Atenção para o alerta de choro. Eu não me contive. Inclusive, enquanto escrevo este texto, escorreram mais algumas lágrimas. E a culpa é do Liverpool, um clube que definitivamente entende o real significado de comunidade e de como deve tratar o seu torcedor.
Acabo de ver a história do menino Dáire, irlandês de 12 anos que nasceu com a Síndrome de Crommelin, uma doença raríssima que afeta menos de 10 pessoas em todo o mundo. Ele não tem os braços e o fêmur nas duas pernas. Sua locomoção está restrita à cadeira de rodas desde o dia 1.
Fascinado pelo Liverpool, o menino de Monaghan, condado irlandês com 64 mil habitantes, viralizou ao visitar Anfield Road pela primeira vez num jogo de Premier League em setembro. Seu momento favorito foi a tradicional canção “You’ll Never Walk Alone”, que logicamente tem muito a ver com a sua condição.
O vídeo chegou ao clube, que então o convidou para conhecer as instalações, o técnico Jürgen Klopp, o seu ídolo Luis Díaz… e o resto é mágica.
Por isso, se você não quiser se emocionar, recomendo que pare por aqui.
(O vídeo publicado pelo Liverpool tem apenas legendas em inglês. Neste caso, fica aqui registrada a minha única corneta ao clube nesta coluna).
O Liverpool e o senso de comunidade
O Liverpool é um clube global. Disputa a Premier League, joga a Liga dos Campeões com alguma frequência (a conquistou pela última vez em 2019 e foi finalista em 2022) e tem uma torcida espalhada por todos os continentes.. Mas é um dos poucos que entende o seu tamanho e a sua significância.
E isso é absolutamente invejável. Especialmente em tempos de artificialidade, de arquibancadas ocupadas por turistas, de quem costuma só olhar pelo prisma mercadológico. Os valores contam, e muito, para a grandeza de uma instituição.
Dáire define o Liverpool como o seu melhor amigo. É uma frase simples com um significado profundo, afinal, ela faz um enorme sentido literal.
Se você é apaixonado por futebol como eu, certamente passou muito mais tempo ao lado do seu time do que dos seus grandes amigos. E a conta vai muito além dos 90 minutos. É sobre consumir informações o tempo inteiro e terceirizar a sua felicidade momentânea. Se o clube está feliz você também está, mesmo que por um instante.
E aí eu me peguei pensando em outro trecho do vídeo. Dáire e Klopp conversam sobre emoções, e o menino lembrou de quando essa relação começou: na semifinal da Champions de 2018/19, contra o Barcelona, aquela da virada por 4 a 0 depois de levar um 0 a 3 na ida.
Klopp deu uma risada característica e falou que há coisas mais importantes que o futebol (frase que já ouvimos muito por aí), mas destacou a relevância dos momentos. E, em alguns momentos, não há nada mais importante do que o futebol.
“Uma vida sem emoção, imagine o quão chato seria”. Palmas também para Klopp, um sábio homem nas palavras e nos gestos.
No fim, eu mal consigo imaginar o que Dáire vivenciou. Um garoto que leva a vida com ternura quando teria inúmeros motivos para se queixar. Que tem no futebol um escape para os muitos problemas diários. E que tem, no Liverpool, mais do que um ombro.
Neste vídeo, o Liverpool mostrou que torcer é muito mais do que um estádio lotado ou uma TV ligada. E de um simples gesto, um convite para conhecer o clube, saiu uma grande história que fez o meu dia.
Como diz o clichê, nunca é só futebol. Fica o exemplo para nós, brasileiros.
Obrigado aos envolvidos.