Essas foram as palavras de Declan Rice para o assessor do West Ham, quando este interrompeu minha entrevista. Era o início de 2019. A Fifa havia acabado de aceitar a mudança de Rice da seleção irlandesa (que já havia defendido em três amistosos) para o English Team (nascido em Londres, ele podia fazer essa troca).
Minha pergunta, é claro, foi sobre a opção que Rice fez. Como de costume aqui na Inglaterra, o assessor não queria que o jogador falasse sobre um assunto polêmico. Então com 20 anos, a ainda promessa do West Ham fez algo bem incomum. Bateu no peito, educadamente discordou do assessor, e respondeu sem pestanejar:
— Sou descendente de irlandeses, mas nasci na Inglaterra. Nunca foi segredo pra ninguém que amo esse país. Assim que apareceu a oportunidade de defender o English Team, não pensei duas vezes. Serei eternamente grato à seleção irlandesa, mas aqui é a minha casa.
E essa personalidade eu percebo em cada jogo do West Ham. Sempre me impressiono ao vê-lo em campo. A maneira como domina o setor, como lidera o time, como ocupa espaços e parece estar em todos os lugares. Aos 24 anos, joga e age como se fosse muito mais experiente. Não à toa se tornou o capitão do West Ham. Não é coincidência também que levantou um troféu para o time do leste de Londres depois de 43 anos de hiato. Pela seleção inglesa, foi titular da última Copa do Mundo e já tem 44 jogos.
O interesse do Arsenal em Declan Rice
Nesta quinta-feira (15), o Arsenal oficializou uma proposta de 80 milhões de libras por Rice, prontamente negada pelo West Ham. Os Hammers esperam receber 100 milhões de libras, já considerando os bônus previstos em contrato. Mesmo por esse valor, arrisco dizer que, caso se concretize, a transferência já seria a minha favorita para ganhar o prêmio de melhor contratação da temporada 2023/24.
Declan Rice tem exatamente as mesmas qualidades do time que Mikel Arteta construiu: jovem, talentoso, com vigor físico, personalidade forte, lutador. Chega e vira titular absoluto, como primeiro, ou até mesmo segundo homem do meio-campo. E prevejo que, em pouco tempo, já irá carregar a faixa de capitão.
Agora, porém, segundo as últimas notícias dos principais veículos ingleses, os Gunners parecem ter a competição mais próxima do Manchester City pela contratação do jogador.
O valor é alto? Sem dúvida. Mas este é o mercado. Especialmente em se tratando de um inglês, saindo de um time inglês e indo para outro clube inglês. É assim que funciona. O City, por exemplo, pagou 100 milhões de libras no Jack Grealish. Duas temporadas atrás!
Clubes como Chelsea, Manchester United e Bayern de Munique também mostram interesse. E Rice tem lugar em todos eles. Ao West Ham, só resta conseguir a maior quantia possível. O próprio dono do clube, David Sullivan, confirmou que o jogador quer sair e não aceitou a proposta de 200 mil libras por semana de salário. Lembrando que o vínculo vai até o meio de 2024.
Conversando com um amigo torcedor do West Ham, ele resumiu perfeitamente o sentimento: “seremos eternamente gratos pelo que ele fez. A raça que sempre demonstrou. Amor à camisa mesmo. Choramos todos juntos quando ele levantou a taça. E entendo que ele queira sair, é hora de ir em busca de sonhos maiores”.
Declan Rice deixará o West Ham como um ídolo. E se for mesmo para o Arsenal, tem tudo para ser um daqueles raros casos de jogadores que viram ídolos em dois clubes rivais.