Senise: Chelsea tem 18 reforços, 21 negociados, R$ 3,6 bilhões gastos e incontáveis dúvidas

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“Sob nova direção.”

Quando lemos essa mensagem na frente de uma loja, ou restaurante, sabemos que provavelmente vamos encontrar mudanças. Pratos novos, produtos diferentes, uniformes de outras cores, talvez até um nome reformulado para o estabelecimento. Mas nunca vi tanta mudança como no Chelsea de Todd Boehly.

Em menos de dois anos, já são DEZOITO reforços. Mais de SEISCENTOS E CINCO MILHÕES de libras investidos (cerca de 3,6 bilhões de reais, na cotação atual). A lista dos que saíram é ainda maior. VINTE E UM jogadores deixaram o Stamford Bridge. A rotatividade é tão grande que há dois atletas (Koulibaly e Aubameyang) que foram contratados e já saíram dentro desse breve período.

Os números absolutos e valores já são de espantar. Mas, o que mais assusta é que, sinceramente, é difícil saber se, com toda essa movimentação, o time melhorou ou piorou.

Por exemplo:

O goleiro titular de hoje (Kepa), é melhor que o que acabou de sair (Mendy)?

O Cucurella, que chegou por incríveis 57 milhões de libras, é melhor do que o Marcos Alonso, que foi embora de graça?

O Chillwell, que já estava no elenco, não é suficiente?

Mendy e Kepa são os atuais goleiros do Chelsea - Foto: Icon Sports
Mendy (esq.) e Kepa (dir.): o primeiro deixou o clube para o Al-Ahli. O segundo deve ser o titular do Chelsea na temporada (Foto: Icon Sports)

Um ponto positivo é de que o elenco, sem dúvida, rejuvenesceu. Dentre os jogadores que DEVEM ser titulares (impossível cravar o time principal), temos Wesley Fofana (22), Enzo Fernandez (22), Christopher Nkunku (25).

Mas até isso não deixa de ser um pouco impressionante. É muito jogador jovem, sem experiência de Premier League, que vai enfrentar times absurdamente bons e “cascudos” como Manchester City, Liverpool e Manchester United.

Esse elenco está sendo montado pra ser campeão daqui dois, três anos? Sabemos que, se existe um clube onde não se pode passar uma temporada sem título, é o Chelsea. Não seria interessante talvez manter um forte e experiente Kovacic como opção no meio? Até porque, convenhamos, o valor conseguido por ele foi bem baixo.

Chegamos, então, no treinador do Chelsea.

O empresário norte-americano não se deu muito bem com Thomas Tuchel. Não demorou para se livrar do cobiçado técnico que havia conquistado a Champions League pelo clube pouco mais de um ano antes. Trouxe a aposta Graham Potter, que não deu certo. Frank Lampard veio como tampão, e agora Todd Boehly tenta a sorte com Mauricio Pochettino. De novo a pergunta:

Não era melhor ter tentado resolver os atritos com o primeiro (Tuchel), sem dúvida o mais vencedor e experiente de todos?

Não que eu não ache o Pochettino um grande treinador. Longe disso. O trabalho dele no Tottenham, aliás, é dos melhores dos últimos anos no futebol inglês. Mas existirá paciência com ele? Em tempos de crise, quem teria mais bagagem e apoio da torcida, o argentino ou o alemão?

O vendaval no Chelsea é tão forte que, dos clubes da Premier League, é um dos únicos que ainda não oficializou o uniforme novo para a temporada (ocorreram apenas vazamentos). Aliás, não há certeza ainda nem sobre quem serão os patrocinadores principais/minoritários.

Uma coisa é certa: a velocidade e intensidade das mudanças, já fez o Chelsea jogar uma temporada fora. Aliás, o fiasco de 2022/23, é claro, tem impacto enorme na temporada que está por vir, afinal o clube de tantos títulos nos últimos anos, não irá disputar sequer a Conference League.

Pode dar certo em 2023/24? Claro que pode. Qualidade, aparentemente, não falta. Dinheiro, muito menos. Resta saber se Mauricio Pochettino conseguirá fazer Badiashile, Mudryk, Datro Fofana, Madueke e muitos outros jovens jogarem como gente grande. Potter e Lampard não chegaram nem perto!

É muita aposta, mas o dono do clube parece não ter medo de viver perigosamente.

Renato Senise
Renato Senise

Renato Senise é correspondente em Londres desde 2016. São mais de cinco temporadas cobrindo Premier League e Champions League. No currículo, duas Copas do Mundo “in loco”, além de entrevistas com nomes como Pep Guardiola, José Mourinho, Juergen Klopp, Marcelo Bielsa, Neymar, Kevin De Bruyne e Harry Kane.