Sabe aquele John Textor falastrão? Aquele que acusa times e jogadores de manipularem resultados de partidas, dá declarações polêmicas, esbraveja para as câmeras ao final de jogos dizendo que seu clube foi roubado, e até participa de CPI’s?
Pois é, esse cara aí, existe só no Brasil. Na Europa, John Textor é uma pessoa completamente diferente.
O empresário norte-americano de 58 anos de idade virou o acionista majoritário do Crystal Palace em agosto de 2021 e divide o clube com outros três proprietários.
Os acionistas do Crystal Palace
- John Textor, hoje, possui 45% do clube;
- Josh Harris (18%);
- David Blitzer (18%);
- Steve Parish (10%).
Mas Textor pouco aparece em Londres. Raramente concede entrevistas. É um dirigente tão discreto, que boa parte da torcida, uma das mais fanáticas da Inglaterra, sequer conhece o seu rosto ou voz.
O que os torcedores do Crystal Palace pensam sobre Textor
Antes do último jogo do Crystal Palace resolvi perguntar para o torcedores o que eles achavam de Textor. Algumas das respostas:
— Não sei muito sobre ele, para ser sincero. Conheço a aparência, reconheço a voz se ouvir, mas é só. Não aparece nos dias de jogos, não dá entrevistas, então não tenho como dizer muito sobre ele.
— Textor nunca está por aqui, para ser sincero. Não o conheço muito bem. Os donos têm sido uma porcaria nos últimos tempos, ele é apenas mais um caso.
É possível dizer que, em quase três anos como dirigente aqui na Inglaterra, John Textor deu apenas duas declarações levemente controversas.
As aparições de John Textor na Inglaterra
No início do mês passado, criticou as rígidas regras financeiras da Premier League, afirmando que elas foram feitas apenas para impedir que os clubes mais modestos possam investir dinheiro suficiente para conseguir bater de frente com os times grandes.
— Não importa se você é um empresário com um bilhão de dólares, em dinheiro, em um carrinho de mão. Você não tem permissão para gastar esse dinheiro – disse o afortunado dono de Botafogo e Palace.
Ele disse isso depois que a liga tirou seis pontos do Everton por violar as regras de rentabilidade e sustentabilidade. Mais tarde, o Nottingham Forest também foi punido pelo mesmo motivo.
Em outra entrevista, concedida para “BBC”, o dono do Botafogo disse “não se preocupar” com os protestos que os torcedores vinham fazendo nos jogos do Crystal Palace, cobrando mais profissionalismo e transparência dos dirigentes. Em uma faixa estava escrito:
Ele disse que não precisa que os torcedores confiem nele, ressaltando tratar-se do proprietário majoritário do clube, mas que possui uma equipe competente que toma as decisões do dia-a-dia.
Encerrou falando que o CRYSTAL PALACE É A PRIORIDADE DELE. A própria BBC classificou a conversa como uma “rara e reveladora entrevista”.
E só. Você não conseguirá encontrar algo mais polêmico do que isso. Na Inglaterra, a visão geral entre torcedores e jornalistas é de que ele é uma pessoa reservada, que não gosta de aparecer. Quase todos têm também a impressão de que ele gostaria de ter uma parte ainda maior das ações do clube, mas isso é algo que Textor nunca confirmou.
O motivo para tamanha diferença, para mim, parece óbvio.
Se Textor fizesse na Inglaterra metade das acusações que fez no Brasil, sem apresentar provas logo em seguida, seria severamente punido.
E, ainda mais importante: não teria o respaldo de ninguém, nem dos torcedores do seu próprio clube. O norte-americano sabe que aqui tem de falar mansinho. Medir as palavras. Sabe também que os donos de todos os outros clubes são extremamente discretos e avessos à entrevistas. Não teria como ser o único diferente.
O mesmo se aplica para os outros times que possui na Europa. Na França e na Bélgica, onde é dono respectivamente do Lyon e do Molenbeek, Textor é tão reservado quanto na Inglaterra.
Mas, sabe como é né? No Brasil ele pode falar o que quiser!
Tem confiança para acusar, xingar e gritar. Sente-se tão livre que pode até tirar sarro da pergunta de um senador da república! Alguém acha que ele teria a mesma coragem estivesse em uma comissão no Parlamento Britânico?