Seria injusto negar que o Manchester United evoluiu consideravelmente desde a chegada de Erik Ten Hag há um ano. Foi campeão da Copa da Liga Inglesa (apenas o quarto título relevante pós-Alex Ferguson) e encerrou a Premier League com a sua segunda melhor pontuação (75) no mesmo período (desde a temporada 2013/14, um recorte importante para este texto). Tudo isso herdando um time em frangalhos.
Ainda assim, nada indica que os dias de glória estão na próxima esquina.
Podemos apontar muitos culpados nessa história. O principal atende pelo sobrenome Glazers, a família proprietária que, quando se viu obrigada a gerir o futebol na ausência do centralizador Ferguson, tratou de afundar o clube (e agora finalmente está disposta a vendê-lo).
Desde a temporada 2013/14, o Manchester United é o clube inglês com pior net spend, que basicamente é o resultado entre a compra e venda de jogadores.
Se Manchester City e Liverpool tiveram somente dois treinadores cada no período, o United está no sexto: David Moyes, Louis van Gaal, José Mourinho, Ole Gunnar Solskjaer e Ralf Rangnick passaram por lá antes da chegada do carequinha holandês.
Mourinho foi o mais bem sucedido deles ao ganhar uma Copa da Liga e também a Liga Europa. Mas, em 2019, explicou que ter terminado aquela Premier League em segundo (na temporada 2017/18, com 81 pontos) “foi talvez a sua maior conquista”. Talvez nós entendamos melhor agora.
Desempenho do Manchester United na Premier League desde 2013/2014
Temporada | Posição | Pontuação | Pontuação do campeão |
---|---|---|---|
2013/14 | 7º | 64 | 86 |
2014/15 | 4º | 70 | 87 |
2015/16 | 5º | 66 | 81 |
2016/17 | 6º | 69 | 93 |
2017/18 | 2º | 81 | 100 |
2018/19 | 6º | 66 | 98 |
2019/20 | 3º | 66 | 99 |
2020/21 | 2º | 74 | 86 |
2021/22 | 6º | 58 | 93 |
2022/23 | 3º | 75 | 89 |
Ed Woodward, o executivo escolhido para comandar o futebol e realizar contratações (mesmo sem nenhuma experiência), é outro que não pode passar impune. A tabela acima também é consequência das infrutíferas contratações que minaram os cofres do clube. E não foram poucas.
Se apenas as compras fossem um problema talvez eu não estaria aqui escrevendo esse texto. Acontece que o United é também um péssimo vendedor. Southampton, Leicester, Everton e Tottenham fizeram receitas maiores em negociações. De Manchester City, Liverpool e Chelsea, então, nem se fala.
As maiores vendas no período foram Lukaku (74 milhões) e Di María (63 milhões), mas os dois saíram por menos do que chegaram. Abaixo deles estão Mkhitaryan (34 milhões), Daniel James (29 milhões) e Schneiderlin (23 milhões). Honestamente, é difícil imaginar que Woodward trabalhava fazendo dinheiro para a família Glazer e em um banco como JP Morgan.
Woodward saiu do cargo em janeiro de 2022. Certamente não deixou saudades.
A década de descaso comprometeu a qualidade do elenco futuro a ponto de o United ainda ter muitos problemas a resolver, mas com poucas manobras financeiras. Os salários são altíssimos e ocupam boa parte das receitas, enquanto o Fair Play Financeiro está aí, mesmo que as punições praticamente inexistam.
O mercado do Manchester United
Isso significa que a margem de erro é bastante pequena. Para competir pelo título da Premier League ou da Champions League, algo que eu já duvido de largada, o Manchester United precisaria ser certeiro em todas as suas contratações. Onana, Mount, Hojlund e talvez Amrabat melhorariam o time, sem dúvidas, mas não acredito que estejam nessa categoria.
O United também precisa se preocupar com a média de idade do elenco, pensando em como fará para superar Manchester City e, principalmente, o Arsenal daqui a alguns anos. Casemiro e Eriksen já têm 31 anos. Varane (e o reserva Maguire), 30. Luke Shaw e Bruno Fernandes, 28.
Penso que o foco deveria estar em atletas sub-25, como Lisandro Martínez ou o próprio Mason Mount. Nomes que já estão jogando bem o suficiente para disputarem posição, mas ainda com bons anos de auge pela frente.
Além da questão da idade, obviamente há carências a serem resolvidas. As mais urgentes seriam um volante (possivelmente Amrabat), um meio-campista (fala-se em Goretzka, acho difícil) e dois atacantes (um deles é o dinamarquês Hojlund, em que pese os valores absurdos na casa dos 70 milhões por alguém com baixíssima amostragem na carreira).
Mesmo que Ten Hag seja o cara, esse Manchester United não me convence. O passado ainda cobra.