Como o inexplicável Real Madrid engrandece a genialidade de Guardiola

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Só um time incrível, comandado por esse gênio chamado Pep Guardiola, consegue bater de frente com o inexplicável Real Madrid por três temporadas seguidas.

Foi eliminado em 2021/22 com um espetacular 6 a 5 no placar agregado. Em 2022/23, empatou uma e venceu a outra por sonoros 4 a 0. E dessa vez, a disputa terminou em igualdade. Empate lá, empate cá.

Vale ressaltar: o Manchester City do passado, que nunca havia ganho nenhuma Champions League e quase não tinha tradição na competição, agora joga de igual para igual com o clube que tem 14 troféus e vence quase todo mundo, em qualquer circunstância.

Quando o Modric perdeu a primeira cobrança, eu pensei:

— Caramba, será que a estrela realmente mudou de lado? City eliminou os caras na temporada passada, e em um momento tão importante, o Modric, um dos caras mais frios e confiáveis da história do futebol, dá uma dessas? Talvez esse time de Pep Guardiola apareceu para quebrar de vez a magia do Real com a Champions.

Mas aí, nas duas cobranças seguintes, o Lunin (!), goleiro que era o terceiro reserva e só começou a ter oportunidades porque Courtois e Kepa se machucaram, vai lá e defende. O Lunin (!), que muita gente apontava como o ponto fraco do time. É realmente inexplicável. Os caras passaram de novo! Mesmo sendo, mais uma vez, dominados por boa parte do tempo. 

Um City incomum contra um Real eficaz

A partida começou com um Manchester City bem diferente do usual. Nos primeiros minutos no Etihad Stadium, era o Real Madrid que tinha mais a bola. O time comandado por Pep Guardiola não apresentava aquela intensidade maluca que geralmente mostra, ainda mais quando joga em casa.

Confesso não ter conseguido identificar se foi realmente uma tática do Pep Guardiola, ou se foi o experiente time merengue que conseguiu esfriar o jogo no início. E logo aos 11 minutos, Rodrygo abriu o placar. E foi isso. Apenas nesses 11 minutos, a partida foi realmente equilibrada, com os dois times trocando posse de bola.

Dali em diante, só deu City. No primeiro tempo, a posse foi crescendo, crescendo, e acabou em 63%. Foram 11 finalizações do City, contra cinco do Real. A grande chance foi a cabeçada de Haaland na trave, com o rebote ainda caindo em cima de Bernardo Silva, que não teve tempo suficiente para conseguir empurrar para o gol. 

Já no segundo tempo, um verdadeiro amasso do time de Guardiola.

Lunin precisou fazer quatro defesas, Ederson nenhuma. O time inglês chutou 11 vezes, sendo que 10 foram de dentro da área. Os espanhóis tiveram apenas um arremate.

Manchester City v Real Madrid – UEFA Champions League – Quarter-Final – Second Leg – Etihad Stadium
De Bruyne empatou o jogo para o City (Foto: Icon sport)

A pressão foi tamanha, principalmente no 25 minutos finais, em que o Real quase não passava do meio-campo. O gol finalmente saiu aos 31 minutos. De quem? Kevin de Bruyne, aquele que tem gente que fala não aparecer em partidas importantes de Champions League.

Pois ele chegou a 21 participações diretas em gols em mata-mata nas últimas 21 edições da competição. Mais do que qualquer outro jogador.

O meia belga ainda teve uma enorme oportunidade de fazer mais um aos 37. Bola veio rolando, dentro da área, do jeito que ele gosta, mas a finalização foi por cima do gol. O segundo tempo acabou com 72% de posse de bola para o time de Pep Guardiola.

Na prorrogação, o City continuou martelando. No primeiro tempo, teve 71% de posse e quatro finalizações. Mas, verdade seja dita, dessa vez a principal chance foi do Real, já no finalzinho. Um lance bem improvável, rebote de um escanteio, que Rudiger acabou aparecendo na cara do gol, mas finalizou pra fora. Nos 15 minutos finais, 59% de posse para o time de Pep, e três chutes contra apenas um do Real. 

A verdade é que o que foi escrito duas temporadas atrás, vale para essa: fosse contra qualquer outro time, com as chances que criou e o domínio jogo que teve, o City teria passado. Talvez até com certa facilidade. Mas esse Real, além de ser bom demais, tem uma estrela inexplicável. Inglaterra fica sem nenhum time nas semifinais. Que venha a próxima temporada.

Renato Senise
Renato Senise

Renato Senise é correspondente em Londres desde 2016. São mais de cinco temporadas cobrindo Premier League e Champions League. No currículo, duas Copas do Mundo “in loco”, além de entrevistas com nomes como Pep Guardiola, José Mourinho, Juergen Klopp, Marcelo Bielsa, Neymar, Kevin De Bruyne e Harry Kane.