Zerbi, com meio campos flexíveis para vencer a pressão e criar situações de contra-ataque.

Tudo isso tocou pouco o futebol brasileiro por causa de uma série de fatores: o calendário principalmente, com um excesso de jogos e viagens e uma falta de tempo para tentar coisas novas, especialmente num ambiente em que o técnico nunca tem emprego seguro. Além disso tem o calor e a baixa qualidade de gramados.

Inglaterra Rice
Rice, do Arsenal, pela seleção inglesa. (Foto: Icon Sport)

O desafio de Dorival Júnior agora é justamente virar global. 

As suas muitas décadas no futebol são limitadas ao Brasil. Tem um mundo lá fora querendo superar a sua seleção. A pequena Bélgica teve um Hazard, e o Brasil não. A pequena Croácia teve um Modric, e o Brasil não. A seleção inglesa tem Kane, Bellingham e Foden e outros. 

Ficou mais difícil o Brasil ser campeão mundial. Mas não impossível.

As linhas entre sucesso e fracasso são bem próximas. Com mais sorte, o Brasil poderia ter sido campeão em 2022, talvez até em 2018. Estava na briga. O elenco do Dorival não está sem qualidade, longe disso. Talvez a sua tarefa mais importante agora é conquistar Vinicius e os outros que jogam nos grandes clubes na Europa. 

Eles jogam com e contra os melhores do mundo, e são bem cientes da realidade global. Neste sentido, tem mais experiência que o próprio técnico. Antes de falar, o Dorival Junior vai ter que ouvir bastante.

Inglaterra em jogo das Eliminatórias. Foto – Icon Sport
Tim Vickery
Tim Vickery

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos de Tottenham Hotspur.