Quando as câmeras foram buscar a imagem de Sir Jim Ratcliffe sentado ao lado de Sir Alex Ferguson nas tribunas do Old Trafford na partida contra o Tottenham, os torcedores do Manchester United suspiraram. Um misto de esperança, alegria, receio, desconfiança.
Era a primeira vez que o empresário inglês, com uma fortuna avaliada em mais de 20 bilhões de dólares, comparecia a um jogo dos Red Devils desde que sua proposta de compra de parte das ações do clube foi aceita pelos atuais donos.
E lá estava ele, trocando figurinhas com o maior ídolo da história do United. Bom sinal. E não foi o único.
Há motivos para acreditar que os tempos sombrios sob os mandos e desmandos da família Glazer, dona do clube desde 2005, estão próximos do fim.
Antes do jogo, o empresário inglês, nascido em Manchester, chamou um pequeno grupo de jornalistas para uma espécie de apresentação oficial. Na sala de imprensa, onde o técnico Erik Ten Hag concede as entrevistas coletivas, ele falou por cerca de cinco minutos.
Bem-humorado, disse que Paul Scholes e Eric Cantona são seus jogadores favoritos na história do clube, afirmou que este trata-se do maior desafio da sua carreira (lembrando que ele tem 71 anos e hoje é CEO da Ineos, uma das maiores produtoras químicas do mundo) e que não pode falar muito sobre os planos até a compra ser aprovada pela Premier League.
Ou seja, antes mesmo de virar um dos sócios, já fez mais que os Glazers em quase 20 anos. Os norte-americanos são tão reclusos e vivem tão longe da cidade do norte da Inglaterra, que tem muito torcedor que não os reconheceria se os encontrassem na rua.
O encontro com entidade de torcedores do Manchester United
Já na segunda-feira, Sir Ratcliffe se encontrou com os líderes da Manchester United Supporters Trust (MUST), entidade que reúne vários grupos de torcidas organizadas do clube, para se apresentar e, principalmente, ouvir o que eles tinham a dizer.
Mais uma vez: algo impensável até pouco tempo atrás.
A MUST soltou um comunicado dizendo que o encontro foi produtivo, que eles conseguiram explicar quais são as prioridades para os torcedores, inclusive entregando o rascunho de um plano para fazer o Manchester United voltar ao caminho da glórias.
Claro que tudo isso não garante nada. Pode ser somente uma maneira de ganhar a confiança dos torcedores, de tentar se mostrar simpático, ou apenas formalidades, algo que os ingleses adoram. Mas o experiente empresário está visivelmente, já desde o começo, tentando mudar os ares do clube.
Ele quer mostrar que será muito mais próximos dos fãs, que afinal são o principal ativo da instituição. Eles passarão a ser ouvidos e a participar das decisões mais importantes, afirma o provável novo dono.
Ratcliffe e o olhar atento para o criticado Old Trafford
Falta falar sobre a que tenha sido, talvez, a reunião mais importante. Também na segunda-feira, Sir Ratcliffe se encontrou com representantes do Conselho de Trafford (distrito) e da Grande Manchester, incluindo o prefeito Andy Burnham.

Foi discutida uma possível reconstrução do estádio de Old Trafford, que realmente está muito, mas muito defasado em relação às modernas arenas como a do Tottenham, do Arsenal e do Manchester City.
Além disso, conversaram sobre como o clube pode se envolver mais com a comunidade local, seja realizando obras no entorno do estádio, ou com a realização de programas e eventos. Essa tem sido uma exigência das prefeituras e governos locais quando um estádio é construído ou remodelado.
Ou seja: o homem realmente está levando a sério a necessidade de melhorar a estrutura do clube, e aparentemente está com pressa para resolver a situação. Já se reuniu com autoridades antes mesmo de ser oficialmente um dos donos do Manchester United.
A compra de 25% das ações pelo empresário inglês ainda depende da aprovação da liga. O caso deve ser resolvido até o próximo mês. Ninguém acredita que haverá qualquer tipo de problema.

Mesmo tornado-se sócio minoritário, Sir Jim Ratcliffe terá controle sobre todas as decisões esportivas. E isso, por si só, já é motivo para os torcedores do United terem esperança. Eles estão cansados do “negócio”, do dinheiro ser sempre colocado na frente do projeto esportivo. E parece que há muito tempo nenhum dirigente tem o mínimo de conhecimento sobre futebol.
Um exemplo de como tudo que envolve os Glazers é cercado de burocracia: eles contrataram um grupo de 56 advogados para analisar a compra de 25% do clube por Sir Ratcliffe. Teve advogado de Nova Iorque, Washignton, Manchester, Bruxelas… Quem pagará a conta? O próprio clube, é claro. Aliás, nada novo no front.
A família Glazer comprou as ações do Manchester United utilizando um empréstimo, e com uma manobra fiscal, passou a dívida para o próprio clube. Já começou tudo errado.
No domingo, na partida contra os Spurs, mais uma vez a torcida gritou “Glazers out”. Na saída de campo dos jogadores, uma faixa com os mesmo dizeres estava estendida bem do lado da entrada do túnel. Os fãs estão cansados,. Mas agora há esperança. Sir Jim Ratcliffe ainda nem começou, mas por enquanto, está fazendo tudo certo.