Semifinais de Champions League e nenhum time da Premier League! E somente o Aston Villa vivo em uma das três taças continentais. Uma decepção para os clubes ingleses? Sem dúvida. Um fracasso para o futebol inglês? Nem tanto.
Focando no prato principal, a Liga dos Campeões, podemos puxar o exemplo de Jude Bellingham, dono de uma primeira temporada extraordinária com o Real Madrid.
O Borussia Dortmund tem o Jadon Sancho de volta depois de seu inferno pessoal no Manchester United.
E o Bayern de Munique, claro, tem a dupla que saiu do Tottenham: o craque Harry Kane e o versátil Eric Dier. E também tem Jamal Musiala.
Musiala! Mas ele não é alemão, nascido por lá e representante fiel da sua seleção? Tudo verdade. Mas também é verdade que, em termos futebolísticos, ele é um produto da Inglaterra.
Musiala: um alemão que é exemplo do sucesso inglês na Champions League
Musiala mudou-se para a Inglaterra com apenas sete anos. Desenvolveu por lá, brevemente com o Southampton e durante oito anos com o Chelsea. Defendeu a seleção inglesa nas categorias sub-15, sub-16, sub-17 e até sub-21, e parecia certo que os Three Lions seriam sua escolha definitiva, até (tudo no direito dele) resolver trocar em 2021 e virar alemão.
Nesta altura, já tinha voltado para a terra natal. Foi para o Bayern quase dois anos antes — que, de fato, o faz pertencer à mesma onda de Bellingham, Sancho e alguns outros. Adolescentes produtos do futebol inglês, eles analisaram o cenário e chegaram a conclusão que a melhor maneira de virar titular de um clube expressivo e estabelecer a carreira era migrar para outro país.
As grandes forças da Premier League — como o Chelsea de Musiala — estavam tão cheias de craques oriundos dos quatro cantos do mundo que seria fácil demais ficar encostado, esquecido.
Também, alguma coisa está dando certo dentro do futebol inglês se jogadores de essa categoria estão sendo produzidos. Apesar da chegada de tantos estrangeiros, muitos valores ingleses jogam na Premier League. Vale a pena destacar que o time do Manchester City que venceu o Fluminense, na final do Mundial, teve cinco titulares locais.
Tenho que me declarar um pouco surpreso com isso. Há vinte anos, não esperava que isso fosse acontecer. Achava que as ‘academies’ — como se chama por lá as categorias de base — seriam capazes de produzir atletas, mas não artistas.
Me enganei, felizmente.
Poucos meses atrás vi o Diego Latorre, ex-jogador e o melhor comentarista argentino, descrevendo a nova safra inglesa como verdadeiros jogadores de bairro, com habilidades de improviso e engano.
Imagino que deve ajudar bastante o fato de que hoje em dia a criançada está assistindo, e tentando imitar, um tipo de futebol muito diferente da minha infância, tantas décadas atrás. Fora a época da Copa do Mundo, a gente só via futebol inglês mesmo.
Houve, sim, jogadores habilidosos. Mas durante vários meses os campos eram lama pura, um fator nefasto que tende a reduzir o jogo a uma batalha física.
✅ Provocou
✅ Pegou o pênalti
✅ Provocou mais
✅ Quase foi expulso
✅ Pegou outro pênalti
✅ Provocou de novoE o Aston Villa é semifinalista da Conference League!
É um inferno bater pênalti contra o Dibu 🤫😂 pic.twitter.com/kW91ZXGiLz
— PL Brasil (@plbrasil1) April 18, 2024
Com 9 anos, eu lembro de gente fascinada com as cobranças de falta de Rivelino na Copa de 1974. Nós não tínhamos imaginado fazer uma coisa dessa, chutar no gol com tanto efeito na bola. Para nós, a cobrança de falta não passava de mais uma oportunidade para jogar a bola na área e brigar pelo alto.
A juventude contemporânea tem uma outra relação com o jogo. Conhece o melhor do futebol, e quer fazer parte do espetáculo. Parece que tem gente trabalhando nas ‘academies’ com a competência de lapidar as promessas que pintam.
Então, se tiver gol ou grande jogada nos próximos dias de Bellingham, Sancho e Musiala, não vão ter somente alemães e espanhóis comemorando. Ingleses também fizeram parte das suas formações.