Tottenham e Arsenal promovem mudanças que podem esfriar ainda mais atmosfera nos estádios

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Nesta quarta-feira, o Tottenham divulgou os valores dos planos de sócio-torcedores para a próxima temporada. Um aumento de 6%. A partir de 2024/25, o valor mais barato para um adulto virar membro é de 856 libras (R$ 5,4 mil). O mais caro é de 2.367 libras (quase R$ 15 mil).

E aqui, vale deixar claro: esses preços são única e tão somente para você ser sócio-torcedor. Sua cadeira estará lá, disponível em todos os jogos. Mas, claro, ainda é preciso desembolsar os valores dos ingressos.

No caso do Tottenham, os tíquetes da Premier League são divididos em três categorias:

  • A, os mais caros, com seis times (Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester United, Manchester City e Newcastle)
  • B, ingressos intermediários, quando os Spurs enfrentarem nove esquipes também consideradas intermediárias.
  • C, com ingressos mais baratos para jogos diante de apenas quatro clubes.

Se você acha que esse aumento (inclusive, acima da inflação, que está em 5,1% nesse momento) foi bem recebido pelos torcedores, dê uma olhada na conta do X (antigo Twitter) dos Spurs. Ao fazer o anúncio, uma enxurrada de reclamações. Gente dizendo que deixaria de ser sócio-torcedor. Pessoas se sentindo exploradas.

“Roubo absoluto, que piada”, escreveu um deles.

Já existe um movimento tentando organizar uma manifestação antes da próxima partida do Tottenham em casa, que será disputada em 30 de março. Aliás, há torcedores acusando o clube de esperar o momento certo, quando um jogo como mandante acontece só daqui a quase um mês, para fazer o anúncio.

Revolta parecida acometeu os torcedores do Arsenal apenas duas semanas atrás. O clube divulgou o reajuste nos planos de sócio-torcedores para a próxima temporada, com um aumento de 6% nos preços dos assentos das arquibancadas inferior do Emirates Stadium, e 4% das arquibancadas superiores.

Na prática, um acréscimo médio de 100 libras (mais de R$ 600). No caso dos Gunners, os preços passam a variar de 461,5 libras (quase R$ 3 mil) a 2.050,50 libras (R$ 13 mil). A diretoria justificou a decisão alegando precisar arcar com o “aumento dos custos operacionais” do clube.

Não demorou para a Arsenal Supporters’ Trust, uma espécie de consórcio entre as torcidas dos Gunners, se manifestar. Em um comunicado oficial, os fãs afirmaram estar “desapontados pelo fato de a diretoria ter rejeitado o apelo por um congelamento dos preços, considerando que o clube se beneficiará de mais partidas em casa na próxima temporada”.

Tottenham Hotspur v Brighton and Hove Albion Premier League
Torcedores no Tottenham Stadium. Foto – Icon Sport

Ou seja, com mais jogos como mandante, mais dinheiro de bilheteria. Mas isso não foi suficiente para convencer os mandatários a acatarem o pedido de quem, no final das contas, sustenta a entidade.

A grande verdade é que, hoje em dia, está cada vez mais difícil encontrar aqueles torcedores bem raízes nos estádios.

Para alguém mais humilde, já é impossível ver o time de coração jogar. Hoje, até a classe média tem MUITA dificuldade em conseguir bancar um plano de sócio-torcedor mais os valores dos ingressos.

Assistir partidas dos clubes grandes, especialmente de Londres, virou privilégio de ricos e turistas.

Tottenham, Arsenal, West Ham e Fulham (!) possuem hoje os planos de sócio-torcedores mais caros de toda a liga. Diversas vezes fui fazer entrevistas com os fãs antes dos jogos e tive certa dificuldade em encontrar os torcedores que sabem tudo do time, que acompanham o clube do coração desde que nasceram. Era mais gente de outro país do que locais.

Arsenal v Tottenham Hotspur – Premier League – Emirates Stadium
Torcida do Arsenal no Emirates Stadium. Foto – Icon Sport

Não à toa, a atmosfera nas arquibancadas vai de mal a pior. Uma porcentagem cada vez menor sabe cantar as músicas. Uma parcela cada vez maior vai para tirar selfies ou gritar os nomes daqueles jogadores mais famosos. Mas esse é o preço. Para ter as grandes estrelas do futebol mundial, é preciso ter (MUITO) dinheiro.

Para isso, é claro, é necessário ter um valor de ingresso alto.

Troca-se a fidelidade de fanáticos torcedores, pela qualidade daqueles que fazem o espetáculo. Também não à toa, recentemente voltou a crescer o número de pessoas que passaram a ignorar a Premier League, se voltando para as divisões inferiores, que seguem grandes e muito tradicionais na Inglaterra. “Isso é futebol de verdade”, dizem eles. Não consigo discordar.

Renato Senise
Renato Senise

Renato Senise é correspondente em Londres desde 2016. São mais de cinco temporadas cobrindo Premier League e Champions League. No currículo, duas Copas do Mundo “in loco”, além de entrevistas com nomes como Pep Guardiola, José Mourinho, Juergen Klopp, Marcelo Bielsa, Neymar, Kevin De Bruyne e Harry Kane.